20 de setembro de 2022

A RAINHA E O NOVO REI



 

Recordo-me da vinda da Rainha Isabel II a Portugal, naquele dia 18 de fevereiro de 1957, recebida com grande pompa pelo então Presidente da República, General Francisco Craveiro Lopes, que mais tarde seria marechal.

Tinha ela 31 anos e havia sido coroada há cinco. Viera acompanhada pelo marido, Filipe, Duque de Edimburgo, e a embarcação que os transportava atracou no Terreiro do Paço, repleto de população em festa.

Com ela também vinham os seus filhos, os príncipes Carlos (hoje o novo rei), então com 8 anos, e a princesa Ana, com seis.

Tinha eu, nessa altura, quase onze anos e frequentava a Biblioteca Municipal, onde meu Pai trabalhava, sediada ao Jardim. Deliciava-me então a ver as fotos dos jornais com aquela linda família, assim como as notícias que enchiam as suas páginas. Mas a única revista que ia para aquela Biblioteca Municipal era a famosa extinta Flama, que desfolhava com todo o prazer, a contemplar a reportagem ali inserida deste enorme evento para a época.

A televisão preparava-se então para começar em Portugal, naquele mesmo ano, e o único canal, a preto e branco – RTP – apanha este evento sem material nem quase logística, pois ainda não tinha emissões regulares quando organizou uma grande operação televisiva para acompanhar a visita da monarca inglesa a Portugal.

Bom, mas com tudo o que era possível na altura, depois das honras militares, o cortejo seguiu de coche pelas ruas da cidade de Lisboa, com os acenos e sorrisos da simpática jovem rainha. Visitaria novamente Portugal no ano 1985, já com o nosso País em democracia.

Seria esta figura incontornável da História que viveria um dos reinados mais longos – 70 anos, sendo que o que viveu mais tempo situa-se entre os séculos XVII e XVIII (1643 a 1715) – Luís XIV, da França, com 72 anos. Já em Portugal, o monarca que reinou mais tempo foi D. João I, ele que também casou com uma inglesa, D. Filipa de Lencastre, sendo o seu reinado longevo de 48 anos e 130 dias. Seguiu-se-lhe D. Afonso Henriques, na longevidade, com 46 anos e 132 dias.

Esta grande monarca, que agora deixou o mundo dos vivos, na ordem natural da vida, liderou o Reino Unido e a Commonwealth ultrapassando a bisavó, a rainha Vitória, que teve o peso da coroa durante 64 anos.

“Para a história, além do reinado durante alguns dos períodos mais conturbados do país, de ultrapassar crises (internas, políticas, económicas, familiares) e de deixar a sua marca num legado extenso e completo, Isabel II tornou-se em si mesma um símbolo da nobreza, da realeza global, da graça, de entrega e de dever à Coroa inglesa”, segundo o Correio da Manhã.

Agora, o herdeiro do trono britânico, seu filho Carlos, de 73 anos, que nalguns momentos terá já quase exercido o cargo como regente (na qualidade de príncipe de Gales, assumiu funções oficiais em nome da rainha) sucede, com o seu nome próprio.  Uma decisão que foi uma das primeiras a ser tomada no seu reinado e será Carlos III, ao lado da rainha consorte Camila, esta conforme desejo expresso de Isabel II, há sete meses, deixado em testamento.

A BBC reconhece que a escolha deste nome surpreendeu os britânicos pois acreditavam que viesse a optar pelo título de Jorge VII, em homenagem ao avô, Jorge VI. É que a história por detrás do nome de Carlos não é pacífica no Reino Unido. “Tanto Carlos I como Carlos II foram monarcas com reinados polémicos. Carlos I, que reinou entre 1625 e 1649, foi o único rei executado na História inglesa, em 17 de janeiro de 1649, e liderou os destinos do país durante uma tenebrosa guerra civil” – recorda o The Telegraph, segundo o Público. Já seu filho, Carlos II, é particularmente conhecido da História inglesa pela sua vida íntima que envolve a única portuguesa a ser rainha de Inglaterra, Catarina de Bragança, filha do rei português D. João IV. “Catarina parecia ser a noiva perfeita, dada a histórica aliança entre portugueses e ingleses – até se diz que levou para Inglaterra o hábito de beber o chá da tarde. Mas o casamento não resultaria em filhos legítimos, o que alarmava o Governo preocupado com a sucessão, de cuja esposa não teve nenhum filho, sendo assim substituído por seu irmão Jaime”. D. Carlos II morreria em 1685 sem o problema de sucessão legítima resolvido e a esposa, Catarina de Bragança, “seria devolvida” a Portugal, onde habitou o Palácio de Bemposta, em Lisboa.

Surge agora o novo rei, D. Carlos III (Carlos Filipe Artur Jorge) o primeiro filho da então princesa Isabel, e do marido Filipe, nascido a 14 de novembro de 1948. Foi coroado príncipe de Gales pela mãe aos 20 anos.  Era o herdeiro do trono há mais tempo em funções e o mais velho a ser coroado, aos 73 anos.

Numa narrativa do Público, “a ascensão ao trono do novo rei da Inglaterra e da nova rainha, Camila Parker é um caso de incrível superação de escândalos em que foram protagonistas nos anos 80/90 e de uma recuperação milagrosa de imagem pública, tanto de Carlos como de Camila, outrora odiada pelo povo britânico por ser a ‘terceira pessoa’ dentro do casamento de Carlos e Diana de Gales – como a própria Diana revelou em entrevista à BBC – acabou por se tornar popular, devido à sua dedicação e boa imagem construída ao longo de quase duas décadas de casamento”.

Isto de escândalos de reis e rainhas sempre houve por esses países fora, incluindo Portugal. Atente-se que Isabel II e agora seu filho, Carlos III, só conseguem estar nesta linha de sucessão, devido a um outro “escândalo”, se assim se pode considerar, pelo facto do tio de Isabel II, o rei Eduardo VIII ter abdicado do trono a favor de seu irmão, Jorge VI, pai de Isabel II, para casar com Wallis Simpson, uma americana divorciada do primeiro marido e em processo de divórcio do segundo, gerando a chamada crise de abdicação, ocorrida em 1936.

Esperamos assim que não haja mais escândalos e que Carlos III seja um grande Rei, do Reino Unido e dos Reinos da Comunidade de Nações, em prol do desenvolvimento e da paz quer na Europa quer no Mundo.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

 

(In “O Olhanense”, de 15-09-2022)


 

 

 

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