Entrou junho com outro semblante em
contraste com os meses tristonhos que o precederam. Nestes dias soalheiros
muito se vem noticiando, havendo uma grande ementa à escolha, entre comunicação
social televisiva, rádio, em papel ou online.
Mas não dá sequer para estalar os
dedos, beber um café sossegado e deixar que os outros encontrem soluções rápidas
e pacíficas para os problemas do País e da nossa Região.
Ainda temos que contar com o Zé
Povinho e os seus manguitos contra as injustiças, cujo Museu Bordalo Pinheiro,
em Lisboa, deste artista versátil, e seu criador, transbordante de humor e de
criatividade, comemora em agosto o centenário da divulgação da sua obra gráfica
e cerâmica, ainda atual, símbolo da personalidade do povo português, numa certa
maneira de ser lusitana. “Uma certa passividade, mas até falsa, porque os
manguitos revelam os gestos de revolta em relação às injustiças”, refere João
Alpoim Botelho.
Quando há dias se falou, e
escreveu, que a escravatura moderna atinge 45,8 milhões de pessoas no mundo,
sendo Brasil e Portugal os países lusófonos com menor percentagem de “escravos
modernos”, e que Portugal (dos primeiros países a abolir a escravatura), ainda
tem 12.800 escravos, como aquela detenção em Aveiro, de três homens e duas
mulheres, indiciados pelos crimes de “escravidão, tráfico de pessoas, roubo,
sequestro e coação, abordando as vítimas com falsas promessas, outras vezes com
uso de força física”, dá que pensar: Como é possível?!
Assunção Cristas, que fala
como o galo canta no poleiro, lá inventou os três “dês” com que o CDS avalia os
seis meses do Governo de António Costa: “Desilusão, descrédito e desnorte”, e,
numa segunda rodada, outros três “dês”: “desemprego, défice e dívida”. Achei
piada à líder de um pequeno partido que das vezes que esteve no poleiro, quer
dizer, no poder, só o foi coligado e subjugado pelo PSD. Deveria ver-se ao
espelho. É que a tal geringonça vai funcionando.
Isabel dos Santos na Sonangol,
filha do presidente angolano. Este é que não está com meias tintas… Normas
éticas ou jurídicas, o que é isso? Deixem lá Angola que é dos angolanos, e que
o FMI feche os olhos. Corrupção naquele país africano tem outro significado,
altamente benévolo, que não o dos dicionários portugueses.
Mas voltemo-nos cá para este
cantinho português, à beira-mar plantado, como sempre se poetizou.
O desemprego continua em 12% no
final de abril, estando Portugal mais competitivo mas com menos resistência
para enfrentar a crise. Pode parecer um contra senso, mas as razões estão
fundamentadas nos indicadores que são anualmente apreciados pelo IMD, um
organismo com sede em Lausanne, na Suíça, e que pelo vigésimo ano consecutivo
produziu o World Competitiveness Yearbook, um relatório onde são posicionadas,
em termos de competitividade, as economias de 57 países em todo o mundo.
Se a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revela uma previsão do
crescimento de 1,2% na produção portuguesa para este ano, em vez de 1,6%;
também um défice do Estado deverá ficar muito longe da meta de 2,2% do PIB, ou
seja, nos 2,9%.
Segundo li, a evolução da
sociedade pode estar a tirar-nos anos de vida. Possivelmente seremos as pessoas
mais exaustas da história da Humanidade, como a principal culpada do cansaço
extremo dos dias que correm, seja físico, mental, emocional e até mesmo
espiritual. A fadiga crónica é a doença no momento e é provocada por tudo
aquilo que, na verdade, nos deveria estar a facilitar a vida. Consta em dois
recentes livros da área da psicologia: “O aumento excessivo do trânsito, as
redes sem fio, os padrões de negociação, a constante pressão social, o sexo e
as próprias circunstâncias de vida estão à mercê de uma pressa excessiva de
viver o mais depressa possível. Parece redundante, mas a verdade é que já não
conseguimos fazer nada pausadamente. Tudo é acelerado, tudo é frenético, tudo é
irritante, tudo é stressante, tudo é fatigante. A evolução (rapidíssima) da
sociedade está a tirar-nos anos de vida. O esgotamento nervoso, a irritabilidade,
a agitação, os problemas digestivos, os cabelos secos, frágeis e quebradiços e
os pés frios são sintomas que parecem tão banais (à exceção do primeiro), mas
que espelham como a exaustão dos dias de hoje é comum e afeta a grande maioria
das pessoas”.
Mas não fiquemos por aqui porque
os portugueses têm o mais baixo nível de satisfação com a vida, segundo dados
da OCDE. Só 46,1% dos adultos consideram que têm uma saúde boa ou muito boa.
São os países do Norte da Europa que lideram o ranking.
No mês de maio e neste de junho
passou a debater-se a redução das 35 horas de trabalho para os funcionários
públicos. Se verificarmos, a semana de trabalho na Europa com 35 horas, só se
verifica em Portugal, Irlanda e França, tendo todos os trabalhadores dos
restantes países europeus mais horas de trabalho semanal, com 41 horas, à
cabeça, na Alemanha.
E que dizer da polémica entre as
escolas públicas e privadas com os contratos de associação? Penso que depois de
tanta tinta gasta, agora falar mais é chover no molhado. Mas não se pode
ocultar que a escola pública possui o nobre objetivo de servir todos os
cidadãos: os bons e os maus alunos, assim como os indisciplinados, imigrantes
ou ciganos, os pobres, os filhos dos iletrados, os toxicodependentes, os
deficientes, os violentos, os doentes, ou os contestatários. Passa-se isto na
escola privada? Não será que a escola privada pode selecionar os mais
endinheirados?
O País precisa de reformas a
sério e esta é uma delas.
Resta-nos esperar pelo destino da
própria Europa, por via do referendo britânico, a realizar no dia 23 de junho.
Nesta celeuma, será que vai ganhar o “Brexit” e o Reino Unido despede-se da
União Europeia?
Esperemos que o desfecho seja
pela manutenção do nosso aliado, de muitos anos (por vezes só de nome, naquela
“santa” Aliança Inglesa) no grupo da União, para que exista uma Europa forte e
não fragmentada.
(In "fórum Covilhã", de 14-06-2016)
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