13 de outubro de 2015

VITÓRIA DE PIRRO


Contra ventos e marés a coligação Portugal à Frente (PaF), sem sensação, face às últimas sondagens, acabou por vencer as eleições legislativas, saindo vencido o Partido Socialista (PS) que, meses antes, era dado como partido vencedor, incontestavelmente na opinião pública e no próprio seio das gentes da direita.

No entanto, a vitória da PaF, constituída pelo PSD e CDS/PP, com os seus 38,6% de eleitorado contra 32,4% do que votou no PS, acabou por ver dissiparem-se as grandes alegrias das suas gentes face às indecisões sobre a obtenção de maioria absoluta ou relativa.

E os seus semblantes começavam então a ser diferentes quando uma brisa soprava na direção da esquerda.

Mas neste intervalo até aos resultados finais, algumas coisas iam emergindo, entre aqueles que sempre se consideram vencedores mesmo perdendo – caso da CDU, aos grandes vencedores: Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE) e as próprias sondagens que vinham sendo desacreditadas.

O líder do PS, António Costa, foi o grande derrotado da noite eleitoral. Depois de tanta austeridade durante quatro anos, tinha a obrigação de ganhar as eleições legislativas. Para além de culpa própria que se traduziu em vários fatores, como ter acreditado na corrida da lebre e da tartaruga em que ele representou a lebre, e ao sair-lhe o tiro pela culatra na expressão do “soube a pouco” que levou o seu antecessor António José Seguro (ele um dos vencedores) a ser traído a meio do campeonato de líder do seu partido, viu também na esquerda, mormente da parte do Partido Comunista, erguerem-se os manguais da malha no PS ao invés da Coligação PaF.

E, falando de campeonato, os vencedores Passos Coelho e Paulo Portas tiveram, ao longo da legislatura, a parcialidade do árbitro que sempre fora nomeado, Cavaco Silva, sem que lhes mostrasse o cartão amarelo e muito menos o vermelho.

No terreno do jogo, ainda surgiram algumas expulsões como Marinho e Pinto, do Partido Democrático Republicano, e, quando ainda se encontrava no aquecimento, o jogo acabaria por terminar sem ser utilizado Rui Tavares, do partido Livre. Para já não falar nas memórias de Sócrates.

Dos mais de nove milhões de eleitores inscritos, 56,89% exerceram o direito de voto, sendo que, ao contrário do que as projeções anunciaram ao início da noite, neste caso para gáudio da PaF, a abstenção também quis ganhar, sendo a mais alta de sempre em eleições legislativas, com 43,11% de eleitores a não irem às urnas.

Voltando ainda à final do campeonato governativo, como foi possível que os mais de cinco milhões de “espetadores” que entraram nos vários estádios e introduziram o seu bilhete nas urnas da esperança, aceitaram continuar com a equipa técnica geral quando houve quatro anos de austeridade, desemprego, emigração, sacrifícios de vária ordem e um treinador novo anunciado no partido da oposição, e de mais de cem mil jovens por ano a procurarem outros clubes no estrangeiro, a custo zero, em detrimento de Portugal que os preparou e neles investiu fortemente?

Acontece porém que, no rescaldo após o jogo, já na fase das entrevistas dos jornalistas, nos balneários, se chega à conclusão que, afinal, a vitória do clube Portugal à Frente não vai chegar para passar a eliminatória. É uma vitória amarga. É que há mais clubes interessados em não descerem de divisão e se manterem no “arco da governação”. Eles unidos podem eliminar o vencedor da contenda.

E como o povo não é estúpido, havendo sempre vencedores e vencidos, sabe que não ter medo é uma das melhores armas.

Assim, só para falar no nosso distrito de Castelo Branco, o PS ganhou, e, na Covilhã deu um forte contributo com quase o dobro dos votos no PS em relação à coligação PaF.

O País inclinou-se para a Esquerda. A soma dos votos dos “Clubes” que a integram é superior aos do vencedor. Não podem agora jogar (governar) a seu bel-prazer. Também o fragilizado presidente da agremiação, Cavaco Silva, agora não pode fechar os olhos às tropelias do vencedor, com total impunidade e complacência meiga.

Claro que a Coligação foi a vencedora; que a CDU perdeu, embora com um deputado a mais; que Catarina Martins, do BE foi a “jogadora” mais em evidência na peleja, muito bem preparada, decidida e veemente sem nunca perder a calma, sorrindo zombeteira quando era necessário, personalizou o que queríamos e precisávamos de ouvir. Ela recuperou a tradição do combate da História de Portugal, como Deu-la-Deu Martins, ou a Padeira de Aljubarrota.

E, assim, nesta apagada e vil tristeza que tem assolado o nosso querido retângulo à beira-mar plantado, chega-se à conclusão que a Coligação de Direita foi a vencedora mas é uma vitória de Pirro.


(In "fórum Covilhã", de 13-10-2015)

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