21 de abril de 2010

ACIDENTE COM AVIONETA HÁ MAIS DE SEIS DÉCADAS

Mais um acidente de aviação surgiu no dia 10 de Abril vitimando 97 pessoas, entre as quais a elite política da Polónia. A principal vítima foi o seu Presidente, Lech Kaczynski.
Os desastres aéreos com figuras do Estado ou na liderança de instituições mundiais também já haviam acontecido anteriormente, quer em Portugal quer noutras partes do globo.
Nos últimos anos ocorreram vários acidentes com aeronaves, só no distrito de Castelo Branco.
Em 17 de Novembro de 1978 desapareciam 131 pessoas, dum total de 164 ocupantes do avião, que se despenhara no Aeroporto do Funchal, entre as quais uma equipa de arbitragem de futebol que se deslocava à Madeira e que, na semana anterior, havia arbitrado um jogo, no Estádio Santos Pinto, na Covilhã, com o Sporting local, para o Campeonato Nacional da II Divisão.
Em 1994 mais um desastre aéreo, vitimando 56 pessoas, numa aterragem dum avião no Aeroporto de Faro, duma companhia holandesa, e, em 2000, despenhava-se na Ilha de S. Jorge, nos Açores, mais um avião provocando 35 mortos.
Na zona da Serra da Estrela, junto a Loriga, em 22 de Fevereiro de 1944, em plena II Guerra Mundial, despenhou-se um avião com seis aviadores, que vinha de Gibraltar e seguiam em direcção a Inglaterra, onde iam passar o Carnaval. Ficaram sepultados no cemitério de Loriga.
Mas é em 27 de Novembro de 1949 que se iria dar um acidente de aviação, cuja notícia correu todo o País. Foi a morte de dois industriais covilhanenses, pilotos aviadores António Matos Soares, solteiro, de 37 anos, e José Moura e Silva, casado, de 30 anos.
Era um domingo, num lindo dia de sol. Partiram de manhã, na avioneta particular de Matos Soares, tudo levando a crer que seria para tratarem de assuntos em Aveiro, onde a avioneta aterraria. Seguiriam depois para o Porto a fim de assistirem ao jogo de futebol entre o F.C.Porto e o Sporting da Covilhã, de que eram fervorosos adeptos. O SCC fazia um bom Campeonato na Primeira Divisão e emergiam na sua equipa valorosos atletas, como André Simonyi. Iria ser o maior goleador do seu Clube, ficando em terceiro lugar, como melhor marcador do Campeonato Nacional da Primeira Divisão. Marcou 22 golos em 23 jogos. O SCC havia ganho em casa ao FC Porto, por 4-2, e acabaria por perder o segundo jogo, no Porto, por 5-1.
Na base aérea de São Jacinto, em Aveiro, os dois pilotos levantaram voo, com destino à Covilhã, face a terem sido avisados de que na Serra da Estrela as condições meteorológicas não seriam as melhores.
Iniciada a viagem de regresso, tudo estaria a correr dentro do que seria normal até que, ao voarem sobre Folgozinho, em plena Serra da Estrela, lhes surgiu um intenso e forte nevoeiro, cuja intensidade provocou uma enorme diminuição de visibilidade. Em virtude de também se aproximar a noite, fez com que eles tivessem tomado a decisão de ou mudar de rumo ou tentar aterrar em qualquer possível local, invertendo o sentido de voo. O avião não estando a voar a altura conveniente foi embater num monte chamado o Cabeço dos Cleros. Do choque resultou a destruição do avião e a morte dos dois pilotos covilhanenses.
Foi um pastor que andava nas imediações que se apercebeu do desastre. Na Covilhã havia enormes apreensões e só se adivinhava o pior. Nessa noite, na Covilhã pouca gente dormiu. Muitos se deslocaram para a Serra da Estrela a fim de tentar descobrir os aviadores. Mas, por dificuldades na rede telefónica, a notícia trágica somente chegou à Covilhã na manhã de 2.ª Feira.
Em virtude da muita neve e o difícil acesso onde se encontravam os corpos, foi com enorme dificuldade que os transportaram daquele cabeço desarborizado e escalvado.
No dia dos funerais, a Cidade da Covilhã quase que parou. Entidades oficiais, religiosas e militares, além de muitos pilotos civis, muitas instituições da cidade e milhares de pessoas vindas de todo o distrito e representando todas as categorias sociais, participaram no funeral.
Foi o primeiro acontecimento lutuoso da história da aeronáutica da cidade da Covilhã.
Muito haveria para contar, mais em pormenor, sobre este trágico acontecimento, mas o espaço do jornal tem limites. Foi noticiado em todos os jornais da época: Diário de Notícias, O Século, Diário da Manhã, Diário Popular, Diário de Lisboa, República, A Voz, A Guarda, Notícias da Covilhã, Jornal do Fundão, Notícias de Gouveia e Revista do Ar.


(In Noticias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 21/04/2010, Notícias de Gouveia, de 20/04/2010 e Jornal “Porta da Estrela”, de 21/04/2010)

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