2 de dezembro de 2010

NOSTALGIA

 Na onda nostálgica que nos vai envolvendo, vão surgindo, de quando em vez, encontros memorizando esses tempos de outrora, com a esperança de reunir uns quantos apaniguados em redor de uma causa que os une, muitas vezes distantes, em décadas, no tempo.

Foi assim que, depois dum primeiro encontro se ter realizado há uns anos, surgiu o segundo jantar de saudade do extinto “Estrela de S. Pedro”, no dia 20 de Novembro.

As duas dezenas de participantes que confraternizaram, recordaram também fotografias de meninos e moços, em redor do então Centro de Recreio Popular Estrela Desportiva de São Pedro, cujo evento ocorreu num restaurante desta Cidade. Entre outras memorizações, um programa de festas do 17º aniversário da fundação do Estrela de São Pedro e 8.º da sua filiação na FNAT, datado de 16/11/1961.

O carinho que perdura nas gentes que conheceram o “Estrela”, e o viveram, quer como dirigentes, integrantes de peças teatrais, rancho folclórico ou em jogos de mesa, quer como atletas nas várias modalidades desportivas, para além do futebol, como o atletismo, levou a transpor para o papel alguns registos plenos de interesse sobre a génese do Estrela.

E foi de elementos recolhidos de Manuel Ricardo Sousa Torrão, de 80 anos, único fundador da Colectividade presente, dos pouco mais de quatro ou cinco vivos, que veio a informação.


A rapaziada da freguesia de S. Pedro, e não só, daquela época de meados dos anos quarenta do século XX, juntava-se, para cavaquear, numa varanda que, nesses tempos, então existia entre as Ruas Marquês d´Ávila e Bolama e Visconde da Coriscada, e, ali perto, a Rua da Estrela.

Quando chovia, era a loja de bicicletas do Julinho, filho do Francisquinho da Padaria, ali mesmo à esquina, onde hoje é o Restaurante Estrela (mais conhecido por Repolho) que dava guarida aos rapazes da sua idade, ele que também viria a ser fundador do Estrela.

A proximidade dos meios tecnológicos ainda se encontrava a léguas de distância no tempo, e ninguém sequer adivinhava que o homem haveria de um dia chegar à lua, e até a televisão, a preto e branco, só viria a surgir nos finais da década seguinte (1957).

Os bailaricos eram ao som de grafonolas.

O jogo da bola, com que germinaram a maioria das colectividades de bairro, era então o entusiasmo da rapaziada.

E, segundo conta Manuel Torrão, as primeiras bolas que utilizavam eram feitas por eles, procurando fio no lixo das abundantes fábricas de lanifícios da altura. Mas como não saltavam, iam ao Matadouro Municipal, então existente na Covilhã, buscar bexigas de animais que depois enchiam e às quais enrolavam o fio das lixeiras fabris, ficando assim as bolas a saltar.

Formou-se então a Colectividade à qual se deu o nome de Estrela de S. Pedro, dado o local onde se encontravam, que formava ali como que uma estrela, e também com o fim de evitar conflitos entre o grupo, já que uns eram do Sporting, outros do Benfica ou do Belenenses.

Resolvido o problema, o Julinho das bicicletas dava uma ajudinha para que se arranjassem umas bolas melhores e, então, passou a vender rebuçados do concurso de cromos do futebol. A quem saísse o “número da bola” levava a bola de cauchu (borracha), ele que sabia onde estava colado esse rebuçado…

Mais tarde, adquiriam as bolas velhas ao Sporting da Covilhã.

A primeira Sede da novel colectividade foi exactamente a loja do Julinho; daqui passaram para o salão paroquial, sendo o Padre Carreto que suportava o custo das bolas, mas tinham que resolver o problema da Sede pelo que passaram para a Rua do Ginásio, num prédio do Alberto alfaiate. Transferiram-se depois para um prédio perto da Rua Dr. Almeida Eusébio, por cima da Lavandaria Moderna, mas, por falta de dinheiro, tiveram que sair, tendo que se socorrer das instalações da FNAT (hoje INATEL), na R. Marquês d’Ávila e Bolama (prédio do Meneses), seguindo daqui para a R. Vasco da Gama (frente à Casa do Menino Jesus), e, por último, vieram a encerrar, por cima do local onde foi a primeira Sede provisória.

(In “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão”, de 02/12/2010, e a sair no Jornal “Olhanense”)











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