A
sua vida não foi muito longa. Como também não foi extensa a sua vivência na
terra que o viu nascer.
Exatamente
dois meses antes de começar a Primeira Guerra Mundial, a Covilhã via aumentada
a população, na freguesia da Conceição, com mais um dos seus ilustres filhos.
Em 28 de maio de 1914 vinha à luz do dia o cidadão José Guilherme de Melo e
Castro, filho do Comendador Guilhermino de Melo e Castro.
Com
uma grande dinâmica, capacidade de trabalho, espírito de justiça e impregnado
pela generosidade, este covilhanense desassombrado, que fez os seus estudos
secundários em Espanha, acabaria por se licenciar em direito na Universidade de
Coimbra.
Presidiu
à Associação Académica, enquanto estudante, e logo organizou a primeira viagem
de estudantes de Coimbra, a Angola e Moçambique, no ano 1938, assim como várias
deslocações ao estrangeiro, do orfeão e outros agrupamentos conimbricenses.
Foi
ainda na sua presidência (1937-1939) que, ao terminar o curso de Direito em
Coimbra, Melo e Castro vê a Associação Académica de Coimbra conquistou a Taça
de Portugal, em futebol, substituindo o então designado Campeonato de Portugal.
Estava-se
no dia 25 de junho de 1939, no Campo das Salésias, em Lisboa, e o opositor era
o Benfica que viria a ser vencido por 4-3. Já, para chegar à final, a
Académica, liderada na presidência pelo estudante covilhanense, eliminaria o
Sporting da Covilhã, com os resultados, em Coimbra de 5-1 (14.05.39) e, no
Santos Pinto, de 2-3, na 2.ª mão (21.5.39).
No
campo das letras, foi fundador, com o Professor Miller Guerra, do jornal “Via
Latina”. E também redator da revista “Estudos”.
Veio
a fixar-se em Lisboa onde passou a exercer advocacia. Mas de 1944 a 1947 foi
Governador Civil de Setúbal e, a partir de 1949, deputado á Assembleia Nacional
por este distrito. Na Assembleia Nacional, assim como na imprensa, dedica os
seus temas à política social. Durante três legislaturas foi Presidente da
Comissão Parlamentar de Política e Administração Geral e Social.
Em
maio de 1954 é nomeado Subsecretário de Estado da Assistência Social. Foi bem
marcada esta sua passagem pelos serviços sociais, dando impulso decisivo à luta
contra a tuberculose, tendo também desenvolvido a prevenção da mortalidade
infantil.
Em
dezembro de 1957 foi nomeado Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
cargo que ocupou até 11.10.1963. Logo a sua atividade se orientou
predominantemente para o incremento e criação de novas receitas para a
assistência. Esta sua passagem pela Misericórdia ocorreu num tempo próprio,
carente em vários domínios: político, económico e social. Mas, Melo e Castro
era, na sua essência, um homem de grande atividade, com uma febre de
transformação e mudança. E foi isso que fez este Homem, ao longo de mais de
seis anos na Misericórdia de Lisboa, e não só.
Com
o intuito de servir os outros – o seu próximo – sublinha-se, sem falácias, teve
grande atenção e o carinho especiais a merecerem-lhe os domínios da ação social
e da saúde.
Criou
o Centro de Reabilitação do Alcoitão, para reabilitação de diminuídos motores e
centro de preparação do pessoal especializado para todo o país, e, ele mesmo,
garantiu o financiamento, inventando, em 1961, o Totobola, tendo também sido
ele que assim batizou as apostas mútuas desportivas, mandando, inclusive,
pessoal para ser formado em Inglaterra.
Mas,
apesar da sua vida, fértil de iniciativas e de grande dinâmica, se passar mais
fora da sua Terra Natal, mesmo assim, viria a ocupar cargos em instituições de
solidariedade social, na sociedade covilhanense, como aconteceu, de 1962 a
1966, no cargo de Presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários da
Covilhã, numa altura de muitos problemas no seio desta instituição, sucedendo a
seu pai, detentor do maior tempo neste cargo.
Agraciado
no estrangeiro; em Portugal foi nomeado Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas.
Em
1969, com as eleições legislativas, e como Presidente da Comissão Executiva da
União Nacional, desde 1968, querendo refrescar as listas, convidou, entre
outros, o Dr. Sá Carneiro para se integrar e negociar livremente nas listas a
apresentar, constituindo-se assim a Ala Liberal, da qual Melo e Castro foi o
seu mentor.
Muito
haveria a dizer desta figura que revolucionou o Estado Novo e, não tivesse
morrido aos 58 anos, possivelmente tentaria chamar à razão Marcelo Caetano para
a “democracia real” em que se estava empenhando, em vez de lhe ter partido a
corda e o ter deixado cair.
A
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa prestou-lhe uma grande homenagem, a título
póstumo, na Covilhã, em 27 de janeiro de 1985, tendo-se deslocado a esta cidade
mais duma centena de pessoas, vindas da capital.
(In "Notícias da Covilhã", de 02.05.2013)
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