13 de junho de 2018

NO EMARANHAR DE IDEIAS


São os telejornais, são as notícias em papel, são as inúmeras online que nos fustigam diariamente a cabeça. 

A prudência revela agora falta de ponderação. Foi assim substituída pela ousada exteriorização da ingenuidade, qual pacovice.

Assistimos constantemente às polémicas no seio dos senhores do futebol, com as suas espertezas arrivistas. E não há quem os tire de lá para fora porque os interesses instalados subsistem. Corroem o que de bom existia:  a salutar distração, a amizade clubística, o encontro de ideias, a vigorosa disputa no campo dentro do espírito Mens sana in corpore sano, lema agora substituído por “muitos milhões para as gestões de aldrabões”.

Ditadores e destruidores por um lado, com cenas de terror nos locais de trabalho; outros envoltos em acusações de vouchers, Operação Lex, E-Toupeira, é indubitável que assim cada vez mais se contribui para a apatia ao desporto e a ausência dos campos de futebol.

Nesta pandemia do futebol, parece que tudo serve de pretexto para encher televisões e as redes sociais.

As escassas notícias para além do futebol que ainda conseguem fazer-se ouvir são quase dissipadas. A fronteira que desapareceu entre canais noticiosos e desportivos tornou-se uma autêntica competição para ver quem mais fala da bola.

Recorde-se o que sucedeu com a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho, com todos os canais noticiosos, durante largo tempo, à mesma hora, em direto, a ouvir “Sua Excelência”, que mais parecia o Papa ou Marcelo Rebelo de Sousa.

É por isso que José Pacheco Pereira, in Público de 9 de junho, diz que “o futebol é a coisa mais parecida com a máfia que existe em Portugal – ou melhor, é a nossa máfia lusitana”.

Para além-fronteiras temos Emmanuel Macron com a sua preocupação contra as fake news, a colocar os jornalistas em xeque. Arrancou assim em França o debate sobre as propostas de lei do Presidente para travar a propagação de informação manipulada, com a oposição a dizer que a liberdade de imprensa pode estar em risco. Terá servido de exemplo o seu homólogo americano Donald Trump.

Já na Irlanda do Norte tem a Amnistia Internacional a apoiar a campanha para mudar a lei do aborto que a considera “incompatível” com os direitos humanos. E por cá, neste País de brandos costumes, mas de modernos padrões de humanismo, não há interesse em transpor na mesma ideia, a anulação dessa lei? Certamente por isso a preocupação pela redução da natalidade não é assim tão evidente como os governantes apregoam.

Valha-nos ao menos não ter sido aprovada a lei a favor da eutanásia, com grande estranheza do voto contra do Partido Comunista.

Já agora que falei de “brandos costumes”, este mito criado pelo Estado Novo, e mais tarde reforçado pelo ex-primeiro-ministro almirante Pinheiro de Azevedo, no “Verão Quente” de 1975, quando, durante o discurso que proferiu na manifestação do Terreiro do Paço de apoio ao seu Governo, um petardo rebentou no meio dos manifestantes, e, no meio de gritos, correria, fumo por cima da multidão e algumas chamas, o almirante sem medo clamava: “É só fumaça”, “O povo é sereno”, a História e o próprio jornalismo têm desfeito este mito mostrando que desde os tempos longínquos que os portugueses praticaram atos e crimes horrendos, da Monarquia à República.

Só não se compreende por que é que sendo a corrupção o principal problema do país, os dados oficiais mostram que o número de processos sobre este flagelo é diminuto quando comparado com a perceção da corrupção obtida através dos media.

Deve haver milhões de barris a abarrotar de euros para os funcionários públicos, para os professores e polícias, que detêm, estes dois últimos, mais de duas dezenas de sindicatos, cada classe.

Razão tem João Miguel Tavares, in Público de 7 e 9 de junho, de contestar as progressões automáticas das carreiras dos professores, mantendo privilégios que “têm aos poucos vindo a roubar à profissão o prestígio, a autoridade e a simpatia que ela deveria ter junto da comunidade que é suposto servir”, tendo em conta que a progressão está estruturada em torno do tempo de serviço, daí o conflito entre o Governo e sindicatos. Isto tão só neste contexto de os professores aceitarem que bons e maus tenham progressões semelhantes. É certo que no meio disto há injustiças, com uns “escandalosamente mal pagos; outros escandalosamente bem pagos”.

Entretanto, o resultado da avaliação dos alunos foi desastroso, de que alguns professores são co-responsáveis. Em Matemática, o insucesso é generalizado: só 10% dos alunos conseguiram calcular a área de um polígono que envolvia a área de dois triângulos e dois retângulos. Setenta e dois por cento dos estudantes do 5.º ano não conseguira identificar o rio Mondego, e outras coisas mais.

Isto é a generalidade do nosso país, mas, como toda a regra tem exceção, aí vemos a Universidade da Beira Interior orgulhosamente a manter-se dentro das melhores 150 universidades do mundo, com menos de 50 primaveras, contra ventos e marés da injustiça que o Governo à mesma teima em manter o “subfinanciamento crónico”.
(In "Notícias da Covilhã", de 14-06-2018)



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