27 de novembro de 2008

GRANDE LIVREIRO

A Covilhã sempre teve pessoas que à sua actividade comercial dedicaram toda uma vida, persistente e entusiástica, a par da prestação de serviços graciosos a organismos e instituições, noutras causas sublimes, servindo a cidade, o concelho, a região e até o País.
Numa dualidade de interesses – o profissional e o das causas públicas – fica a exemplaridade do empenho de muitos covilhanenses; de raiz ou de coração, até que a idade passou a doer; em muitas vertentes, acentuadas na cultural.
No contacto quotidiano com o público, ao balcão ou à secretária, referenciamos os já desaparecidos João Leitão (mercearias e café), Leandro Fonseca e José Soares Rocha (serviços farmacêuticos), Joaquim Gonçalves Carvalho e João Duarte (fazendas e retrosarias); e, em vida, dentre vários, destacamos Manuel Diniz (pronto-a-vestir e mobiliário).
No mundo dos livreiros, destacou-se na Covilhã José Mendes dos Santos, com mais de 60 anos desta actividade, uma figura de fino trato, dedicado, amável, simples, deixando assim muitos amigos, mormente no âmbito da cultura, na cidade laneira que o viu nascer, e que o mesmo a viu transformar-se em cidade universitária. Deixou-nos a semana transacta, aos 93 anos, mas irá permanecer a sua memória.
A extinta Livraria Nacional, fundada em 1958, de que foi proprietário, chegou a ser, sob a sua gestão e da esposa, D. Maria Luísa, a melhor livraria de toda a Beira Interior, durante muitos anos.
Tal como o proprietário, também a livraria deixou saudades. Foi o espaço de muita gente, não só de alunos e de professores, como de pessoas interessadas em procurar um livro temático, onde encontrava sempre a boa vontade e o sorriso de José Mendes dos Santos, e da D. Maria Luísa.
Foi também neste estabelecimento – Livraria Nacional – que o autor da “A Lã e a Neve” – escritor Ferreira de Castro – num sábado do mês de Outubro de 1968, na sua visita à Covilhã, onde foi carinhosamente acolhido, teve uma sessão de autógrafos dos seus livros.
José Mendes dos Santos, verdadeiramente interessado pela Covilhã, contribuiu também para a referência de conhecimentos sobre a sua história, na efeméride de datas que assinalam eventos importantes, e no âmbito biográfico de várias figuras.
Foi o coordenador da “Toponímia Covilhanense”, e autor da “Breve História Cronológica da Covilhã” e de “Escritores do Concelho da Covilhã”.
Muitas iniciativas do mundo literário tiveram o cunho da Livraria Nacional.
A Covilhã muito ficou a dever a esta figura ímpar, que nem a sua biografia quis deixar nos seus livros – tal a sua singeleza.

(In Jornal do Fundão de 27/11/2008)

Sem comentários: