14 de abril de 2015

O FAZ-DE-CONTA

Nunca estivemos tão rodeados de um ambiente de fantasia ou fingimento, neste mundo da imaginação, como nos tempos que vão correndo.
Certamente que muitos dos antigos, que já partiram para o além-mundo; esses homens em que a palavra, sem jura, era suficiente para ditar lei; se hoje assistissem a este estado de coisas, não deixariam de ter um bocejo, e, contemplativos com estas vivências, ficariam atónitos.
Estamos vivendo num tempo em que faz-de-conta que tudo corre normalmente; faz-de-conta que nada aconteceu de mal que nos atormente.
E, pasme-se, até faz-de-conta que na terra d’el-rei D. Aníbal I, e do 1º Ministro, Marquês Passos, há presos políticos quando existem, mais precisamente, políticos presos.
“O que hoje é verdade, amanhã é mentira”, foi uma expressão tomada por um antigo dirigente desportivo vimaranense, sendo certo que, tal conduta paradoxal, ainda hoje continua. Vamos ficando cada vez mais incrédulos e desacreditamos em tudo; enfadados e aborrecidos.
Não há respeito pelas ideias e convicções de cada um, neste país democrático, em que a democracia tantas vezes é amordaçada mesmo por aqueles que a apregoam.
Dar a cara, para alguns, passou a ser uma atitude de medrosos, e, então, vai daí, opta-se pela pusilanimidade, agora muito em voga em blogues anónimos; ou, então, em figuras fictícias (qual método pidesco) introduzidas nas redes sociais, nomeadamente no facebook. Com esta infame encarnação, neste faz-de-conta de que é real, procuram estar atentos ao corrente das ideias “subversivas” daqueles onde se intrometem como “amigos”, ou de quem os rodeiam, e, sempre que possível, no ensejo para lançar farpas aos seus adversários, transformados em inimigos.
Muitos são os que subiram à montanha, com os seus apaniguados, e pregaram o sermão anunciando ter sido eleitos para a todos servir, mas depois deixaram de conhecer o significado “sem exceção”. E o ódio é a arma que passa a imperar, por via de insultos, e outras formas grotescas de se evidenciarem, numa chamada de atenção para aquilo que foram, que fizeram, da obra feita e inacabada. Em vez de ajudar a cidade e seu concelho, talvez lá na sua intimidade exista um certo desejo de ver a terra queimada, para depois, talvez um dia, surgirem regressados como os salvadores da Pátria.
Será que, por outras bandas deste Portugal, esta conduta dos derrotados é tão acirrada; numa ajuda ao descrédito da Terra cujos destinos geriram anteriormente; proporcionando assim o aproveitamento de outras, onde os interessados se vão instalar, por haver menos alarido?
Entretanto, nesta cena boçal, cai o pano deste 1º ato.
E a peça recomeça com o 2.º ato, neste faz-de-conta que ele não existe. Os atores são agora outros. Também quiseram subir à montanha, e, com o seu sermão diferente, que fez reunir mais discípulos, verificou-se que os mesmos se dividiram porque começaram a falar outras línguas, e, por isso, nem todos se entendiam.
Depois de algumas traduções do sermão da montanha, alguns aderiram, por partes, à voz apelativa do senhor do cajado. Não se esqueceram que a peça se intitulava “Faz-de-Conta”, e, vai daí, começaram a encenar.
Através de um pequeno janelo ouvem-se vozes que querem interromper a peça. Um dos atores diz que “Faz-de-conta” que não ouviu; outro dos atores diz que “Faz-de-conta” que é legal; e, um terceiro ator, mais afoito: "Faz-de-Conta” que precisamos de mais quatro atrizes. E, ainda um último ator referiu: “Faz-de-conta” que as atrizes nos exigiram 2500 euros mensais; que as “girls” foram um contributo municipal para o “Dia Internacional da Mulher”.
Bom, isto não teria nada de anormal se não fosse o “Faz-de-Conta” que, no poder, a qualquer nível, são todos iguais!... ou, pelo menos, parecidos.
.
Pois é assim, senhora arquiteta Helena Roseta, Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, não é só aí, por esses ares lisboetas, Tejo à vista (nós também cá temos o Zêzere que o faz engrossar) que os partidos “estão muito condicionados” e por isso “deixaram de ser espaços de liberdade”. Por todo o Portugal, e nesta região beirã, há mas é liberdade a mais, e, assim, já estou na mesma linha da sua interrogação: “Querem que na política só estejam, ricos e corruptos?”
É por estas e por outras é que, segundo um estudo realizado pelas Seleções do Reader’s Digest, é a política uma das áreas em que os portugueses menos confiam, numa percentagem de noventa e seis por cento. Assim é na política atual. Enquanto se está no poleiro é que é de aproveitar. Faz-de-conta que é para bem do povo. Que o mesmo é sereno e, isto de alaridos é só fumaça.
Talvez fosse novamente oportuno surgir o discurso do Zé Povinho e o reaparecimento de “Os Ridículos”, para animar a turba, que anda desanimada.

Neste descrédito, até rogo aos Prezados Leitores o favor de “fazerem-de-conta” que nem sequer escrevi este texto.

(In "fórum Covilhã", de 14-04-2015)

Sem comentários: