No
pouco tempo que ando a pé, lamentando tal comodismo, observo, refletindo sobre
algo que vejo na minha cidade, umas coisas do meu agrado, outras de torcer o
nariz…
Dou
graças por ver dois dos meus antigos professores inseridos em placas toponímicas
da minha Covilhã.
Manuel
de Castro Martins
foi um daqueles professores que me incutiu o gosto pela escrita, desde o Ciclo
Preparatório, nos finais da década de cinquenta; já sua extremosa esposa, Edite
Castro Martins, sem papas na língua, reconheceu que eu sabia mais francês que o
Petit que brilhava nas orais…
Porque
isto eram outros tempos, do rigor e de quem só passava de ano quem sabia, e se
sabia…
Manuel
João Calais, arquiteto, outro dos meus professores de outrora, também com
direito a uma placa toponímica. É o reconhecimento da cidade a quem à mesma
tanto deu do seu saber, da sua vida profissional, e dos estudos feitos sobre
monumentos da região.
Já
outros nomes me deixam alguma reflexão do porquê de se encontrarem com direito
a esta “veneração”. Eu que sou contra o excesso de bairrismo que leva à mentira
declarada. Em muitos casos das minhas pesquisas deparei-me com falsidades no
que haviam escrito, enfim, era o tempo em que as pessoas se podiam iludir.
Mas
um dos meus porquês, é o facto de não reconhecer porque é que a edilidade,
teimosa, não confere dignidade de inserção numa das placas toponímicas da
cidade, a um Homem insigne e respeitador que deu pelo nome de Padre José Domingues
Carreto, devendo o Largo Manuel Pais de Oliveira (quem foi esta figura?), ali
mesmo junto ao local onde foi o seu múnus, ser substituído pelo nome do sacerdote
que a cidade muito lhe deveu.
Transportando
estas minhas observações do setor das ruas da cidade, agora para outros
horizontes, vai uma reflexão para o dia em que, na celebração do chamado ferido
municipal, se reconhecem, homenageando, determinadas figuras ou instituições
citadinas.
Se
algumas são, de facto, merecedoras indiscutíveis desse reconhecimento, outras
deixam a população a assobiar para o lado quando têm conhecimento dessas
decisões camarárias…
Porque
até mesmo não fica bem á edilidade anunciar precocemente quem vai homenagear,
como tem feito por várias vezes, retirando aos homenageados e à população,
aquele pendor de surpresa.
E
porque isto de surpresas, neste país desmazelado, já deixam de o ser, tal o
hábito a que nos acomodaram nestes brandos costumes; e já que as notícias por
antecipação são também como que uma tradição, sou tão só a sugerir o meu ponto
de vista, na homenagem que urge seja feita a pessoas e instituições que,
certamente nem gostarão de aqui se ver referenciadas, tal a sua humildade, mas
cuja missão é credora desse reconhecimento, nomeadamente:
-
As Conferências de S. Vicente de Paulo da Cidade, representadas pelo seu
Conselho de Zona, que tanto têm trabalhado e solucionado inúmeros problemas a
centenas de carenciados, muito deles da pobreza envergonhada;
-
O digno arcipreste da cidade, Padre Fernando Brito dos Santos, duma humildade
sem precedentes e que na doença não vê obstáculo para um trabalho fecundo em
prol de toda a cidade, ele que já deveria ter tido o reconhecido do prelado com
a sua nomeação de cónego. Se for necessário levanta-se um mar de jovens de
outrora, adultos-jovens de hoje, e também a juventude atual para recordar tudo
o que lhe devem, mesmo nos tempos em que o silenciamento era lei.
- José Manuel Amarelo
Correia – um homem de envergadura no apoio aos que enveredaram pelo alcoolismo
e outros males da sociedade de hoje, num entusiasmo sem precedentes, fundando
instituições para o apoio aos mesmos.
Muito
haveria que dizer, mas fico por aqui porque o espaço o não permite, deixando
contudo ainda muitos porquês por contestar.
(In “O Olhanense” e “Notícias da Covilhã”, de 31.07.2012)
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