Último
dia do mês
de junho do ano da graça de 2012 - o da "era continuada das
crises".
O autocarro
foi a caminho do Estádio do Inatel, em Lisboa, para um encontro com centenas de
colegas, suas famílias e amigos, no centenário da multinacional que a todos envolveu.
Alegria,
amizade, dinâmica, solidariedade. No final, os motoristas dos autocarros
de Castelo Branco e da Guarda informam,
depois de receberem reclamações pela sua ausência, que só podiam circular com
as viaturas uma hora mais tarde, e, ao frio, com crianças, lá fomos vendo
partir os colegas e sua comitiva para os outros ponto do País. Responsabilidades
da "Cosmos", com o regresso, tardio, à uma hora e vinte da manhã.
Na
ida, aproveito alguma leitura dos cadernos e revistas do Expresso, que o colega
de viagem acabara de comprar na área de serviço de Abrantes. Para além dum
texto de Pedro Mexia, delicio-me com a clarividência da escrita desenvolta de
Clara Ferreira Alves. E, neste contentamento pelo orgulho e amor-próprio
nacional face ao êxito dos homens da redondinha, no Europeu, sem descurar o
"nosso" craque, salvador da pátria futebolística, uma “descontente”
forma de sentir a glória de um rapaz, na comparação com a desgraça de milhares
de seus compatriotas.
E a
cronista diz: "Conheço uma rapariga que todos os dias faz quatro horas de
transportes públicos para acumular dois salários mínimos. Conheço brilhantes
médicos em hospitais públicos quando podiam ter escolhido brilhantes carreiras
em hospitais privados. Conheço cientistas e militares com sentido de missão que
ganham menos de dois mil euros por mês. Conheço estudantes pobres que não
desistem das notas. Conheço estudantes ricos que não desistem de trabalhar como
se fossem pobres. Conheço jovens atletas que treinam fora das horas de estudo e
trabalho por uma medalha. Sei de jovens idealistas em balcões e call-centers,
velhos dignos que comem uma vez por dia, imigrantes explorados que trabalham
sete dias por semana para poderem ganhar mais. Sei de gente doente que todos os
dias vai a luta e de gente sã que não desiste da gente doente. Sei de gente que
sofre em silêncio e de gente que silencia o sofrimento dos outros
aliviando-o".
E,
ainda: " A proeza física do grande entretenimento que é o futebol ainda é
mais admirada do que o Prémio Nobel da Medicina ou da Literatura".
Para
terminar: "Vemos o nosso deus, o nosso herói, o nosso Hércules, o nosso
Aquiles, o nosso Alexandre, enfiar bolas numa baliza e ensaiar uns passos de
dança mitológica". "(...) O que ninguém quer saber é dos pequenos
heróis do quotidiano quando ali, naquele instante de glória coletiva, o nosso
Ronaldo marca um golinho, E assim, um rapaz de vinte anos, com umas pernas
dotadas e um cabelo descampado, tornou-se o carregador oficial da bandeira e do
amor-próprio de um país desesperado e humilhado. Faz sentido? Na verdade, o
talento do rapaz é dele, mas foi apurado nas melhores equipas estrangeiras em
países estrangeiros que lhe pagam o suficiente para ele poder estoirar Ferraris
e top models, comprar filhos na América, comprar uns amigos que atiram pessoas
ao Tejo quando estão chateados, fazer casas com o Souto Moura e, de um modo
geral, ganhar o dinheirinho do BES e viver como um princepezinho".
Os
gregos, com um papel importante na história e na cultura do mundo,
esvasiaram-se do seu contentamento e, nalgumas mentes de hoje, talvez lhes
tenham surgido o pensamento de uma "ressurreição". Se se pudessem
levantar dos seus túmulos os filósofos Sócrates (nada de confusões...), Platão,
Aristóteles, Ptolomeu, Diógenes, para poderem, duma forma eloquente, dizer à
senhora Merkel que a pujança da Alemanha
é humilhante para o resto da Europa que está arruinada, cada vez mais em cada
dia que passa, seria um grande lenitivo para as gentes gregas, e não só! Não
queremos uma ditadura europeia.
No
descontentamento dos cortes das pensões e dos salários na função pública, veio
agora a satisfação pela decisão do Tribunal Constitucional, já que Cavaco
Silva, como já nos habituou, não passa tão só duma cabecinha pensadora, e, então, encolhe os ombros nas decisões que
devria tomar em tempo oportuno.
No
contentamento dos “novos oportunismos” de licenciaturas, mais um caso para ver
como vai o Parlamento, o Governo, o País, cheio de doutores da mula ruça.
Outrora, orgulhosamento líamos nos livros da instrução primária: Portugal é um
país de escritores, de cientistas, de sábios e de santos. Hoje, é um Portugal
de muitos chicos-espertos, de oportunistas, de mentirosos e de corrompidos.
Vale a pena meditar!
( In jornal Olhanense, de 15.05.2012 e Notícias da Covilhã, de 18.07.2012)
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