A Covilhã sempre teve pessoas que à sua actividade comercial dedicaram toda uma vida, persistente e entusiástica, a par da prestação de serviços graciosos a organismos e instituições, noutras causas sublimes, servindo a cidade, o concelho, a região e até o País.
Numa dualidade de interesses – o profissional e o das causas públicas – fica a exemplaridade do empenho de muitos covilhanenses; de raiz ou de coração, até que a idade passou a doer; em muitas vertentes, acentuadas na cultural.
No contacto quotidiano com o público, ao balcão ou à secretária, referenciamos os já desaparecidos João Leitão (mercearias e café), Leandro Fonseca e José Soares Rocha (serviços farmacêuticos), Joaquim Gonçalves Carvalho e João Duarte (fazendas e retrosarias); e, em vida, dentre vários, destacamos Manuel Diniz (pronto-a-vestir e mobiliário).
No mundo dos livreiros, destacou-se na Covilhã José Mendes dos Santos, com mais de 60 anos desta actividade, uma figura de fino trato, dedicado, amável, simples, deixando assim muitos amigos, mormente no âmbito da cultura, na cidade laneira que o viu nascer, e que o mesmo a viu transformar-se em cidade universitária. Deixou-nos a semana transacta, aos 93 anos, mas irá permanecer a sua memória.
A extinta Livraria Nacional, fundada em 1958, de que foi proprietário, chegou a ser, sob a sua gestão e da esposa, D. Maria Luísa, a melhor livraria de toda a Beira Interior, durante muitos anos.
Tal como o proprietário, também a livraria deixou saudades. Foi o espaço de muita gente, não só de alunos e de professores, como de pessoas interessadas em procurar um livro temático, onde encontrava sempre a boa vontade e o sorriso de José Mendes dos Santos, e da D. Maria Luísa.
Foi também neste estabelecimento – Livraria Nacional – que o autor da “A Lã e a Neve” – escritor Ferreira de Castro – num sábado do mês de Outubro de 1968, na sua visita à Covilhã, onde foi carinhosamente acolhido, teve uma sessão de autógrafos dos seus livros.
José Mendes dos Santos, verdadeiramente interessado pela Covilhã, contribuiu também para a referência de conhecimentos sobre a sua história, na efeméride de datas que assinalam eventos importantes, e no âmbito biográfico de várias figuras.
Foi o coordenador da “Toponímia Covilhanense”, e autor da “Breve História Cronológica da Covilhã” e de “Escritores do Concelho da Covilhã”.
Muitas iniciativas do mundo literário tiveram o cunho da Livraria Nacional.
A Covilhã muito ficou a dever a esta figura ímpar, que nem a sua biografia quis deixar nos seus livros – tal a sua singeleza.
(In Jornal do Fundão de 27/11/2008)
27 de novembro de 2008
20 de novembro de 2008
PROBO COVILHANENSE
No caminhar da vida, fui privilegiado com muitos mestres do saber que formaram a minha personalidade, de harmonia com os talentos de cada um, começando por meu pai – o meu primeiro professor –, divididos pelos períodos académico e de vida profissional.
Da Primária, no Asilo, ao Secundário, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, memorizo perto de meia centena de mestres do ensino, desde os professores Raul e Tendeiro, na primária, aos Drs. Castro Martins, Oliveira Dias, Carneiro, Fidelino, Duarte Simões, Mª Adelaide Maia, Maria Cerdeira, Maria Céu Proença, Edite Castro Martins, Irene Portela, Arquitecto Calais, entre outros que, por fastidioso, não enumero.
Alguns deles deixaram marcas profundas da sua influência, não só na formação dos seus pupilos, como também ao serviço da cidade, e até do País, mostrando a têmpera forte do guerreiro Viriato, nos tempos em que era difícil impor-se, com uma integridade de carácter, a que alguns já foi, ainda que tardiamente, feito jus às suas obras.
Orgulho-me de ter tido dois professores cujos nomes já se perpetuam em duas ruas na parte sul da cidade.
