Está na ordem do momento. Há sempre um tema para uns dias,
umas semanas ou uns tempos. Por vezes, seguem em paralelo, assuntos diferentes.
Foi o caso Sócrates que, lá por isso, não deixou de se falar
nas sandices de Passos ou na decrepitude de Cavaco.
Mas, por ora, são as notícias do novo governo grego, sem
que, na simultaneidade, não deixem de nos sobressaltar os assassínios do auto
intitulado Estado islâmico.
Não é da Grécia antiga, da civilização helénica, de Esparta
ou das cidades-estado, de Leónidas, Clístenes, conhecido como o pai da
democracia, Platão, Péricles, Fídias, Címon, Alexandre “o Grande”, Míron, Pitágoras,
Sócrates (filósofo), Aristóteles, ou outros com que outrora me deliciava a
estudar, que se fala atualmente.
Quem diria que a Grécia da atualidade iria passar por
enormes dificuldades económicas e políticas, um país que hoje parece nada ter a
ver com a sua antiguidade?
Em Atenas, onde já estive, o povo é simpático; e é
encantador ver parte da monumentalidade e história gregas.
No século XX, meses antes de ir para o serviço militar
obrigatório, ainda me recordo de dar conta do fim da monarquia na Grécia. Na
antiga biblioteca municipal, ao jardim público, lia os jornais diários. O
último rei, Constantino II, surgia então na revista Flama, para o seu exílio,
em dezembro de 1967. Era irmão da rainha Sofia, de Espanha. Depois, surgiria a
ditadura militar, até 1974.
A Grécia foi o segundo país da Terceira Vaga de
democratização mundial – que Portugal inaugurou em 25 de abril de 1974, sendo
seguido pela Grécia, em 18 de dezembro desse mesmo ano, e depois por Espanha.
No dia 25 de janeiro de 2015 dá-se a grande reviravolta na
política grega, já esperada, com a vitória do partido da esquerda radical
Syriza; e Alexis Tsipras forma de imediato governo, chamando para as Finanças,
Yanis Varoufakis. Toma logo decisões importantes para o povo grego e empreende
deslocações a vários países da União Europeia (UE). A Grécia bate o pé mas a UE
mantém-se unânime nas sanções contra a Rússia.
Como interpretar os resultados das eleições na Grécia? O
primeiro gesto oficial do novo primeiro-ministro grego foi receber, de facto, o
embaixador da Rússia, e, pouco depois, o embaixador da China, pelo que deveria
ser o suficiente para focar as nossas mentes.
Segundo Pacheco Pereira, trata-se de “um primeiro-ministro que é mal-educado e não sabe vestir a roupa
própria para cerimónias protocolares”. Realmente, surge sempre sem gravata,
mas, atenção, meu caro José Pacheco Pereira, Alexis Tsipras prometeu usar uma
gravata azul que lhe foi oferecida pelo italiano Mateo Renzi, quando houver uma
solução viável para a Grécia.
No início desta crise, que redundou na situação a que chegou
a Grécia, chamaram-nos “porcos” – PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e
Espanha, sendo que os gregos foram decerto os mais desdenhados de nós. No
entanto, tal crise também nos uniu, olhando assim para as eleições uns dos
outros, tendo em conta ver nelas os sinais do nosso futuro. “O Conselho Europeu vai ter de passar a
entender com naturalidade que um dos seus membros passe a ser um dos principais
críticos das suas políticas”, nas palavras de Rui Tavares.
Qualquer solução, qualquer saída que venha a ser encontrada
para a Grécia irá refletir-se em toda a União Europeia. O que é certo a banca
grega está dependente do financiamento do Banco Central Europeu, pelo que uma
atitude de hostilidade face ao BCE poderá ser o fim para os gregos, levando ao
colapso da economia e à saída da Grécia do euro.
Mas se surgir boa vontade no encontro da disposição de
tolerância e paciência, para além da cooperação de todos os parceiros europeus,
será mais fácil esta crise se resolver, e todos virem a sair mais fortes dela.
Conforme pretendem os gregos, e certamente também os troianos, ligar o
pagamento da dívida grega ao crescimento económico do país é uma questão de bom
senso. Também alguns pensam que, em simultâneo, seja alargada a outros países
da zona euro, com dívidas grandes, como Portugal.
No caso da Grécia, penso que os credores deveriam
preferir receber menos e de forma mais segura do que ter o valor da dívida elevadíssimo
e, assim, a perigosidade de um dia os devedores invocarem da impossibilidade de
virem a satisfazer os seus compromissos naquele grito de “É impossível!”
Vamos também ver se este governo de gregos e troianos não
vai, mais tarde ou mais cedo, levar a uma instabilidade política que conduzirá
a novas eleições gregas dentro de meses, tendo em conta os dois partidos que
representam, diametralmente opostos, radicais, um da esquerda e o outro da
direita.
Todos dizemos que a Europa tem de mudar mas o Governo
português está estranhamente ausente, se atentarmos que todos nós pagamos uma
montanha de impostos e juros. E isto enquanto tivermos um primeiro-ministro que
parece muito mais ser um funcionário clandestino do governo alemão do que um
cidadão português num lugar do topo do Estado, que vai cumprindo servilmente só
aquilo que Merkel está obstinadamente interessada, isto é, o cumprimento, na
brutalidade, dos défices deste País.
Lembrem-se os senhores da Europa que foram os gregos que
inventaram a democracia na Antiguidade, pelo que, neste terramoto político,
surjam consensos, ainda que saídos do laboratório grego, tendentes a beneficiar
gregos e troianos, porque todos são filhos de Deus.
Mas, quem sou eu para fazer vincar estes desejos, se por
vezes me vejo grego para entender certas condutas, para além da Europa, no seio
dos próprios governantes portugueses?
(In "fórum Covilhã", de 10-02-2015)
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