Vem o título desta primeira
crónica do ano da graça de 2017 a ser reflexo das que escreveram José Pacheco
Pereira no Público de 31 de dezembro,
e a resposta, de António Guerreiro, na revista Ípsilon de 6 de janeiro. Depois, a repercussão das críticas,
inseridas no mesmo jornal de 7 de janeiro, por Pacheco Pereira.
“Parece que falar da ignorância
coloca logo quem o faz numa situação de arrogância intelectual”, diz Pacheco
Pereira.
“Acompanha outro tipo de
fenómenos como o populismo, a chamada “pós-verdade”, a circulação
indiferenciada de notícias falsas, e, o que é mais grave, a indiferença sobre a
sua verificação”.
Temos visto, de vez em quando, de
uma forma subtil mas, paradoxalmente, na envolvente de uma raiva não contida,
algumas críticas direcionadas para textos publicados por articulistas em
periódicos desta região, que incomodam quem critica, sem a frontalidade na
nomeação dos seus autores, evitando o óbvio contraditório. Serão assim sempre
censurados no âmbito da cobardia. São, geralmente, os detentores de espaços que
não só lhes pertencem, mas que se julgam como tal, arrogados num pedestal em
que para aí se arrastaram.
Os casos, verídicos, que nos
chegaram ao conhecimento, da forma como algumas instituições deixaram passar
alunos, nas “Novas Oportunidades”, para obtenção dos 9.º e 12.º anos brada aos
céus; e como alguns alunos do ensino superior redigem, assobiando para o lado
quanto à ortografia, é de autêntica risada, melhor dizendo, tristeza. Isto nada
tem a ver com o facto de termos sido uns ases, pela primeira vez acima da média
da OCDE, com os melhores resultados de sempre nos testes PISA 2015, em
Literacia Científica, Leitura e Matemática.
E, embora tenhamos as gerações
mais qualificadas, estamos alheios à nova ignorância. É que a sociedade
potencia o uso das novas tecnologias que fazem as pessoas olharem para os
telemóveis centenas de vezes, diariamente, com os adolescentes na linha da
frente. Não há as grandes relações humanas de vizinhança, de companhia e
amizade, sem interações de grupos, na interpretação bem lúcida quão
esclarecedora de Pacheco Pereira. A maior punição para um adolescente é
retirar-lhe o telemóvel. É deprimente ver em qualquer sítio, seja na entrada da
escola, num restaurante, ou mesmo na rua, pessoas que embora estejam juntas,
não se falam. Falam para o invisível, do aparelho que sai do bolso, ou então
nem da mão sai, estando sempre numa atenção latente ao telemóvel, mandando
mensagens, enviando fotografias, tirando Selfies,
entrando no Facebook, às catervas de vezes ao dia. Nesta ignorância que integra
a sociedade, deixou de haver silêncio e tempo para pensar, deixando a
curiosidade de olhar para fora, ao invés se metem na sua abstração. E ninguém
os detenha, os incomode, os irrite, deixem-nos em paz. Se atentarmos no que se
escreve no Facebook, ficamos a conhecer melhor as pessoas na sua ignorância,
que, nalguns casos, é de pasmar, independentemente de terem ou não algum
canudo.
Já António Guerreiro contesta: “E
tal como não há “nova ignorância”, também não é novo querer combatê-la com os
instrumentos da crítica da ideologia. Mas como pode Pacheco Pereira excluir-se
do processo da “nova ignorância”, e denunciá-la, se participa ativamente nos
meios que a produzem? A esta pergunta também me vejo obrigado a responder: não
tenho tais ilusões e estou consciente da contradição a que me exponho
semanalmente”.
Pelo que se deduz, na
contemplação das redes sociais, muitos dos seus utilizadores têm aqui a sua
fonte onde vêm beber quase toda a sua informação. Não será esta, quantas vezes,
uma “nova ignorância” no ataque ao saber? E, tal como António Guerreiro
escreve, também todos os que escrevemos nos jornais nos expomos à crítica, se
bem que é da discussão que nasce a luz, segundo o provérbio.
Vamos agora ter neste novo ano um
dos maiores riscos para o mundo com a presidência ignorante dos Estados Unidos
em que as redes sociais o alcantilaram ao poder. Nestes ventos de “trumpestade”,
a vitória de Donald Trump constitui a segunda grande surpresa internacional do
ano, depois do Brexit. E como em relação ao “adeus europeu” de Londres, com
Trump na Casa Branca, sabemos melhor quem perdeu do que quem venceu. Será que o
povo americano foi assim tão ignorante, elegendo um presidente politicamente
incorreto, populista, reacionário, isolacionista, racista, demagogo, machista,
sexista, aventureiro, impreparado, e o mais que se lhe queira chamar? É óbvio
que venceu, e em democracia os resultados de uma eleição são sempre legítimos.
Habituámo-nos a olhar para os EUA
como a maior democracia do mundo e ao seu presidente como o líder do mundo
livre. Os verdadeiros democratas não conseguem ver isso em Donald Trump.
Tendo ocorrido o falecimento do
primeiro Presidente da República civil, Mário Soares, após a Revolução dos
Cravos, no dia 7 de janeiro, que sucedera ao general Ramalho Eanes, aquele que
foi um grande democrata e eterno lutador pela liberdade, com justiça quase
todos os jornais dizem: “Obrigado Mário Soares!”.
(In "Fórum Covilhã", de 10-01-2017)
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