Mas não tive como mestre do ensino uma figura de alto gabarito, que desapareceu do mundo dos vivos no dia 4 de Novembro – o Dr. António dos Santos Taborda – que conheci na mesma instituição onde iniciei o Secundário, na época de 1958/59. A sensação foi a de que era um professor por quem os alunos tinham uma grande respeitabilidade.
Comecei a vê-lo envolvido na vida pública, e recordo, com grande interesse, uma célebre polémica, num periódico da Região, com uma outra figura de prestígio na cidade, o advogado Crespo de Carvalho, com posições antagónicas na vida portuguesa.
Várias intervenções suas na comunicação social eram sempre de grande interesse e oportunidade – aquelas que escaparam ao lápis azul da censura – mas, muito cedo, este Homem é abafado do ensino, por ser vertical e não ter tido receio de apoiar com grande entusiasmo a candidatura do general sem medo, à presidência da República.
Presidia eu à APAE Campos Melo, quando deliberámos fazer uma homenagem aos antigos professores e funcionários que exerceram funções na Escola Industrial até ao ano 1960, a qual se veio a realizar em 14/12/1996.
Nessa altura tive oportunidade de convidar, telefonicamente, o Dr. António dos Santos Taborda, que não pôde estar presente, e, num ambiente cordial, e alegre, perguntei-lhe: “Dr., ainda usa bigode?”, como era característico da sua imagem, tendo-me respondido afirmativamente, e a rir-se.
As suas crónicas eram de fino trato e ávidas de serem lidas. Na minha última publicação, que saiu a lume em 2 de Junho de 2007, na CMC, lá está o Dr. António Santos Taborda, numa das minhas pesquisas, que inseri em duas páginas sob o título “O Desporto de Antanho e o nosso Sporting”, com a devida referência ao seu autor.
Penso que esta figura não chegou a ter o mérito duma justa homenagem pela edilidade covilhanense, num contraste com outras menos marcantes, o que, a verificar-se, foi uma grande lacuna que pode, e deve, ser ressalvada com a atribuição do seu nome numa das ruas da cidade da Covilhã.
(In Notícias da Covilhã de 20/11/2008)
Da Primária, no Asilo, ao Secundário, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, memorizo perto de meia centena de mestres do ensino, desde os professores Raul e Tendeiro, na primária, aos Drs. Castro Martins, Oliveira Dias, Carneiro, Fidelino, Duarte Simões, Mª Adelaide Maia, Maria Cerdeira, Maria Céu Proença, Edite Castro Martins, Irene Portela, Arquitecto Calais, entre outros que, por fastidioso, não enumero.
Alguns deles deixaram marcas profundas da sua influência, não só na formação dos seus pupilos, como também ao serviço da cidade, e até do País, mostrando a têmpera forte do guerreiro Viriato, nos tempos em que era difícil impor-se, com uma integridade de carácter, a que alguns já foi, ainda que tardiamente, feito jus às suas obras.
Orgulho-me de ter tido dois professores cujos nomes já se perpetuam em duas ruas na parte sul da cidade.
Mas não tive como mestre do ensino uma figura de alto gabarito, que desapareceu do mundo dos vivos no dia 4 de Novembro – o Dr. António dos Santos Taborda – que conheci na mesma instituição onde iniciei o Secundário, na época de 1958/59. A sensação foi a de que era um professor por quem os alunos tinham uma grande respeitabilidade.
Comecei a vê-lo envolvido na vida pública, e recordo, com grande interesse, uma célebre polémica, num periódico da Região, com uma outra figura de prestígio na cidade, o advogado Crespo de Carvalho, com posições antagónicas na vida portuguesa.
Várias intervenções suas na comunicação social eram sempre de grande interesse e oportunidade – aquelas que escaparam ao lápis azul da censura – mas, muito cedo, este Homem é abafado do ensino, por ser vertical e não ter tido receio de apoiar com grande entusiasmo a candidatura do general sem medo, à presidência da República.
Presidia eu à APAE Campos Melo, quando deliberámos fazer uma homenagem aos antigos professores e funcionários que exerceram funções na Escola Industrial até ao ano 1960, a qual se veio a realizar em 14/12/1996.
