18 de dezembro de 2009

PORTUGAL PANDÉMICO

Chegámos a mais um final de ano. Em plena época natalícia, os rostos de muita gente encontram-se mergulhados numa melancolia. A leda esperança a ofuscar-se – parece que as estrelas não querem brilhar!
Onde estão os homens e as mulheres de Portugal, com talento para desbravar a crise instalada?
Muitos cérebros do nosso País, lá fora têm notoriedade. Então, porque é que não se encontra o antídoto para atrair a procura de soluções?
Alguns dos contrários à corrente dominante não oferecem alternativas convincentes, e, quem se trama, duma forma ou doutra, é o povo que neles confiaram.
Os maus exemplos de enormes retribuições, oriundos lá bem do alto, sem falar já dos fastidiosos “casos”, sobejamente conhecidos, são um atentado para quem, honestamente, sempre procurou exercer as suas actividades profissionais, no espírito de bem servir, e, no horizonte, a perspectiva do reflexo do seu trabalho vir a ser espelhado numa reforma condigna.
Repercutem-se também nas pensões principescas, e demais mordomias, de muitos que falam em nome do povo, e que, com sagacidade lhe sugam parte da esperança de melhores dias.
Se a exorbitância salarial de uns não reflectisse uma abissal diferença no salário da maioria, pensamos que os défices de governação seriam bem diferentes.
Subsídios de reintegração da classe política; ajudas de custo a torto e a direito; senhas de presença nas assembleias; pagamento a autarcas para além dos que permutam a sua profissão pela de servir a tempo inteiro; exercício profissional duplo, com casos atentatórios bem visíveis, a ganharem milhões em detrimento de um leque de homens e mulheres nas filas dos Centros de Emprego, são exemplos do que seria passível de suprir algo do buraco económico em que estamos todos metidos. Depois, despesas estranhas, desmedidas, surgidas em muitos municípios.
Parece não haver interesse em resolver o problema da corrupção. Falam, falam, falam e não os vejo fazer nada, como diziam os do Gato Fedorento. Para um problema tão importante na vida dum país, só agora se prepara a comissão eventual para o combate à corrupção. Por onde andam João Cravinho, António Vitorino e Medeiros Ferreira, por exemplo?
Neste tempo em que vivemos, recrudescem as paixões e os ódios e rarefazem-se os princípios e os valores.
Muita gentinha das instituições estatais a usufruir das benesses referidas, são os mesmos que vão para as televisões, e para os jornais, a lançar ideias para a resolução dos problemas financeiros que assolam o País, como o congelamento de salários por causa da competitividade da economia portuguesa.
Governadores e ex-governadores do Banco de Portugal; ministros, ex-ministros e outros da mesma laia, dão empregos, de mão beijada, em instituições públicas ou privadas, a seus familiares, com vencimentos ambiciosos.
E, como a justiça portuguesa, conforme registou a jornalista Clara Ferreira Alves, no Expresso, “não é apenas cega, mas também surda, coxa e marreca” não vamos a lado nenhum.
A subsidiodependência prevalece e há fome em Portugal, com pobreza envergonhada.
A crise económica, com mais de meio milhão de desempregados, é outra pandemia, pois leva a doenças mentais, associada a reacções depressivas; assim como o desemprego de longa duração, em que, ao fim de algum tempo, a pessoa desmoraliza, sente-se inútil. A ociosidade forçada, segundo o médico, Pedro Afonso, in “Público” acaba por se reflectir negativamente na saúde mental.
E, como o mesmo afirma, “através do progresso tresloucado, a sociedade acaba por criar o seu próprio “vírus social” que vai sofrendo mutações em ciclos progressivamente mais rápidos, impedindo que o nosso organismo reaja, aumentando o número dos inadaptados; ou seja, os que sofrem de depressão e ansiedade”.
As coisas mudam para pior espontaneamente se não forem mudadas, para melhor, de propósito.
Na certeza de que vamos encontrar o próximo ano de grandes dificuldades, resta-nos que todos os políticos, no Governo ou na Assembleia da República, dentro ou fora, pelo menos nos transmitam aquela palavra de que todos estamos famintos como das outras necessidades básicas – a ESPERANÇA!

Votos de um Bom Natal.

(In Notícias da Covilhã, de 17/12/2009; Notícias de Gouveia, de 18/12/2009 e Diário Digital Kaminhos)

Sem comentários: