Com tanta tralha de compromissos onde me meti, sem saber
dizer não, vejo-me inundado num acervo de documentação, livros, jornais e em todo
um mundo de pesquisas.
Não dispenso a leitura quotidiana, a fugir, dos diários online, para além do “Público” da minha preferência, e dos semanários
regionais.
Sobre o título em questão, talvez o mesmo também me sirva
para enfiar a carapuça.
Mas, já agora, um texto de excelência do amigo Dr. Manuel
Bento Fernandes – “ONTEM, HOJE E AMANHÃ – os conflitos de valores” poderá ser
lido no próximo número do “Combatente da
Estrela”.
Quando menos se espera, para além da amnésia, tantas vezes
evidenciada de Cavaco Silva, surge-nos agora o nosso primeiro-ministro, Passos
Coelho, a sair-lhe o tiro pela culatra, numa outra amnésia, do registo das já
muitas vezes que existem gravações e textos noticiosos, de palavras e
expressões enérgicas, na envolvente dos seus discursos da governação.
Mas o fundo da questão marca-se pelo mau exemplo que nos é
dado por quem deveria ser o primeiro a impor-se pela sua integridade de caráter,
e não no refúgio de desculpas esfarrapadas.
Como é possível que se possa exigir, a um simples cidadão
contribuinte, o pagamento dos seus impostos e contribuições quando é o
primeiro-ministro de Portugal que não dá o exemplo?
E não serão os seus apaniguados que, com subterfúgio, irão
fazer levantar o véu da névoa que ensombra a reputação de um político de
primeira apanha.
O primeiro-ministro contraiu uma dívida na Segurança Social
(SS) por não ter efetuado descontos durante cinco anos, quando foi trabalhador
independente. E diz que nunca teve conhecimento de qualquer notificação que lhe
tenha sido dirigida dando conta de uma dívida à SS. Contribuiu agora,
voluntariamente…para a sua carreira contributiva, liquidando 2.880 euros,
acrescido de juros de mora, mas o
“Público” refere que o valor total a pagar ascende aos sete mil euros. E se
fosse um cidadão comum que devesse as prestações duma casa? Certamente já lhe
teriam penhorado o imóvel.
Recentemente circulou nas redes sociais um vídeo do
congresso do PSD de fevereiro de 2014 em que Passos afirma: “Há muitos que deviam pagar os seus impostos
e não pagam. Porquê? Porque não declaram as suas atividades. Ora nós temos a
obrigação de corrigir estas injustiças (…)”.
Pois é, Sr. Primeiro-Ministro, é por estas, e por outras, que
os de mais débeis rendimentos pagam as favas; e que, segundo as notícias vindas
a lume, “Bruxelas vigia Portugal por
excesso de “desequilíbrios macroeconómicos”. E, ainda de Bruxelas, vem o
aviso, de que o esforço feito com a troika
(palavra maldita!) não chega.
Tornar-se-ia fastidioso repetir o que toda a gente já
conhece, de figuras da política, e não só, na destruição deste pobre País, através
de várias formas, vergonhosamente, subtilmente, gananciosamente, numa avareza
sem limites, tantas vezes com o fecho dos olhos de homens da justiça, alguns
que até pareciam não se lhe poder tirar um cabelo.
Mas… naquela do “faz o que eu digo mas não faças o que faço”,
os senhores do poder lá vão fazendo ouvidos de mercador aos problemas da
sociedade e às lamúrias do povo que os colocou no poleiro. Depois, são as
vicissitudes: da revolta ao desespero, do roubo ao assassinato, do pedido de
socorro constante ao sofrimento impensado, num rol de situações jamais
previsíveis há uns anos bons anos a esta parte.
É que os partidos têm os mesmos princípios ostensivos,
dizendo e fazendo uma coisa na oposição, mas depois outra no poder.
A esperança encontrava-se então no socialista António Costa,
mas, devagar, devagarinho, foi entregando os seus trunfos ao adversário, que
até já se prazenteia, no resultado das sondagens, com expressões como as “daqueles que estão agora a perceber que as
legislativas, afinal, “podem não ser um passeio”. Senhor de uma
personalidade televisiva forte, António Costa, após o seu estado de graça,
conseguiu em poucos dias mediatizar-se em dois empecilhos vermelhos – o Benfica
e a China. No primeiro caso, o perdão de milhões de euros das taxas que o
Benfica deve por obras do Estádio da Luz; no segundo, ao referir uma frase
abrasadora, impensada num político deste jaez, perante uma plateia de chineses
que celebravam o ano novo chinês, agradeceu aos investidores que acreditaram no
país e deram “um grande contributo para
que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente
daquela em que estava há quatro anos”. Politicamente logo surgiu a imagem
que ainda passa e que é a de um António Costa que diz uma coisa aos chineses e
outra aos portugueses. Com esta conduta, o socialista, fundador do PS, Alfredo
Barroso, utilizou as redes sociais para anunciar que se desvinculou do partido.
E, como diz Manuel Carvalho, no “Público”,
“Os socialistas que, depois de correrem com António José Seguro, já tinham
encomendado as faixas da vitória nas legislativas começam a dar conta de que
enterraram o Governo cedo de mais”.
O que é certo é que Portugal continua pobre, voltando,
pasme-se, aos níveis de pobreza de há dez anos.
E, por último, temos Sócrates, num avolumar de novas
acusações, batendo o record das mesmas dum político em Portugal. Enquanto isto,
surgem as exigências de alguns amigos que pretendem a sua libertação. Não
fazendo qualquer juízo de culpabilidade ou inocência, a verdade é que, sobre
ele, impendem muitas acusações. Será que conseguirá sair ilibado na sua
generalidade? E se for verdadeiramente culpado, o que dirão, a posteriori, os seus fervorosos
apaniguados?
O que dizer do enriquecimento ilícito quando se alastra a
pobreza em Portugal, e, muita dela, a pobreza envergonhada?
Há que pôr cobro a esta calamidade (mais uma!), que não
deixa de o ser, num chico-espertismo de bradar aos céus.
(In "fórum Covilhã", de 10-03-2015)
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