Nessa altura tive oportunidade de convidar, telefonicamente, o Dr. António dos Santos Taborda, que não pôde estar presente, e, num ambiente cordial, e alegre, perguntei-lhe: “Dr., ainda usa bigode?”, como era característico da sua imagem, tendo-me respondido afirmativamente, e a rir-se.
As suas crónicas eram de fino trato e ávidas de serem lidas. Na minha última publicação, que saiu a lume em 2 de Junho de 2007, na CMC, lá está o Dr. António Santos Taborda, numa das minhas pesquisas, que inseri em duas páginas sob o título “O Desporto de Antanho e o nosso Sporting”, com a devida referência ao seu autor.
Penso que esta figura não chegou a ter o mérito duma justa homenagem pela edilidade covilhanense, num contraste com outras menos marcantes, o que, a verificar-se, foi uma grande lacuna que pode, e deve, ser ressalvada com a atribuição do seu nome numa das ruas da cidade da Covilhã.
(In Notícias da Covilhã de 20/11/2008)
15 de novembro de 2008
SERRANOS E ALGARVIOS NA SENDA DAS MEMÓRIAS
É com grande satisfação que verifico que o Jornal Olhanense continua superiormente dirigido, inclusive numa renovação, onde não falta a mão do prezado amigo Mário Proença. Tenho feito referência, para as bandas de cá, sobre a qualidade e dinâmica deste órgão da comunicação social, que transcende para além do regional. Parabéns, pois, a todos os seus obreiros, onde se incluem muitos dos cronistas de excelência.
Satisfação também por ver que Herculano Valente continua presente, agora com a merecida honra de director honorário a título póstumo. Que Deus o tenha próximo de Si.
As “meninas dos nossos olhos” vão indo de vento em popa, não obstante alguns ventos e marés, mas em tempos de crise financeira mundial, vão fazendo jus ao seu estatuto de clubes históricos do futebol português.
Tanto serranos como algarvios, quando em crises; que por vezes grassam pelas veias dos que vestem as camisolas de riscas verde e brancas, na horizontal, ou pretas e vermelhas, na vertical; não se coadunam com as tradições destas velhas agremiações serrana e algarvia, como leio na extinta revista “Flama”, de 20/10/1950, em comentários generalizados sobre o comportamento das turmas da Primeira Divisão, onde ambos militavam, nessa época.
Recordo que o primeiro encontro entre os clubes covilhanense e olhanense, na divisão maior do futebol português, se verificou na época 1948/49, com o empate a uma bola, na Covilhã; e uma vitória do olhanense em casa, por 4-0. Depois iria manter-se a tradição, com o olhanense a não conseguir ganhar na Covilhã; e o SCC a não conseguir vencer em Olhão.
Para a Taça de Portugal, o 1.º encontro entre as duas turmas verificar-se-ia, na altura a duas mãos, na época de 1960/61, mantendo-se a mesma tradição atrás referida, mas, na sua generalidade a ser mais favorável para as hostes olhanenses. Aliás, só se verificariam mais duas oportunidades de confronto, exactamente nas épocas de 1974/1975 e 1995/96, com as vitórias repartidas pelos dois emblemas: os covilhanenses na década de 70; e os olhanenses na época de 90.
Gostaria de ver no vosso jornal uma equipa do Olhanense, da época 1961/62, com os atletas identificados, pois foi a turma que me recordo de ver jogar na Covilhã, na minha adolescência.
Ficarei feliz por ver permanecer nos lugares cimeiros as nossas duas “meninas de olhos”.
(In O Olhanense de 15/11/2008)
Satisfação também por ver que Herculano Valente continua presente, agora com a merecida honra de director honorário a título póstumo. Que Deus o tenha próximo de Si.
As “meninas dos nossos olhos” vão indo de vento em popa, não obstante alguns ventos e marés, mas em tempos de crise financeira mundial, vão fazendo jus ao seu estatuto de clubes históricos do futebol português.
Tanto serranos como algarvios, quando em crises; que por vezes grassam pelas veias dos que vestem as camisolas de riscas verde e brancas, na horizontal, ou pretas e vermelhas, na vertical; não se coadunam com as tradições destas velhas agremiações serrana e algarvia, como leio na extinta revista “Flama”, de 20/10/1950, em comentários generalizados sobre o comportamento das turmas da Primeira Divisão, onde ambos militavam, nessa época.
