É este o primeiro número do ano 2015 pelo que vai uma
saudação para todos os antigos Combatentes, suas famílias, e quantos nos
acompanham; quer como associados, amigos ou simpatizantes, quer como leitores
deste órgão; nas memórias e consequências dum tempo das suas vidas, que jamais
será dissipado.
O Combatente da
Estrela pretende ser o transmissor, de todos os que se irmanam, desse SENTIR.
É, de facto, ao redor de um grupo de antigos Combatentes, a
que se juntam outros que cumpriram o serviço militar obrigatório, e não foram
mobilizados para o Ultramar, ou lhe deram continuidade, bem como situações
diversas, nomeadamente as familiares, que, desta forma, se proporciona um certo
conforto neste meio social em que todos são envolvidos.
As vivências duma
realidade passada, numa obstinação dos governantes de então, que preferiram ver
a juventude portuguesa a servir de sustento para as suas pertinácias de manter
um império a qualquer preço, sobrepuseram-se, nas suas mentes governativas, àquilo
que viria a ser muito penoso para a vida de muitos antigos Combatentes, e suas
famílias. Uns pagaram esse preço com a sua vida; outros, com o sofrimento
contínuo das suas incapacidades físicas; outros ainda, e quase todos, na
envolvência de problemas de stress pós-traumático.
Só após a Revolução dos Cravos se reuniram de imediato consensos
políticos para se evitar mais sofrimento e perdas humanas, tanto para um lado
como para o outro, reunindo os irmãos desavindos na fraternidade de um acordo
de aderência à compreensão.
No entanto, das passagens pelo terror surgem hoje más
memórias, com todos os efeitos nefastos que se fizeram sentir.
Certamente que, também hoje, em tempo de democracia, as
condutas dos homens que conduziram os destinos da Nação de outrora, seriam
impensáveis, naqueles moldes em que toda uma juventude dos anos 60, e primeira
metade dos anos 70, se viu constrangida a uma obrigação, pegando em armas,
deixando empregos ou adiando a entrada nos mesmos; deixando famílias, fossem
casados ou solteiros; e alguns mesmo com maleitas.
Neste ambiente de muita confraternização que vai existindo
ao redor duma Liga de Combatentes, já com Tertúlias que, no caso covilhanense,
vai engrossando em número, quase sempre ultrapassando a centena; ainda que
independente do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes; surgem muitas
amizades. Afinal, todos viveram, duma forma ou doutra, situações adversas com
que não contavam. É assim aqui um ponto de encontro, um escape, um qualquer
lenitivo.
Outros eventos de cariz recreativo se vão espraiando por
outros lugares, para arejo mental, descobrindo ou recordando encantos duma
parte do Globo, ao invés das picadas por que muitos Camaradas passaram, noutras
zonas deste Planeta. Há sempre o SENTIR de camaradagem nestes ambientes, também
gerador de amizades.
O SENTIR, de dentro para fora e de fora para dentro. O antigo
Combatente, que foi mais ou menos sofredor, chegou à conclusão que o stress
pós-traumático, como atrás foi referido, com maior ou menor incidência, tem-no
dentro de si, e, consequentemente, afeta também a sua família. É assim que,
esta perene impressão, física ou moral, esta sensibilidade, leva também a
olharmos de dentro do nosso íntimo para o Camarada que carece de apoio, porque
a sua tranquilidade não existe, dia e noite. E aí está a ação de uma Psicóloga,
que tem ajudado, num esforço de atenuar problemas psicológicos, muitos antigos
Combatentes.
O SENTIR, dentro do espírito dos responsáveis da Liga dos
Combatentes, extravasa tudo o que possa ser a interioridade de um bem-estar
pessoal, e pensa nos Camaradas que morrem, tentando a sua junção, no local
próprio, em terreno adquirido no Cemitério.
Mas também é de fora para dentro que o antigo Combatente
Covilhanense vai encontrar algum bálsamo divino, nas preces para sufragar as
almas dos mortos, e no agradecimento à Virgem, em Fátima, com uma Peregrinação
anual, exclusiva do Núcleo da Covilhã, bastante concorrida.
Neste SENTIR do antigo Combatente, que o foi por obrigação e
não por vontade própria, terminada que foi a guerra, dele emergiu a amizade,
uma amizade entre irmãos que se procuravam eliminar entre si. E até uma
nostalgia de passagem pelos lugares sofredores, físicos ou psicológicos, onde
as suas vidas poderiam ter o prazo de validade consumado.
Alguns já se deslocaram às antigas Colónias, onde estiveram
como militares, em missões mais sensíveis, enquanto outros, naquela de
nostalgia, e num rasto de amizade granjeada, ali se deslocam e levam algo do
que os africanos mais necessitam, como roupa, calçado ou material didático.
Neste mês de abril, o antigo Combatente Francisco José
Rebelo Pereira Nina, desloca-se, pela quarta vez, à Guiné, com custos seus, onde
cumpriu a sua missão, de 1972 a 1974.
É sempre com grande entusiasmo que ele, e a comitiva onde se
integra, é recebido pelos guineenses, reforçando sempre a amizade.
Afinal, uma guerra terrível em três frentes iniciais que o
foi, para quê? A mesma não poderia ter sido evitada? Evidentemente que sim.
Se ela não existisse, não estaríamos integrados na Liga dos
Combatentes porquanto, atualmente, já serão somente os Combatentes das Guerras
de África que dão força à sua existência.
Se não existisse a Liga dos Combatentes era sinal de
que tínhamos vivido sempre em paz.
(In "O Combatente da Estrela", N.º 98, Janeiro a Abril de 2015)
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