Longe estaríamos de pensar que
iríamos viver tempos de reviravolta no planeta, numa enorme agitação entre os
povos, guerreando-se freneticamente, causticamente, ao ponto de quando ainda
nos encontrávamos virados para a invasão da Ucrânia pela Rússia, (re)começar
uma luta feroz entre judeus e uma fação terrorista palestiniana que dá pelo
nome de Hamas.
Parece termos voltado aos tempos
bíblicos e da história da antiguidade. Para trás ficou-nos o espetro das duas
grandes guerras mundiais, que aconteceram com as perdas de milhares de vidas
humanas e destruição de património construído, além de outros nefastos
problemas. Embora as guerras localizadas, outras que desmembraram países e
uniões de países jamais deixassem de existir – Guerra da Coreia, do Vietname, Crise
dos Mísseis, Muro de Berlim; e entre judeus e árabes a Guerra dos Seis Dias que
possibilitou a Israel expandir o seu território, conquistando a Península do
Sinai, a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém oriental e as colinas de Golã, não deixou
de existir um tempo um pouco “pacífico” ainda que tenha sido durante a Guerra
Fria. No entanto, com estas conquistas pelos judeus viria a desencadear-se a
Guerra do Yom Kipur, em 1973. Os portugueses encontravam-se envolvidos nas
Guerras com as Colónias que terminariam com a Revolução do 25 de Abril de
1974. Em meados da década de 1980, o
novo líder soviético Mikhail Gorbachev introduziu as reformas liberalizantes e
com a perestroika encerrou o envolvimento soviético no
Afeganistão. Em 1989 foi uma onda de revoluções (com exceção da Roménia) que
derrubaram pacificamente todos os governos comunistas da Europa Central e
Oriental e em grande parte da África e Ásia. Os Estados Unidos foram deixados
como a única superpotência do mundo. A Guerra Fria acabava com a decadência da
União Soviética e do bloco socialista. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev
renunciou e a União Soviética foi dissolvida. No seu lugar, quinze nações
conquistaram a sua independência, entre as quais a Ucrânia; e o bloco
socialista deixou de existir no leste europeu. Esses acontecimentos marcaram o
fim da Guerra Fria. Apesar disso, um estado renovado de tensão entre o Estado
sucessor da União Soviética – a Rússia, e os Estados Unidos nos anos 2010; bem
como tensão crescente entre uma China cada vez mais poderosa e os Estados
Unidos e seus aliados ocidentais; passou a ser referido como a Segunda Guerra
Fria.
O título desta crónica é uma frase amplamente citada e associada com o
movimento para estabelecer uma pátria judia na Palestina durante os séculos XIX
e XX. Embora geralmente é assumido ter sido um slogan sionista, a frase
foi usada já em 1843 por um clérigo restauracionista cristão e continuou a ser
usado durante quase um século por outros restauracionistas cristãos. A frase
tem sido vasta em extremo na citação por políticos e ativistas políticos
opondo-se às reivindicações sionistas. Na sua declaração de independência de 14
de novembro de 1988, o Conselho Nacional Palestino acusou “forças locais e
internacionais” de tentativa de propagar a mentira de que “a Palestina é uma
terra sem povo”. Também o fundador e
presidente da Sociedade da Terra Palestina chama a frase de “uma mentira
perversa, a fim de fazer o povo palestino ficar sem teto”. No fundo, são resmas
de interpretações.
O dia 14 de maio de 1948 dita a fundação do Estado de Israel. Esta
fundação não remete ao surgimento de um novo país ou nação. Tal data marcou o ponto
máximo da invasão da Palestina pelo movimento sionista, apoiado pelos
diferentes imperialismos. Desde então, o povo palestino tem resistido à
ocupação do seu território e exigido a sua devolução.
No final do século XIX, surgiu um movimento na Europa, o sionismo,
“promovido pela burguesia imperialista e por proeminentes bilionários judeus”.
Na Palestina, durante muitos séculos, a maioria da população árabe coexistiu
pacificamente com uma pequena minoria judaica. O sionismo destruiu essa
situação desde que começou a pôr em prática o seu plano de “colonização” e
ocupação militar daquele território.
“Com a ajuda direta do imperialismo britânico, que era amo e senhor da
região, o sionismo difundiu a falsa ‘história’ das terras vazias, que voltaram
às mãos dos seus legítimos habitantes desde os tempos bíblicos”. Na realidade,
milhões de palestinianos viviam ali ao lado da pequena minoria judaica. A
Palestina estava sob domínio inglês desde o fim da Primeira Guerra Mundial.
Longas lutas de resistência anti-imperialistas ocorreram em todo o Médio
Oriente. Entre as duas guerras ocorreram numerosas insurreições contra os
colonialistas britânicos e franceses. O auge da resistência na Palestina
ocorreu entre 1936 e 1939, tendo a Inglaterra que mobilizar para lá metade do
seu exército, um dos mais poderosos do mundo.
Na década de 1960 foi fundada a Organização para a Libertação da
Palestina (OLP).
Muito mais haveria a dizer sobre os diferendos, as vontades e as lutas
destes dois povos – judeus e palestinianos, mas o tempo, o espaço deste
quinzenário, e a paciência dos prezados Leitores têm de ser respeitados nos
seus limites. Ficamos por aqui.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-11-2023)