24 de dezembro de 2009

O VENDEDOR DE CASTANHAS ASSADAS


A tradição mantém-se e então vemos o vendedor ancestral de castanhas assadas, geralmente no Pelourinho. Há uns anos atrás havia mais “homens das castanhas” a vender, como popularmente os designamos.
Nos velhos tempos do futebol de “Primeira Divisão”, do nosso Sporting da Covilhã, então no velhinho Estádio José Santos Pinto, mais próximo das estrelas do firmamento que o actual, havia vários vendedores de castanhas, com os seus assadores de barro e jornais para as embrulhar... Um ou dois homens, lá em cima, junto ao campo, e outro ao fundo do antigo hospital...
Nesse tempo, também jogavam no futebol de primeira, o Atlético, o Oriental, o Torriense, o Caldas, e o Olhanense, este actualmente na I Liga ou Liga Sagres (a antiga I Divisão), donde vierem vários atletas que aí jogavam, para o SCC.
Segundo Aquilino Ribeiro, num dos seus romances, “as castanhas são tão bonitas com sua oval fantasia, seu sépia de veludo, tão ternas quando espreitam juntinhas às duas, às três e até às quatro, inclusa a boneca, de ouriço arreganhado”(...). Também Miguel Torga se referia assim: “Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias, que, puras como vestais, parecem encarnar a virgindade da própria paisagem. Só em Novembro as agita uma inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver uma cama fofa e maravilha singular de que falo, tão desafectada que até o próprio nome é doce e modesta – a castanha.
Assada, no S. Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua engorda os porcos, com vossa licença...”
Pois bem, actualmente só conhecemos um único vendedor, que aproveita o seu tempo de ócio, e de férias, para dar continuidade à tradição, no Pelourinho, e também, assim, conhecer outro “fruto” do seu trabalho...
José Manuel Pinto é motorista de profissão, actualmente ao serviço do município covilhanense, sendo que antes exercia a mesma actividade na ACM, onde aqui conheceu o desemprego. Foi nesta altura que se agarrou a esta actividade sazonal que não mais largou.
E tem alma para o seu desempenho, numa alegria aliada a uma forma simpática de trabalhar, que lhe faz granjear amizades.
Sou testemunha deste seu entusiasmo na venda de castanhas assadas.
Os assadores são em aço inoxidável, ou barro, e já não podem ser em lata, face à ASAE; também acabaram os “cartuchos” em papel de jornal. Terminou aqui a tradição; ele as embrulha em papel branco, com ou sem saquetas.
Há um ano e meio, viajei até à capital com o motorista José Manuel Pinto, então na apresentação de um projecto que resultaria no “Criar 08”, entre a empresa que represento e a edilidade covilhanense. À saída da reunião de trabalho lá fomos de encontro ao motorista para almoçar e seguir viagem de regresso à Covilhã. Pois bem, José Pinto, aproveitando o tempo inactivo, não ficou sem fazer nada; estava na Rotunda do Marquês de Pombal a ajudar o seu colega, vendedor de castanhas...
Foram-se os magustos, restam as castanhas do amigo José Manuel Pinto, e, para o ano, se Deus quiser, haverá mais.

(in Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 24/12/2009; e Jornal Olhanense, de 15/01/2010)

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