Durante este ano de 2015 é celebrado o Ano Internacional da
Luz, numa decisão das Nações Unidas. É “o reconhecimento da importância das
tecnologias associadas à luz na promoção do desenvolvimento sustentável e na
busca de soluções para os desafios globais nos campos da energia, educação,
agricultura e saúde”.
Esta decisão da ONU aponta o facto de este ano coincidir com
a comemoração de alguns acontecimentos importantes relacionados com a luz,
segundo o ponto de vista da história da ciência, como é, por exemplo, um dos
mais relevantes, relativos a Einstein, sobre o seu trabalho respeitante ao
vínculo entre a luz e a cosmologia no contexto da relatividade geral, acontecido
em 1915, pelo que também se comemoram cem anos.
Vão-se comemorando também outros cem anos – os da I Grande
Guerra –, e os duzentos da derrota definitiva de Napoleão que deu origem à
Europa que a I Guerra Mundial viria a destruir. Para além destas efemérides
centenárias, outras se poderiam comemorar. É preciso dar tempo ao tempo, pois
daqui a dois anos, por exemplo, será o centenário do nascimento da União
Soviética.
Aparece assim o tempo, em variadíssimos significados, onde
surgem momentos duma riqueza sem fim, na vida de cada um, ainda que se tenham
passado, por vezes, tristes e ledas horas.
E se há um provérbio que diz que “A maior parte do nosso
tempo passa-se a passar o tempo”, já Miguel Esteves Cardoso refere que “Quanto
mais precisas para viver, mais tens de trabalhar e menos tempo tens para ti. O
maior dos luxos é o tempo. O tempo é o meu maior património”.
Há dias regressava com o amigo José Augusto de uma
instituição covilhanense, quando, no início da Rua da Indústria, uma forte
ventania parecia que nos iria levar pelos ares. Recordei então o tempo em que,
com os meus seis anos, algumas vezes me desloquei a pé, após as vinte e três
horas, tempo de encerramento da biblioteca municipal, onde meu pai trabalhava,
e, com ele, calcorreava os caminhos de terra batida, até à Pousadinha, onde
vivíamos. De inverno, por vezes surgia este forte vento que me afrontava, e,
logo ali, ao “Senhor de Jesus”, onde existia uma capela com esse nome, e como
era conhecido o início da Rua da Indústria, que assim não estava batizada, já
se formavam grupos de mulheres de xaile e homens de lancheira na mão, que
emergiam das saídas das fábricas de lanifícios. Era o tempo do auge da
indústria rainha na cidade laneira, e seus termos, ainda que, para os operários
não deixasse de ser de paupérrimos salários.
Mas, lá mais para diante, já decorridos uns dois ou três mil
metros, perto da Borralheira, já não havia luz na estrada, a não ser se
houvesse luar ou, de vez em quando, os faróis de alguma das poucas viaturas que
existiam.
Mas ocorre-nos uma pergunta, agora que já temos todo o tempo
livre (nem sempre é bem assim…), depois das reformas em que conseguimos
obtê-las em tempo, quanto tempo é que o tempo tem? Li há pouco tempo que tudo o
que existe tem 13.800 milhões de anos. É a idade do próprio Universo, o tempo
desde o Big Bang, a grande “explosão” criadora de tudo. Que o nosso sistema
solar, incluindo a Terra, formou-se há 5000 milhões de anos, tinha então o
Universo já 9000 milhões de anos de existência. Mas não obstante tantos números
do tempo (ficamos saturados pelo próprio tempo), é-nos referido que as
primeiras estrelas nasceram há 550 milhões de anos; e há 700 milhões de anos
foram formadas as primeiras galáxias do Universo – incluindo a nossa Via Láctea
que tem pelo menos 100.000 milhões de estrelas, uma delas o Sol, que fica num
dos braços da espiral. Mais tempo ainda: 9000 milhões de anos foi a formação do
Sol a partir de uma nuvem de gás e poeiras, compostas sobretudo por hidrogénio
e hélio; sendo que há 10.200 milhões de anos surgiu a vida na Terra, mais
exatamente as primeiras células. E, finalmente, como acima já foi referido, há
13.800 milhões de anos surgiu o Universo atual. A sua temperatura, de 270 graus
Celsius negativos, está perto do zero absoluto. E aqui estamos nós, a olhar
para trás no tempo, através da luz, desde os raios gama às ondas de rádio,
passando pela luz visível aos nossos olhos.
E, nesta de tempo falado, vivemos agora outro tempo, depois
de termos passado por duas Grandes Guerras, e, durante 13 anos, com início em
1961, as guerras coloniais, ainda com feridas por sarar, e sofrimentos que vão
das perdas de muitos jovens militares, e incapacidades permanentes de outros,
para o stress pós-traumático que persiste no tempo, dia e noite, sofrimento não
só no próprio ex-combatente, como nas famílias com quem convivem.
Chegamos assim a muitos tempos. Os ditos tempos de mudança,
que, de mudança, paradoxalmente às intenções propagandísticas aquando das campanhas
eleitorais, mais não são que mudança da treta.
É vermos os tempos por que estamos a passar! Que isto de
voltamos a falar dos comentários do dia-a-dia, de casos e mais casos, é, como
sói dizer-se: tempo perdido! É que, segundo Marcel Proust, “Os dias talvez
sejam iguais para um relógio, mas não para o homem”; e, Vergílio Ferreira
disse-nos que “O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o
tempo que passou”.
(In "Notícias da Covilhã", de 19-03-2015)
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