Embora esta crónica chegue aos
prezados Leitores d’ “O OLHANENSE”, já depois do Papa Francisco ter terminado a
sua viagem a Portugal, no âmbito das JMJ – Jornadas Mundiais da Juventude, ela
foi escrita na segunda semana de agosto, em plena visita papal.
O entusiasmo com que os milhares
de jovens do Planeta se têm manifestado em Lisboa e Fátima, e noutros locais
por onde passaram, leva-nos para um percecionismo de que podemos contar com
eles.
A persistência e a exemplaridade
do Papa Francisco, num trabalho assaz difícil, em que nem a idade o verga, de
que neste quintal planetário – a Casa Comum – cabem todos os humanos,
independente das suas convicções religiosas, cor da pele, e posições políticas,
sem esquecer os deficientes de várias vertentes, muitos deles corajosamente não
vencidos pelas suas situações que vão para além de muitos sem problemas físicos
ou mentais, é deveras notável.
“70 x 7”, expressão que tem
origem na Bíblia, no Novo Testamento, mais especificamente no Evangelho de São
Mateus, capítulo 18, versículo 22, Jesus respondeu a Pedro sobre quantas vezes
ele deve perdoar seu irmão que peca contra ele. E cito: “Então Pedro
aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu
irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: ‘Eu
digo-te: Não até sete, mas até setenta vezes sete’”
Utilizando desta vez a
inteligência artificial via ChatGTP,, vamos acrescentar que a expressão
“setenta vezes sete (70x7) é simbólica e não deve ser interpretada literalmente
(aliás como é óbvio) como um cálculo matemático. Ela expressa a ideia de um
perdão abundante, ilimitado e generoso, enfatizando a importância da
misericórdia, compaixão e reconciliação no cristianismo. Na religião católica, essa
passagem é frequentemente utilizada para ensinar sobre a importância do perdão
mútuo entre os fiéis, refletindo a atitude de Deus em relação ao perdão dos
pecados da humanidade. Portanto, o “70 x 7” na religião católica é uma
referência a ensinamento de Jesus sobre o perdão contínuo e generoso que os
cristãos devem praticar em suas vidas”.
Após o términus destas Jornadas
Mundiais da Juventude, e depois de apurados todos os resultados dos prós e dos
contras, pensamos que o país ganhou com estas Jornadas já que, conforme referiu
Marcelo Rebelo de Sousa, “mais de um milhão de peregrinos é uma loucura. É uma
coisa nunca vista em Portugal, é irrepetível”. Sobre o impacto da JMJ em si,
Marcelo disse que “vê mais valor no evento, como Presidente, porque o país dificilmente
terá um evento como este”. A Coreia do Sul recebe a próxima Jornada Mundial da
Juventude.
Antes da vinda do Papa Francisco
a Portugal já vários processos judiciais canónicos foram resolvidos,
resultantes de abusos sexuais de menores, muitos deles com absolvição.
Estes abusos praticados na Igreja
parece-me, na minha opinião, que não terão sido levados em conta, pelos
cardeais e bispos portuguese, na rigorosidade do Papa Francisco, na evidência
dos relatos dos ofendidos.
Voltei a reler há poucos dias, na
Comunicação Social, o caso de um Bispo apanhado nas redes do crime da
pedofilia, que viveu no silêncio do refúgio no Alentejo, sendo depois acolhido
na residência dos salesianos, em Lisboa. Foi aqui que, em plena pandemia, no
ano 2020, foi notificado da pena canónica imposta pelo Dicastério Para a
Doutrina da Fé. Assim, Carlos Ximenes Belo (antigo Prémio Nobel da Paz!!!)
perdia a dignidade de bispo, mas continuava autorizado a exercer o ministério
sacerdotal. Só que ainda não tinham chegado ao Vaticano os relatos das
aventuras de Ximenes em Moçambique. Viria então um maior castigo canónico, o
segundo. Desta vez, em novembro de 2021, o Dicastério para a Doutrina da Fé,
retirou-lhe o múnus sacerdotal. O então padre Ximenes foi reduzido ao estado
laical. “Passou de pastor – voz heroica da Igreja na luta pela independência de
Timor-Leste, à condição de ordinária ovelha negra entre o vasto rebanho
apostólico romano.”
Agora, simples leigo, sem
rendimentos para se poder governar, direcionado para a miséria. Cumpre o
castigo com tanta humildade que nem se dá por ele nas ruas de Mogofores, uma
pequena aldeia que só nos meses de verão tem alguma agitação. Impôs-se à
clausura das quatro paredes dum quarto donde sai apenas para tomar as refeições
do dia.
Lamentavelmente, os bispos
portugueses sabiam disto.
Pela minha Diocese - a da Guarda,
também se passaram coisas altamente desagradáveis com a denúncia de abuso
sexual de menores. Um padre que fora vice-reitor do antigo Seminário do Fundão foi
condenado a dez anos de prisão e reduzido à vida laical, hoje ajudante de
cozinha num restaurante. Lamentavelmente sempre teve a defesa do bispo D.
Manuel Felício, o qual não goza de boa aceitação na generalidade dos fiéis
desta Diocese
E, mais recentemente, no passado
mês de julho, a Diocese da Guarda levantou as medidas cautelares impostas desde
março ao Padre Vitor Lourenço, de 61 anos, pároco de Figueira de Castelo
Rodrigo, que paroquiou na Vila do Carvalho – Covilhã, onde se deu a denúncia de
envolvimento num caso de abuso sexual com um jovem de 12 anos, atualmente
sacerdote na Covilhã, de 42 nos (portanto denúncia de atos praticados há 30
anos) onde chegou a ser diretor de um Semanário.
Esperemos que estas JMJ que
terminaram em Portugal, sirvam para incutir o verdadeiro espírito clerical
para quem tem vocação e afaste de vez as tendências perniciosas que fazem
denegrir a fé no seio da Igreja. Que estes novos jovens, com a dinâmica do Papa
Francisco, consigam transformar o mundo na direção do Criador.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-08-2023)