3 de janeiro de 2013

A LONGEVIDADE DE UMA CONFERÊNCIA VICENTINA

Parece que ainda há pouco tempo celebrámos, com simplicidade, mas com muita fé, o centenário da Conferência de S. Vicente de Paulo, da Paróquia da Conceição, da Covilhã, e já estamos a caminho de mais uma década.
Efetivamente, se são momentos difíceis os que hoje atravessamos, numa situação generalizada de crise, não só financeira mas também de valores, os tempos em que foi fundada esta Conferência, na já longínqua 5ª Feira de 19 de março de 1903, também não eram melhores.
Jantar de Natal do Conselho de Zona da Covilhã.
Vinha-se do crepúsculo do século XVIII, com o predomínio de um anticlericalismo que grassava pela Europa e bafejava já Portugal, para depois engrossar num ódio pela religião católica, nos primeiros anos da República que se haveria de implantar em Portugal, volvidos sete anos.
No ano em que vamos lembrar estas onze décadas da nossa Conferência, será também o mesmo em que todo o Mundo católico irá comemorar dois séculos do nascimento do fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, o italiano beato Antoine Frédéric Ozanam. Ele, que com mais seis jovens universitários, fundou em maio de 1833 a Conferência da Caridade, a qual, a partir de 1835, passaria a ter a designação atual.
O ano 2013 vem rico de efemérides na vertente da Caridade, se atentarmos que também se devem ter em conta os 180 anos da criação da primeira Conferência, em França; e ainda os 160 anos da morte de Frédéric Ozanam, que ocorreu em 8 de setembro de 1853.
A Covilhã sempre teve um grande espírito caritativo, sendo de notar que já completaram o seu centenário mais algumas Conferências de S. Vicente de Paulo da Cidade, mas sabe-se que a da Conceição jamais teve interrupção no seu percurso de bem-fazer ao próximo. Atualmente é a que assiste maior número de necessitados, nas várias vertentes de pobreza.
Esta Conferência (da Paróquia da Conceição) embora não tenha sido das primeiras a ser criada em Portugal, já que surgiu volvidos 44 anos da primeira Conferência no nosso País (mais propriamente na Igreja de São Luís de França, em Lisboa, no ano de 1859), é, no entanto, das mais antigas, se tomarmos em linha de conta que a Sociedade de São Vicente de Paulo já está espalhada por 900 grupos paroquiais em Portugal onde colaboram 15 mil pessoas. Encontra-se ainda ramificada por quase todos os cantos do Planeta.
Jantar de Natal, do Conselho de Zona da Covilhã, com o fadista Luís Pinto.
Foi, pois, numa altura também muito difícil, de grande pobreza, que a Covilhã viu criada esta Conferência, há quase 110 anos, exatamente no ano em que viria a falecer o Papa Leão XIII, com 93 anos, a 20 de junho de 1903; e viu ser eleito Pio X que viria a ser canonizado. E, para servir de exemplo, na pobreza que grassava pelo Mundo dessa época, ele, Pio X, de seu nome José Sarto, nascido no seio de uma família necessitada, era tão pobre que ele, enquanto criança, se deslocava a pé para a escola, que distava sete quilómetros, levando os tamancos pendurados às costas, para os poupar, calçando-os só á chegada.
Em Portugal, vislumbrava-se o fim da monarquia, então no tempo de D. Carlos, e, na Covilhã, em 1903 os dias não eram melhores, pois a edilidade confrontava-se com dificuldades de liderança da Câmara, substituindo-se com frequência as figuras do Dr. José Pereira Barata, Dr. Alberto Deodato da Costa Ratto e Dr. João Nave Catalão.
Não vamos falar das obras assistenciais e trabalho fecundo que esta Conferência efetuou, e continua a prestar nas inúmeras situações de apoio aos necessitados, nas várias vertentes da pobreza, porque já são do conhecimento público.
Restou-nos, desta vez, tão só situar a longevidade da Conferência, historiando um pouco dos tempos percorridos.
Para além do trabalho a favor dos necessitados, ao longo destes 110 anos ininterruptos, também é bom ter em conta que muitas foram as pessoas (os confrades, de ambos os sexos) que se voluntariaram em prol deste serviço, algumas vezes com sacrifício, e vários assistentes eclesiásticos, sem os quais a Conferência não poderia existir.
Infelizmente, quando nos encontramos numa evolução, a todos os níveis, que não se compara como in illo tempore, vamos ter que sentir, no palpitar dos nossos corações, que o tempo incómodo da pobreza não vai parar, e, antes pelo contrário, irá sobejar de uma maior agressividade na mesma, por estes anos fora.

(In "Notícias da Covilhã", de 03.01.2013)

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