2 de maio de 2013

UM COVILHANENSE QUE MARCOU A SOCIEDADE PORTUGUESA


A sua vida não foi muito longa. Como também não foi extensa a sua vivência na terra que o viu nascer.
Exatamente dois meses antes de começar a Primeira Guerra Mundial, a Covilhã via aumentada a população, na freguesia da Conceição, com mais um dos seus ilustres filhos. Em 28 de maio de 1914 vinha à luz do dia o cidadão José Guilherme de Melo e Castro, filho do Comendador Guilhermino de Melo e Castro.
Com uma grande dinâmica, capacidade de trabalho, espírito de justiça e impregnado pela generosidade, este covilhanense desassombrado, que fez os seus estudos secundários em Espanha, acabaria por se licenciar em direito na Universidade de Coimbra.
Presidiu à Associação Académica, enquanto estudante, e logo organizou a primeira viagem de estudantes de Coimbra, a Angola e Moçambique, no ano 1938, assim como várias deslocações ao estrangeiro, do orfeão e outros agrupamentos conimbricenses.
Foi ainda na sua presidência (1937-1939) que, ao terminar o curso de Direito em Coimbra, Melo e Castro vê a Associação Académica de Coimbra conquistou a Taça de Portugal, em futebol, substituindo o então designado Campeonato de Portugal.
Estava-se no dia 25 de junho de 1939, no Campo das Salésias, em Lisboa, e o opositor era o Benfica que viria a ser vencido por 4-3. Já, para chegar à final, a Académica, liderada na presidência pelo estudante covilhanense, eliminaria o Sporting da Covilhã, com os resultados, em Coimbra de 5-1 (14.05.39) e, no Santos Pinto, de 2-3, na 2.ª mão (21.5.39).
No campo das letras, foi fundador, com o Professor Miller Guerra, do jornal “Via Latina”. E também redator da revista “Estudos”.
Veio a fixar-se em Lisboa onde passou a exercer advocacia. Mas de 1944 a 1947 foi Governador Civil de Setúbal e, a partir de 1949, deputado á Assembleia Nacional por este distrito. Na Assembleia Nacional, assim como na imprensa, dedica os seus temas à política social. Durante três legislaturas foi Presidente da Comissão Parlamentar de Política e Administração Geral e Social.
Em maio de 1954 é nomeado Subsecretário de Estado da Assistência Social. Foi bem marcada esta sua passagem pelos serviços sociais, dando impulso decisivo à luta contra a tuberculose, tendo também desenvolvido a prevenção da mortalidade infantil.
Em dezembro de 1957 foi nomeado Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, cargo que ocupou até 11.10.1963. Logo a sua atividade se orientou predominantemente para o incremento e criação de novas receitas para a assistência. Esta sua passagem pela Misericórdia ocorreu num tempo próprio, carente em vários domínios: político, económico e social. Mas, Melo e Castro era, na sua essência, um homem de grande atividade, com uma febre de transformação e mudança. E foi isso que fez este Homem, ao longo de mais de seis anos na Misericórdia de Lisboa, e não só.
Com o intuito de servir os outros – o seu próximo – sublinha-se, sem falácias, teve grande atenção e o carinho especiais a merecerem-lhe os domínios da ação social e da saúde.
Criou o Centro de Reabilitação do Alcoitão, para reabilitação de diminuídos motores e centro de preparação do pessoal especializado para todo o país, e, ele mesmo, garantiu o financiamento, inventando, em 1961, o Totobola, tendo também sido ele que assim batizou as apostas mútuas desportivas, mandando, inclusive, pessoal para ser formado em Inglaterra.
Mas, apesar da sua vida, fértil de iniciativas e de grande dinâmica, se passar mais fora da sua Terra Natal, mesmo assim, viria a ocupar cargos em instituições de solidariedade social, na sociedade covilhanense, como aconteceu, de 1962 a 1966, no cargo de Presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, numa altura de muitos problemas no seio desta instituição, sucedendo a seu pai, detentor do maior tempo neste cargo.
Agraciado no estrangeiro; em Portugal foi nomeado Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas.
Em 1969, com as eleições legislativas, e como Presidente da Comissão Executiva da União Nacional, desde 1968, querendo refrescar as listas, convidou, entre outros, o Dr. Sá Carneiro para se integrar e negociar livremente nas listas a apresentar, constituindo-se assim a Ala Liberal, da qual Melo e Castro foi o seu mentor.
Muito haveria a dizer desta figura que revolucionou o Estado Novo e, não tivesse morrido aos 58 anos, possivelmente tentaria chamar à razão Marcelo Caetano para a “democracia real” em que se estava empenhando, em vez de lhe ter partido a corda e o ter deixado cair.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa prestou-lhe uma grande homenagem, a título póstumo, na Covilhã, em 27 de janeiro de 1985, tendo-se deslocado a esta cidade mais duma centena de pessoas, vindas da capital.

(In "Notícias da Covilhã", de 02.05.2013)

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