Recordo que o primeiro encontro entre os clubes covilhanense e olhanense, na divisão maior do futebol português, se verificou na época 1948/49, com o empate a uma bola, na Covilhã; e uma vitória do olhanense em casa, por 4-0. Depois iria manter-se a tradição, com o olhanense a não conseguir ganhar na Covilhã; e o SCC a não conseguir vencer em Olhão.
Para a Taça de Portugal, o 1.º encontro entre as duas turmas verificar-se-ia, na altura a duas mãos, na época de 1960/61, mantendo-se a mesma tradição atrás referida, mas, na sua generalidade a ser mais favorável para as hostes olhanenses. Aliás, só se verificariam mais duas oportunidades de confronto, exactamente nas épocas de 1974/1975 e 1995/96, com as vitórias repartidas pelos dois emblemas: os covilhanenses na década de 70; e os olhanenses na época de 90.
Gostaria de ver no vosso jornal uma equipa do Olhanense, da época 1961/62, com os atletas identificados, pois foi a turma que me recordo de ver jogar na Covilhã, na minha adolescência.
Ficarei feliz por ver permanecer nos lugares cimeiros as nossas duas “meninas de olhos”.
(In O Olhanense de 15/11/2008)
6 de novembro de 2008
SPORTING DA COVILHÃ NA SENDA DAS MEMÓRIAS
Clube histórico, que está atravessando um bom momento, descrevendo mais uma página interessante da sua vivência, orgulho das gentes beirãs, completou 60 anos (numa vida de 85) de ter efectuado o seu primeiro jogo na Primeira Divisão Nacional – hoje I Liga/Liga Sagres.
Foi em 19 de Setembro de 1948 que o Sp. Covilhã defrontou, no pelado Estádio Santos Pinto, o Boavista, e logo com uma vitória dos serranos por 4-0.
Recordemos as duas equipas:
SCC: - António José; Roqui e Leopoldo; Fonseca da Silva, Pedro Costa e Fialho; Livramento, Teixeira da Silva, Carlos Ferreira, Tomé e Noronha.
Boavista: - Mota; A. Caiado e Pereira; J. Caiado, Chaves e Garcia; Luzia, Alcino, Passos, Fernando Caiado e Barros.
Os golos foram marcados por Carlos Ferreira, Fialho, Fonseca da Silva e Tomé. Era treinador Janos Szabo.
Pensamos que quase todos os obreiros deste memorável jogo já terão desaparecido do mundo dos vivos, excepção feita ao valoroso Tomé, com 84 anos, com quem contactei telefonicamente, para a sua residência em Setúbal, enquanto redigia estas linhas.
Tomé e a esposa aproveitaram o ensejo para enviarem, por intermédio deste Jornal, saudações a todos os dirigentes, atletas e covilhanenses em geral, muitos dos quais ainda o recordam envergando a camisola do Sp. Covilhã. E o mesmo Tomé acabaria por frisar: “Tenho agora aí um conterrâneo, a treinar o SCC”.
Tomé foi dos jogadores do SCC que mais jogos efectuou, ao seu serviço, na 1.ª Divisão, 138 jogos – atrás de Martin, Carlos Ferreira, Hélder, António José, Amílcar Cavem e Couceiro – ; e que também mais golos marcou, 41 – atrás de Simonyi, Suarez, e Livramento.
Também um contacto telefónico para S. Paulo – Brasil, com um voto de rápido restabelecimento da enfermidade que preocupa o 3.º melhor marcador de todos os tempos da Taça de Portugal (a par de Iaúca, do Belenenses) – o valoroso antigo atleta serrano, Suarez.
Por último, a satisfação de verificar o grande entusiasmo e empenho com que o Miguel Saraiva quer trazer a lume, na sua oportunidade, um belíssimo trabalho inédito, em álbum, de equipas do Sporting da Covilhã, de todos os tempos.
(In Noticias da Covilhã de 06/11/2008)