1 de outubro de 2010

AS MINAS DA PANASQUEIRA, SITAS NO CONCELHO DA COVILHÃ, EXISTEM HÁ 115 ANOS

O trabalho das minas é um dos mais difíceis e de grande perigosidade, em qualquer parte do mundo.

E, de vez em quando, surgem as notícias catastróficas em minas, com a perda de muitas vidas.

Há já algumas semanas que mais de trinta mineiros chilenos aguardam, num sopro de esperança, que possam ser salvos, a mais de setecentos metros de profundidade, enquanto que, por um pequeno tubo, e face às novas tecnologias, vão recebendo alimentação, roupa e o que é possível fazer lá chegar, já que são necessários alguns meses para que, com a perfuração para uma abertura, possam ser retirados, um a um, num acto hercúleo, todos os mineiros.

E, independentemente destes perigos, outra situação atraiçoa os mineiros, através das doenças inerentes a esta actividade, como a silicose, que afecta os pulmões destes trabalhadores, incapacitando-os para o trabalho, pois é a mais antiga e mais grave das doenças pulmonares, sendo a mais predominante à inalação de poeiras minerais.

Nas freguesias do concelho da Covilhã, vizinhas das Minas da Panasqueira, como São Jorge da Beira, Aldeia de S. Francisco de Assis, Sobral de Casegas e Casegas, e, por isso, com muitos dos seus habitantes a trabalhar naquela actividade, viam-se muitas famílias, nos primeiros anos da década de setenta, confrontados com a incapacidade, e até a morte, de muitos dos seus familiares, que ali ganhavam o sustento da família. Lá iam aguardando que chegasse o fim do mês para receberam as pequenas pensões vitalícias das Seguradoras, onde então as doenças profissionais se incluíam no âmbito dos acidentes de trabalho. Isso depois acabou e passou a Segurança Social a ser a responsável pelas pensões.

Após o 25 de Abril, com a reivindicação dos trabalhadores, não só da indústria de lanifícios, como de toda as outras actividades, chegou também a altura de forte contestação, com uma grande greve, prolongada, dos mineiros das Minas da Panasqueira, tendo-se deslocado à sede do concelho, e, junto da Câmara Municipal da Covilhã, permaneceram alguns dias, chegando a dormir em frente ao município, com a RTP, de um único canal (ainda aqui não chegava o 2.º canal) a fazer a reportagem. Ainda não existiam as televisões privadas, mas havia muitos jornalistas não só nacionais como estrangeiros.

À frente desses mineiros encontrava-se um forte delegado sindical, de nome António dos Santos Lopes. Esta figura haveria de ser, mais tarde, um grande empresário, tendo partido para a Madeira e Brasil, onde exerceu o seu negócio, sendo um empresário de sucesso, nos tempos difíceis que se atravessam.

Na Madeira chegou a ser presidente do clube de futebol, União da Madeira, e, actualmente, é o Presidente da Assembleia-Geral do Sporting Clube da Covilhã e seu segundo sócio benemérito.

Além do SCC, também aos bombeiros e outras colectivas, desportivas e não só, tem apoiado financeiramente, num acto de benemerência.

As Minas da Panasqueira haviam encerrado no ano de 1993 mas, após dias difíceis, surgiram novas perspectivas laborais, precisamente no ano em que completaram um século de laboração, em 1995, tendo reaberto uma vez que o valor do tungsténio, no mercado mundial de volfrâmio, atingiu um preço compensatório e favorável à exploração do minério.

Segundo um interessante trabalho de Fabião Baptista, inserido no “Notícias da Covilhã” de 21-04-1995, verificamos como tudo começou.



Com o Carvão vem o Volfrâmio



Decorria o ano de 1895.

O Inverno ia agreste. Lufadas de vento siberiano eram coadas pelas acerosas agulhas dos frondosos pinhais. Bátegas de água, fustigadas pela ventania, tamborilavam nas vidraças das janelas quase a desconjuntar-se. O rio Zêzere, esse apresentava enorme cheia, alargando as courelas e tapadas adjacentes ao leito do rio.

