25 de março de 2010

O PEC

Podia ter sido “Portugueses Em Cidadania”, tal foi a aderência de milhares de cidadãos portugueses unidos numa missão colectiva contra o lixo, num dos maiores movimentos de sempre em torno de uma causa ambiental. Foi o erradicar de milhares de lixeiras.
Mas este PEC, cuja sigla é versátil, também podia ser “Portugueses Enervados Clamam”, face ao estado lastimoso da Nação a que nos predestinaram os responsáveis pela condução da política portuguesa.
Mas este PEC também podia ser “Portugal Em Contaminação”, pois cada vez há mais senhores da política, ou sob a capa da mesma, num grande apadrinhamento, onde as mordomias e os escandalosos “direitos” a subsídios, compensações, complementos e outras coisas mais, são o retrato de quem nos (des) governa.
Mas este PEC podia ainda ser “Porquê Este Condão?” com tantos a beneficiar de luxuosos vencimentos e outros arredados para uma pobreza envergonhada.
Mas este PEC também ainda podia ser “Parlamento Em Cúmulo”, com os seus 230 deputados, num “esforço titânico”, “casa” sempre cheia, com o “suor” a correr-lhes pelas faces, onde poucos bocejam ou dormem, a contribuírem para um dos maiores orçamentos da Nação. Com metade deles era mais que suficiente para que as suas ideias e inteligência postas ao serviço de quem neles confiaram o seu voto, trouxessem o lenitivo para todos nós, para que não houvesse portugueses de primeira, portugueses de segunda e portugueses de terceira.
Esperemos, contudo, que a UE não venha trazer outra interpretação para o nosso País – “Portugal Em Confusão” ou, pior ainda, “Portugal Em Colapso”. Seria trágico e ver-nos-íamos “gregos”.
Mas com este País, num “Portugal Em Combustão”, tudo pode servir para classificar o inclassificável, num povo de brandos costumes que há muito já detém funestas atitudes de uma franja da sua população, porque a ordem redundou em desordem, o exemplo que vinha do alto permutou pela baixeza da mentira, a credibilidade substituiu a incerteza.
Mas, finalmente, o “Plano de Estabilidade e Crescimento”aí está, com toda a sua vertente de injustiças e manutenção de privilégios para muitos dos apaniguados, depois de uma despudorada ocultação da verdadeira situação económica e financeira do País, aliada à não menos vergonhosa cumplicidade do Governador do Banco de Portugal.
O aumento de impostos, dissimulado na redução ou supressão de deduções fiscais, e na diminuição das prestações sociais, é mais uma forma de fazer acrescentar o último furo ao já esticado cinto dos portugueses.
Mas é escandaloso que continuem a ser intocáveis as reformas dos deputados da Nação. E escandaloso também é que muitos administradores de empresas públicas, próximos do Poder vigente, em que foram apanhados pelos “célebres processos”e se viram obrigados a renunciar aos seus cargos, sejam chorudamente recompensados. Temos que continuar a aguentar toda esta pulhice!
É imprescindível encurtar o Estado, acabando, entre outras coisas, com muitos serviços que de nada servem se não para manter empregos e privilégios, por exemplo, os Governos Civis.
Outra situação que se reveste necessária para aquele espírito de que nos serviços públicos os servidores do Estado não se servem de outros meios que possam pôr em causa o favorecimento, é a proibição do exercício de outras actividades privadas, que possam colocar em perigo a isenção dos funcionários do Estado. Mas continuam a ver-se situações de práticas de ocupações privadas, “complementares” das da função pública, em vários dos seus funcionários, mormente na mediação de seguros, que vão desde o escriturário ao engenheiro camarário.
A brutalidade do que aí vem é inevitável e a nossa reputação está mais arruinada do que nunca com os mercados a não estarem nada bem.
O PEC parece que foi recebido com complacência pela Europa e pelos mercados, mas os portugueses vão pagar caro as más políticas dos seus governos.

(In Noticias da Covilha, em 25/03/2010)

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