Vem este artigo a propósito de reforçar
o esclarecimento sobre a atribuição deste troféu, o qual foi, entretanto, já
prestado nalguns órgãos da comunicação social, em outubro de 2014.
Na exposição que o Sporting Clube
da Covilhã tem patente no Museu da Covilhã e que se estende até ao dia 19 de
setembro, lá está a Monumental Taça “O Século” ganha em 1948, com muito mérito,
por esta Coletividade que está celebrando o seu centenário.
Dizia-se que só havia em Portugal
duas monumentais taças com esta matriz – uma, ganha pelo Sporting Clube de
Portugal (SCP) e, outra, pelo Sporting Clube da Covilhã (SCC), em 1948.
Iguais à primeira, com 123 cm de
altura, existem efetivamente duas, mas uma segunda monumental Taça, esta com
140 cm, e formato diferente, encontra-se no Museu do SCP, ganha em 1953.
A história desta Taça começa com
a iniciativa do diretor do extinto jornal O
Século, João Pereira da Rosa,
organizando, em 1938, a “Exposição Histórica do Futebol”, para comemorar os 50
anos do futebol em Portugal e, com a respetiva receita, criou duas gigantescas
taças, do mesmo tamanho, a que se chamou Monumental Taça “O Século”,
destinando-se uma para os Clubes da I Divisão e outra para os Clubes da II
Divisão.
O diário “O Século”, enquanto fez a encomenda das duas taças, elaborou
um projeto de regulamento das mesmas que submeteu à apreciação da Federação
Portuguesa de Futebol, tendo merecido a sua aprovação.
O Regulamento é do teor seguinte:
Artigo 1.º - As duas taças “O Século”, oferecidas pelo mesmo jornal,
para serem disputadas, uma na I Divisão e outra na II Divisão do Campeonato
Nacional de Futebol, comemorando a organização das Bodas de Ouro do Futebol
Português, que promoveu em Outubro de 1938, serão disputadas nas seguintes
condições:
1.º - Ficarão na posse provisória do Clube que se classificar em
primeiro lugar na respetiva divisão do Campeonato Nacional de Futebol, com
início na época 1938/39.
2.º - Cada uma das taças passará à posse definitiva do Clube que ganhar
em três anos consecutivos, ou cindo alternados, o Campeonato Nacional de
Futebol, na respetiva divisão.
Artigo 2.º - No fim de oito épocas, se nenhuma das taças, tiver passado
à posse definitiva de qualquer Clube, proceder-se-á do modo seguinte:
a)
Se
nessa altura nenhum Clube tiver duas inscrições na taça, será a mesma entregue
ao vencedor do Campeonato de 1946/47, da respetiva divisão.
b)
Se
nessa altura já houver Clubes com duas inscrições alternadas, na época de
1947/48 serão ainda as taças disputadas nos termos do n.º 2.º do art.º 1.º.
c)
Se até
ao início da época de 1948/49, nenhum Clube tiver ganho as referidas taças nas
condições atrás citadas, serão elas conferidas definitivamente aos Clubes que
forem os vencedores das I e II divisões do Campeonato nesse décimo ano da sua
disputa.
d)
Artigo
3.º - Se o Campeonato Nacional deixar de disputar-se, não sendo substituído por
outra prova semelhante na qual as taças possam continuar a disputar-se, ficarão
elas na posse da Federação Portuguesa de Futebol, com destino ao Museu de
Futebol Nacional, quando vier a constituir-se.”
Relativamente aos Clubes da I Divisão a tarefa foi fácil na sua
definição. À luz do regulamento, ganhou a 1.ª Monumental Taça “O Século” o SCP
porque, de 1938/39 até ao seu termo (1947/48) não houve nenhum requisito
conseguido por qualquer clube primodivisionário.
Os vencedores dos Campeonatos das I e II Divisões foram então os
seguintes:
I Divisão: 1938/39 – FC Porto; 1939/40 – FC Porto; 1940/41 – Sporting;
1941/42 – Benfica; 1942/43 – Benfica; 1943/44 – Sporting; 1944/45 – Benfica;
1945/46 – Belenenses; 1946/47 – Sporting – Sporting; 1947/48 – Sporting.
II Divisão: 1938/39 – Carcavelinhos (ganhou na final ao Sp. Covilhã,
por 1-0); 1939/40 – Sp. Farense; 1940/41 – Olhanense; 1941/42 – Estoril;
1942/43 – Barreirense; 1943/44 – Estoril: 1944/45 – Atlético; 1945/46 –
Estoril: 1946/47 – Sp. Braga; 1947/48 (Sp. Covilhã, ficando em 2.º lugar o
Barreirense, com o mesmo número de pontos, 8. O SCC teve 17 golos marcados e 7
sofridos e o Barreirense 13 golos marcados e 7 sofridos, o que o inibiu de
subir em favor do SCC).
Portanto, o Sporting, analisado o Regulamento da Taça “O Século”,
acabou por ganhar a primeira, ao 10º ano, ou seja, na época 1947/48.
Embora tivéssemos desconhecimento de que o jornal “O Século” deu
continuidade a nova Taça “O Século” (só para a I Divisão), o mesmo jornal viria
a deixar de instituir este troféu a partir de 1953.
Foi, entretanto, ganha novamente pelo Sporting Clube de Portugal por
ter sido vencedor de três campeonatos seguidos, em 1950/51, 1951/52 e 1952/53
(ganhou também o de 1953/54). Esta segunda Taça é também monumental, com 140 cm
de altura, sendo que a primeira, igual à que possui o Sporting da Covilhã, tem
123 cm de altura.
Relativamente à II Divisão, nenhum Clube conseguiria ganhar três
campeonatos seguidos, como é óbvio, já que subiam à I Divisão. Assim, ganhou a
Taça “O Século” o SCC, no 10º ano, em 1947/48, precisamente quando subiu, pela
primeira vez à I Divisão Nacional.
Estas Taças estiveram
provisoriamente em cada Clube (I ou II Divisões), durante o ano em que ganharam
os respetivos campeonatos, e iam colocando uma chapinha metálica, na Taça, com
o nome do Clube e época. Portanto, as Taças, quer a da I Divisão, quer a que é
pertença do SCC, estiveram em poder provisório de todos os Clubes que foram
ganhando os respetivos Campeonatos, daí se encontrarem algumas fotografias com
esta Taça, como é o caso do Olhanense e do Barreirense.
Alguns Clubes, como o Barreirense (livro sobre a história do Clube
págs, 134 e 135), duma forma errónea, bem gravitaram na tentativa de a obter,
face à má interpretação do Regulamento, ou mesmo desconhecimento do assunto que
o envolveu.
Aqui fica, novamente, o devido esclarecimento.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 01-08-2023)
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