São os telejornais, são as
notícias em papel, são as inúmeras online que nos fustigam diariamente a
cabeça.
A prudência revela agora falta de
ponderação. Foi assim substituída pela ousada exteriorização da ingenuidade,
qual pacovice.
Assistimos constantemente às
polémicas no seio dos senhores do futebol, com as suas espertezas arrivistas. E
não há quem os tire de lá para fora porque os interesses instalados subsistem.
Corroem o que de bom existia: a salutar
distração, a amizade clubística, o encontro de ideias, a vigorosa disputa no
campo dentro do espírito Mens sana in
corpore sano, lema agora substituído por “muitos milhões para as gestões de
aldrabões”.
Ditadores e destruidores por um
lado, com cenas de terror nos locais de trabalho; outros envoltos em acusações
de vouchers, Operação Lex, E-Toupeira, é indubitável que assim cada vez mais se
contribui para a apatia ao desporto e a ausência dos campos de futebol.
Nesta pandemia do futebol, parece
que tudo serve de pretexto para encher televisões e as redes sociais.
As escassas notícias para além do
futebol que ainda conseguem fazer-se ouvir são quase dissipadas. A fronteira
que desapareceu entre canais noticiosos e desportivos tornou-se uma autêntica
competição para ver quem mais fala da bola.
Recorde-se o que sucedeu com a
conferência de imprensa de Bruno de Carvalho, com todos os canais noticiosos,
durante largo tempo, à mesma hora, em direto, a ouvir “Sua Excelência”, que
mais parecia o Papa ou Marcelo Rebelo de Sousa.
É por isso que José Pacheco
Pereira, in Público de 9 de junho,
diz que “o futebol é a coisa mais parecida com a máfia que existe em Portugal –
ou melhor, é a nossa máfia lusitana”.
Para além-fronteiras temos
Emmanuel Macron com a sua preocupação contra as fake news, a colocar os jornalistas em xeque. Arrancou assim em
França o debate sobre as propostas de lei do Presidente para travar a
propagação de informação manipulada, com a oposição a dizer que a liberdade de
imprensa pode estar em risco. Terá servido de exemplo o seu homólogo americano
Donald Trump.
Já na Irlanda
do Norte tem a Amnistia Internacional a apoiar a campanha para mudar a lei do
aborto que a considera “incompatível” com os direitos humanos. E por cá, neste
País de brandos costumes, mas de modernos padrões de humanismo, não há
interesse em transpor na mesma ideia, a anulação dessa lei? Certamente por isso
a preocupação pela redução da natalidade não é assim tão evidente como os
governantes apregoam.
Valha-nos ao
menos não ter sido aprovada a lei a favor da eutanásia, com grande estranheza
do voto contra do Partido Comunista.
Já agora que
falei de “brandos costumes”, este mito criado pelo Estado Novo, e mais tarde
reforçado pelo ex-primeiro-ministro almirante Pinheiro de Azevedo, no “Verão
Quente” de 1975, quando, durante o discurso que proferiu na manifestação do
Terreiro do Paço de apoio ao seu Governo, um petardo rebentou no meio dos
manifestantes, e, no meio de gritos, correria, fumo por cima da multidão e
algumas chamas, o almirante sem medo clamava: “É só fumaça”, “O povo é sereno”,
a História e o próprio jornalismo têm desfeito este mito mostrando que desde os
tempos longínquos que os portugueses praticaram atos e crimes horrendos, da
Monarquia à República.
Só não se
compreende por que é que sendo a corrupção o principal problema do país, os
dados oficiais mostram que o número de processos sobre este flagelo é diminuto
quando comparado com a perceção da corrupção obtida através dos media.
Deve haver
milhões de barris a abarrotar de euros para os funcionários públicos, para os professores
e polícias, que detêm, estes dois últimos, mais de duas dezenas de sindicatos, cada
classe.
Razão tem João
Miguel Tavares, in Público de 7 e 9
de junho, de contestar as progressões automáticas das carreiras dos
professores, mantendo privilégios que “têm aos poucos vindo a roubar à
profissão o prestígio, a autoridade e a simpatia que ela deveria ter junto da
comunidade que é suposto servir”, tendo em conta que a progressão está
estruturada em torno do tempo de serviço, daí o conflito entre o Governo e
sindicatos. Isto tão só neste contexto de os professores aceitarem que bons e
maus tenham progressões semelhantes. É certo que no meio disto há injustiças,
com uns “escandalosamente mal pagos; outros escandalosamente bem pagos”.
Entretanto, o
resultado da avaliação dos alunos foi desastroso, de que alguns professores são
co-responsáveis. Em Matemática, o insucesso é generalizado: só 10% dos alunos
conseguiram calcular a área de um polígono que envolvia a área de dois
triângulos e dois retângulos. Setenta e dois por cento dos estudantes do 5.º
ano não conseguira identificar o rio Mondego, e outras coisas mais.
Isto é a
generalidade do nosso país, mas, como toda a regra tem exceção, aí vemos a
Universidade da Beira Interior orgulhosamente a manter-se dentro das melhores
150 universidades do mundo, com menos de 50 primaveras, contra ventos e marés
da injustiça que o Governo à mesma teima em manter o “subfinanciamento
crónico”.
(In "Notícias da Covilhã", de 14-06-2018)
Sem comentários:
Enviar um comentário