29 de março de 2011

QUANDO OS SERRANOS JOGAVAM NA PRIMEIRA

Das memórias do clube serrano, nos bons velhos tempos do futebol de primeira – primeira divisão, entenda-se, hoje I Liga – deixo algumas referências à última participação do Sporting da Covilhã (SCC), na então I Divisão, numa senda de 13 participações quase consecutivas, interrompidas somente na época 1957/58.

Reporto-me, evidentemente, aos princípios dos anos sessenta do século passado, em que o SCC, mesmo enfrentando várias crises, misturadas com vários êxitos e a participação de valorosos atletas, conseguia levar os covilhanenses ao fervor clubista, num direccionar domingueiro para o Estádio Santos Pinto, calcorreando, muitos, a pé, a subida da rua do antigo hospital, de acesso ao campo.

Os pinheiros que abundavam atrás do campo de futebol, muitas vezes serviam para os magalas do extinto Batalhão de Caçadores 2 se empoleirarem e, assim, verem parte do jogo, com o beneplácito da GNR, força militarizada para o local nessa altura, que, entretanto, não consentia o mesmo à rapaziada que não tinha posses para adquirir bilhete.

Certo é que o clube serrano ainda passou, duma forma efémera, pelo futebol de primeira, nas épocas 1985/86 e 1987/88, já em campos relvados, mas longe do frenesi do futebol de outrora, mesmo em campos pelados, em que as vedetas do futebol serrano eram quase que idolatradas – caso de Simony e do guarda-redes Rita, por exemplo.

Nessa altura, vários atletas permaneciam no clube por vários anos. Vinham poucos reforços, e, outros, por cá se radicaram e casaram, caso do Martin, do Reynolds e do Leandro, estes dos primeiros tempos.

Depois, outros se seguiriam, perenes na memória dos covilhanenses, quando a aspiração da subida – já lá vão quase cinquenta anos – era quase uma insofismável obrigação, a que os dirigentes se empenhavam junto dos associados e covilhanenses.

O famoso treinador Manuel José e o antigo atleta serrano, Maçarico, entre outros, encontraram na mulher covilhanense a ideal companheira das suas vidas.

Reportando-me à última participação do SCC na I Divisão, na década de sessenta, essa época de 1961/62 envolveu a esperança de não deixar cair o clube naquele que foi um longo interregno de vinte e três anos – eu próprio fiquei esperançado que o regresso à primeira seria inevitável, quando, no final do último jogo, no Santos Pinto, com o Olhanense (SCO), desse Verão de 1962, descia a calçada do estádio para a cidade.

A esperança, depois de se conseguir manter o clube entre os maiores, na época anterior, ao derrotar o Vitória de Guimarães, traduziu-se num esforço, então para a época 1961/1962, na contratação de novos atletas, já que, ainda na época anterior, o clube fora eliminado, logo na primeira eliminatória, pelo SCO, no conjunto das duas mãos, apesar de militar na divisão inferior. Pontificavam neste clube os jogadores Alfredo, Luciano, Madeira, Reina, Parra, entre outros. O SCC desistia também dos juniores nos distritais, volvidos dezassete anos de participação contínua, tendo sido catorze vezes campeões.

E depois de um contratempo em não se poder realizar a Feira Popular do Sporting, para obtenção de fundos na ajuda ao clube, surgem em Agosto as notícias da contratação dos atletas Adventino, Adriano e Carlos Alberto, respectivamente, do Lusitano de Évora, Boavista e Leixões.

E, já em Setembro, vinham juntar-se Palmeiro Antunes, da Cuf; e, para interior e médio de ataque, chegavam os espanhóis Chacho, do Oviedo, e Patiño, do Corunha, elementos que logo se evidenciaram no encontro com o Beira-Mar, na festa de homenagem e despedida do Martin, ganhando por 5-1. Mais tarde veio o brasileiro Joab.

Começava o Campeonato Nacional da Primeira Divisão, em 24 de Setembro de 1961 e, para o primeiro encontro, em Olhão, defrontava o regressado SCO, perdendo o encontro, no derradeiro minuto da partida, por 0-1, arbitrado por Francisco Guiomar, de Beja, partida que rendeu a soma de 30.522$50, cabendo ao SCC 7.167$00. No entanto, os serranos viriam a ganhar o jogo da 2.ª volta, na Covilhã, por 2-0, o que não evitaria a descida de divisão do SCC.

Neste ano o clube covilhanense acabaria por empatar com o Benfica, na Luz, por 1-1, e ganhar na Covilhã, por 2-1.

O valoroso guarda-redes Rita, do SCC, ingressaria no Benfica e ao treinador Szabo iria juntar-se, como secretário-técnico, Mariano Amaro.

(In Tribuna Desportiva do dia 29-03-2011)

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