Indiferente a tudo isto, Manuel dos Santos, com os pés estirados em direcção ao calor acariciador que vinha da braseira, lia atentamente o “Diário de Notícias” .

A leitura era interrompida pela abrupta entrada de uma das suas filhas, que lhe anuncia a chegada do carvoeiro, o Pescão de Casegas. Manuel dos Santos manda entrar de imediato o homem, pois tem grande necessidade de falar com o Pescão.

“Olha lá, ó Pescão, nas terras onde costumas fazer carvão, nunca encontraste pedras reluzentes?”

- “Por sinal, patrão – retorquiu o carvoeiro – tanto na Panasqueira, como no Cabeço do Pião, tanto na Madorrada, como no Vale Torto, quando faço as “torgas”, aparecem sempre uns calhaus negros, lascados, muito luzidios e pesados e outros transparentes como o vidro. Todos eles brilham bastante à luz do sol. Se o patrão quiser, posso trazer-lhe uma “taleigada” deles, quando voltar com a nova saca de carvão”.

Manuel dos Santos, que vivia numa solarenga casa na Barroca do Zêzere, ao fundo do Povo e muito próximo da capela de S. Romão, indagou deste modo o seu solícito fornecedor de carvão, porque momentos antes havia lido no “Diário de Notícias” um anúncio chamando a atenção para a provável hipótese de existência em solo português de importantes jazigos de minérios, ainda por explorar.

Deste modo, no próximo fornecimento de carvão, o Pescão de Casegas lá trazia a prometida sacola, repleta de pedras negras, esverdeadas, amareladas, translúcidas, brancas, brilhantes e transparentes.

Manuel dos Santos era um abastado proprietário rural, homem muito vivido, deveras perspicaz e sempre metido em negócios.

Logo que teve na sua posse as tão ambicionadas “pedras”, foi de imediato a Lisboa, à direcção que vinha indicada no anúncio do “Diário de Notícias”, tendo-se avistado com o eng.º Silva Pinto, professor catedrático em mineralogia.

Procedendo às necessárias análises clínicas e laboratoriais, veio a saber-se que se estava na presença de enorme riqueza, pois o subsolo daquela região da Panasqueira escondia no seu seio um precioso jazigo de volfrâmio (as pedras negras, pesadas, lascadas e reluzentes), cassiterites, pirites e calcopirites (os penedos amarelo-esverdeados) e quartzo hialino (os minerais transparentes e parecidos com o vidro).

Aconselhado pelos analistas, Manuel dos Santos, ao regressar à Barroca do Zêzere, trata logo de comprar uma boa porção de terreno, registando de seguida uma concessão de minérios, em seu nome, com a denominação de Minas da Panasqueira.

Seria interessante ver o desenvolvimento desde grande negócio, que transcendeu Manuel dos Santos, deu trabalho a milhares de mineiros, por esses anos fora, com períodos áureos, mas temos que respeitar o espaço deste jornal.

No entanto, não quero deixar de registar que, no sítio designado “Mina Cimeira” se rasgaram as primeiras galerias, antes de 1910, e se em 1934, o número de operários era de apenas 759, subiu rapidamente para 2000. Em 1942, já era de 4457 e em 1943, de 5790. Se somarmos a estes números mais 4780 operários que se empregavam nos trabalhos do “quilo” (trabalhadores por conta própria, vendendo depois o minério à mina), as Minas da Panasqueira chegou a empregar 10.750 trabalhadores.

De 1942 a 1944, altura da II Grande Guerra Mundial, novamente a volframite conhece uma procura nunca dantes vista. O mercado mineiro desenvolve-se. É a época do “salta-e-pilha”.

Depois foi a grande crise. No dia 12 de Julho de 1944, o Governo proíbe, em território nacional, toda a exploração e exportação de volfrâmio. É o despedimento geral. Apenas ficam alguns operários para vigilância, conservação e reparação de todo o espólio que ficou inerte e paralisado.

Posteriormente, até aos dias de hoje, as minas voltaram a funcionar em pleno, com os “homens toupeiras” a arrancar às entranhas o precioso mineral, seguindo-se novamente crises e períodos de alguma estabilidade, como já foi referido.

(In Jornal O Olhanense, de 1 de Outubro de 2010)

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