5 de junho de 2024

SESSENTA E UM ANOS A INFORMAR E A INCENTIVAR

 


Se formos fazer uma nova história do jornalismo em Portugal, desde os longínquos tempos da sua génese, certamente que vamos encontrar uma evolução, por vezes latente, mas mais vezes na sua evidência, que vai sendo salpicada por tempos de figuras proeminentes na vertente da história, da 
literatura, da política, do desporto.

É também a ânsia de encontrar respostas mais céleres para as necessidades do meio em que se vive, expressar os sentimentos de cada um para alegria das suas gentes, ou numa maior dimensão dum certo lenitivo, projetado no orgulho duma representatividade local que atualmente pode galgar muros além-fronteiras.

O gosto pelo cheiro do papel e o levar o jornal debaixo do braço para poder ser lido na oportunidade da apetência de curiosidades – quantas vezes com recorte da notícia para recordação – tinha grande incidência enquanto o véu das novas tecnologias ainda não havia sido aberto. 

Mas, paradoxalmente, se já por um lado o jornalismo contribuiu para alterar a tradição, também o rumo da sua revolução, no nosso planeta, nos transportou para um mundo imparável de outras formas de informação.

Quantos periódicos já desaparecerem deixando de estarem à disposição dos interessados, os verdadeiros leitores, colocados nas bancas, nos escaparates, mesmo nas bibliotecas municipais, nos quase esvaziados clubes, destes periódicos, associações ou instituições?

Variadíssimas vezes me sinto constrangido ao visitar uma biblioteca e não encontro o livro, ou jornal, que sei que foi doado à mesma, ou objeto de um encaminhamento do periódico, a pedido, numa displicência, quando se vai encontrar o mesmo, ainda envolto no plástico, ou mesmo não passa de um acumular de jornais oferecidos sem leitura dos poucos que frequentam a agremiação. E também os livros da biblioteca do clube, do grupo associativo, na sua maioria oferecidos, não passam de mais um volume, não catalogado, que vai aumentar o amontoado de papel…

Mas tenhamos calma. Se bem que segundo um inquérito à qualidade de vida do INE mostra que a satisfação dos portugueses com a vida em geral aumentou em relação ao período pré-covid-19, conforme narra Natália Faria no Público de 21 de abril de 2023, não deixa de ser preocupante que mais de metade da população portuguesa com 16 e mais anos passa um ano sem ler um único livro.

No entanto, no que concerne a jornais e revistas, segundo um estudo do Bareme Imprensa da Marktest quantifica em 6,6 milhões o número de portugueses que contactam com esta comunicação social. Ou seja, 6.575 residentes no Continente com 15 e mais anos que no período entre setembro a novembro de 2019, leram ou folhearam jornais ou revistas, o que representa 76,8% do universo em estudo.

O referido estudo Bareme Imprensa da Marktest quantifica, na vaga de 2023, em um milhão e 453 mil portugueses que leram a última edição de um jornal e em 2 milhões e 267 mil que leram a última edição de uma revista. Estes valores correspondem, respetivamente, a 16,9% e a 29,4% dos residentes no Continente com 15 e mais anos.

A análise dos dados disponíveis permite observar como a afinidade com jornais e com revistas é diversa entre os vários grupos sociodemográficos.

Os homens, os indivíduos entre os 35 e os 54 anos, assim como os empregados nos serviços, comércio e administrativos e os pertencentes às classes alta e média alta são quem aparenta consumo de jornais acima da média do universo. Já no caso das revistas, regista-se mais afinidade entre as mulheres, os indivíduos entre os 35 e os 64 anos, os desempregados e os indivíduos da classe alta.

Os momentos da vida atual, contextualizados nos tempos ocupacionais, para além da atividade profissional que tantas vezes já teve os seus dias de finalização, não são pretexto para uma redução, ou mesmo eliminação, na leitura, tão necessária para colocar a nossa parte cognitiva desperta.

Muita gente não tem ideia do quanto não é fácil escrever regularmente para um periódico de prestígio. Com a cumplicidade da sua graciosidade. Escrever por amor tantas vezes não compreendido, antes pelo contrário, muitas vezes injustamente criticado.

O quinzenário O Olhanense, que completou agora 61 anos de vida, pela mão de pessoas que, sem qualquer proveito remuneratório, o colocam atempadamente nas bancas e enviam para aqueles que ainda preservam a sua assinatura, é um exemplo de autêntico amor aos fins para que o mesmo viu a luz, no pensamento dos dinamizadores do sentido de darem a conhecer, não só a sua região e costumes, mas ainda o seu clube de coração, embora dilacerado mas no surgimento de outro que o venha “paralelamente” memorizar, no caminho da celebração do centenário de ter sido Campeão de Portugal – o saudoso Sporting Clube Olhanense.

Sou um assinante do Jornal “O Olhanense”, cumprindo os meus deveres do atempado pagamento da sua assinatura, para receber as notícias dum dos meus clubes do coração, de terras algarvias, na recordação dos tempos em que o mesmo defrontava, na então I Divião, o meu Sporting da Covilhã, serrano, também centenário, que este ano sofreu um revés com a descida à 3ª Divisão, que não conseguiu superar.

Não são só notícias da Coletividade algarvia, mas também no orgulho da minha colaboração de há um quarto de século, nas páginas deste prestigiado jornal, onde a vertente dos conteúdos não é exclusiva do desporto, mas também na integração de muitas facetas de opinião de vários autores.

Enquanto na minha região tenho vários jornais que podem falar da Coletividade mais representativa desta região serrana, penso que nessa região é o Jornal O Olhanense o que mais fala e incentiva – senão o único – na defesa do Clube da sua terra.

Será de uma enorme injustiça se não for reconhecido o trabalho insano do Homem do leme deste quinzenário, de há muito tempo, após o falecimento de Herculano Valente, na pessoa do seu Diretor e prezado Amigo, Mário Proença, num trabalho hercúleo, a maioria das vezes sozinho, o Homem dos sete ofícios no periódico, conseguindo acrescentar tempo ao tempo para diversos artigos no mesmo Jornal.

Também os méritos dos Amigos Isidoro Sousa e do atual Presidente do Clube, Manuel Cajuda.

Fico por aqui, porque o texto já vai longo, formulando votos para os êxitos dos nossos dois Clubes e os parabéns por mais uma primavera alcançada pelo Jornal O Olhanense, num abraço ao incansável Homem da corrente, que luta contra o vento, Mário Proença.

João de Jesus Nunes

                                        jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-06-2024)

                                                                                                 

 

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