Contra ventos e marés a coligação Portugal à Frente (PaF),
sem sensação, face às últimas sondagens, acabou por vencer as eleições
legislativas, saindo vencido o Partido Socialista (PS) que, meses antes, era
dado como partido vencedor, incontestavelmente na opinião pública e no próprio
seio das gentes da direita.
No entanto, a vitória da PaF, constituída pelo PSD e CDS/PP,
com os seus 38,6% de eleitorado contra 32,4% do que votou no PS, acabou por ver
dissiparem-se as grandes alegrias das suas gentes face às indecisões sobre a
obtenção de maioria absoluta ou relativa.
E os seus semblantes começavam então a ser diferentes quando
uma brisa soprava na direção da esquerda.
Mas neste intervalo até aos resultados finais, algumas
coisas iam emergindo, entre aqueles que sempre se consideram vencedores mesmo
perdendo – caso da CDU, aos grandes vencedores: Catarina Martins, do Bloco de
Esquerda (BE) e as próprias sondagens que vinham sendo desacreditadas.
O líder do PS, António Costa, foi o grande derrotado da
noite eleitoral. Depois de tanta austeridade durante quatro anos, tinha a
obrigação de ganhar as eleições legislativas. Para além de culpa própria que se
traduziu em vários fatores, como ter acreditado na corrida da lebre e da tartaruga em que ele representou a lebre, e
ao sair-lhe o tiro pela culatra na expressão do “soube a pouco” que levou o seu antecessor António José Seguro (ele
um dos vencedores) a ser traído a meio do campeonato de líder do seu partido,
viu também na esquerda, mormente da parte do Partido Comunista, erguerem-se os
manguais da malha no PS ao invés da Coligação PaF.
E, falando de campeonato, os vencedores Passos Coelho e
Paulo Portas tiveram, ao longo da legislatura, a parcialidade do árbitro que
sempre fora nomeado, Cavaco Silva, sem que lhes mostrasse o cartão amarelo e
muito menos o vermelho.
No terreno do jogo, ainda surgiram algumas expulsões como
Marinho e Pinto, do Partido Democrático Republicano, e, quando ainda se
encontrava no aquecimento, o jogo acabaria por terminar sem ser utilizado Rui
Tavares, do partido Livre. Para já não falar nas memórias de Sócrates.
Dos mais de nove milhões de eleitores inscritos, 56,89%
exerceram o direito de voto, sendo que, ao contrário do que as projeções
anunciaram ao início da noite, neste caso para gáudio da PaF, a abstenção
também quis ganhar, sendo a mais alta de sempre em eleições legislativas, com
43,11% de eleitores a não irem às urnas.
Voltando ainda à final do campeonato governativo, como foi
possível que os mais de cinco milhões de “espetadores” que entraram nos vários
estádios e introduziram o seu bilhete nas urnas da esperança, aceitaram
continuar com a equipa técnica geral quando houve quatro anos de austeridade,
desemprego, emigração, sacrifícios de vária ordem e um treinador novo anunciado
no partido da oposição, e de mais de cem mil jovens por ano a procurarem outros
clubes no estrangeiro, a custo zero, em detrimento de Portugal que os preparou
e neles investiu fortemente?
Acontece porém que, no rescaldo após o jogo, já na fase das
entrevistas dos jornalistas, nos balneários, se chega à conclusão que, afinal,
a vitória do clube Portugal à Frente não vai chegar para passar a eliminatória.
É uma vitória amarga. É que há mais clubes interessados em não descerem de
divisão e se manterem no “arco da governação”. Eles unidos podem eliminar o
vencedor da contenda.
E como o povo não é estúpido, havendo sempre vencedores e
vencidos, sabe que não ter medo é uma das melhores armas.
Assim, só para falar no nosso distrito de Castelo Branco, o
PS ganhou, e, na Covilhã deu um forte contributo com quase o dobro dos votos no
PS em relação à coligação PaF.
O País inclinou-se para a Esquerda. A soma dos votos dos
“Clubes” que a integram é superior aos do vencedor. Não podem agora jogar (governar)
a seu bel-prazer. Também o fragilizado presidente da agremiação, Cavaco Silva, agora
não pode fechar os olhos às tropelias do vencedor, com total impunidade e
complacência meiga.
Claro que a Coligação foi a vencedora; que a CDU perdeu,
embora com um deputado a mais; que Catarina Martins, do BE foi a “jogadora”
mais em evidência na peleja, muito bem preparada, decidida e veemente sem nunca
perder a calma, sorrindo zombeteira quando era necessário, personalizou o que
queríamos e precisávamos de ouvir. Ela recuperou a tradição do combate da
História de Portugal, como Deu-la-Deu Martins, ou a Padeira de Aljubarrota.
E, assim, nesta apagada e vil tristeza que tem assolado o
nosso querido retângulo à beira-mar plantado, chega-se à conclusão que a
Coligação de Direita foi a vencedora mas é uma vitória de Pirro.
(In "fórum Covilhã", de 13-10-2015)
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