Dois
nomes célebres mundialmente, homónimos em Armstrong, ambos norte-americanos,
tiveram neste últimos dias destinos diferentes. Lance Armstrong foi erradicado
do ciclismo e desapossado das suas sete vitórias na Volta à França, devido a
problemas de dopagem. Neil Armstrong, um astronauta que pisou a Lua pela
primeira vez, realizando o sonho de muitas gerações, morreu em 25 de agosto, a
um sábado. Mas foi num domingo, perto das 20 horas portuguesas, a 20 de julho
de 1969, que o módulo lunar lá chegou e Neil afirma, já em solo lunar: “É um pequeno passo para um homem, um salto
gigantesco para a Humanidade”.Recordo-me deste dia, pois fui acompanhando
os acontecimentos, como milhares de portugueses. Seguia viagem de autocarro,
com outros militares, de regresso de fim de semana ao Regimento de Artilharia
Ligeira n.º 4, em Leiria, onde prestava serviço militar.
Voltando-me
agora para a nossa Volta a Portugal em Bicicleta – “A Volta” – desejo recordar
que foi na minha adolescência que se deu um facto algo importante com o
entusiasmo dos ciclistas, de passagem pela Covilhã a caminho da meta, então nas
Penhas da Saúde.
Nesse
dia 12 de julho de 1962, a
um domingo, resolvi, pela primeira vez, caminhar pelos atalhos da Serra,
conjuntamente com meu irmão, mais novo, e outros covilhanenses, até às Penhas
da Saúde, sem autorização dos pais. Viviam-se outros tempos.
Pelo
caminho, o entusiasmo que a “Volta” originava, estrada acima, com formigueiros
de gente pelas bermas e atalhos; a
passagem das caravanas, a distribuição de bonés e t-shirts, publicidade e
alguns brindes; e também muita gente em pontos estratégicos para verem os
ciclistas, com as suas merendas. E um sol abrasador. O entusiasmo e o frenesim
pelos heróis da estrada, mais conhecidos: José Pacheco, Mário Silva, Sousa
Cardoso, Carlos Carvalho, João Roque, pois que Alves Barbosa penso que já não
corria, até que, na estrada, bastante distanciado, surge um corredor, como
nunca se viu com uma enorme diferença de tempo em relação aos outros ciclistas
– mais de 20 minutos –, esse homem era João Centeio, creio que do Águias de
Alpiarça.
Este
vencedor da etapa das Penhas da Saúde já faleceu. Só a partir de 1971 surgiram
as metas na Torre, sendo o primeiro a vencer a etapa, em 1971, o também malogrado
Joaquim Agostinho, do Sporting.
Os
portugueses é que dominavam, até que, com tantas tentativas, o belga
Houbrechts, da Flandria, dá a volta à nossa “Volta” e ganha a mesma em 1967.
Seguem-se
cinco anos, na era de Joaquim Agostinho, de novo com vencedores portugueses,
para, em 1973, o espanhol Manzaneque, da Messias, estragar a festa dos
portugueses… Surge uma dúzia de anos sem a “intromissão” de estrangeiros, agora
na era de Marco Chagas e Venceslau Fernandes, até que começa a surgir também a
concorrência estrangeira e, então, assistimos este ano a mais um vencedor da
estranja – o espanhol David Blanco – que acaba por liderar, no nosso país, o
maior número de “Voltas” ganhas – cinco.
A
Volta a Portugal em Bicicleta dos últimos anos tem assistido a um entusiasmo
acrescido da Liberty Seguros na sua
participação muito ativa, onde já teve uma equipa representada. Este ano foi a
patrocinadora principal da “Volta” e, por todo o lado, foi a vivacidade das
suas gentes que fizeram vibrar mais os portugueses, num grande entusiasmo pelas
suas cores, neste país fortemente abatido pelas crises, para as quais os nossos
governantes não conseguem encontrar antídoto para os maleitas que a todos os
portugueses afetam, melhor dizendo, uma situação mórbida que permanece quase ad aeternum. Enganei-me: alguns
portugueses, que devem julgar-se “de primeira”, nunca souberam o que era crise,
e eles são sobejamente conhecidos de todos os portugueses.
Tem
sido duma forma salutar que esta multinacional americana tem dado o exemplo de
como há ainda muitos portugueses (alguns vindos de empresas do estrangeiro) que
sabem incutir formas de trabalhar, onde a gestão de excelência e o trato
familiar com todos os seus obreiros são a única forma de andar em contraciclo
às crises, arrastando e conseguindo a aderência de multidões, nas várias
vertentes de atuação.
E a Volta a Portugal em Bicicleta tem sido um desses grandes exemplos de
forte popularidade, notoriedade e entusiasmo por todo o seu mundo de trabalho.
Haverá mais explicações para o sucesso?(In Notícia da Covilhã, de 30.08.2012)
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