28 de fevereiro de 2019

CONSELHO CENTRAL DA GUARDA QUATRO CONFERÊNCIAS CENTENÁRIAS INTEGRAM O CONSELHO DE ZONA DA COVILHÃ


Realizou-se no dia 2 de fevereiro (sábado), na Covilhã, a Assembleia Geral deste Conselho de Zona, com os Vicentinos que na mesma participaram a proporcionar um diálogo muito interessante face aos temas apresentados.
Efetivamente, foram pontos de discussão e reflexão sobre a atuação que se tem vindo a desenvolver face aos muitos problemas na temática da Caridade com a assistência ao cada vez maior número de casos que chegam a todas as Conferências.
Estiveram representadas todas as Conferências deste Conselho de Zona: Nossa Senhora da Conceição, Santa Maria, São Pedro, São Martinho e S. José (Penedos Altos), Canhoso, Tortosendo e Santo André, da Boidobra.
As dificuldades emergem à porta de muitos necessitados, cada vez mais na sociedade de hoje, na vertente de inúmeros casos, que outrora não existiam, mas que são provenientes dos novos tempos, e que para cada caso foram dados exemplos de atuação no âmbito do espírito da Caridade.
As dificuldades em conseguir reunir maior número de Vicentinos, muitos deles já com muitos anos nas Conferências, onde os jovens têm dificuldade em se afirmar, foi também uma preocupação sentida.
As várias Conferências Vicentinas do Conselho de Zona da Covilhã desdobram-se na assistência em várias locais, muitos deles bem distantes do local da sua Conferência. E há os casos de estudantes universitários, oriundos das antigas Colónias, a estudar na Universidade da Beira Interior, bem como alguns de pobreza envergonhada.
Surgiu em 2018 a novel Conferência de Santo André, da Boidobra, cujos órgãos tomaram posse em novembro. Embora estejam com grande entusiasmo, encontram-se a dar os primeiros passos, o que é uma esperança para poderem vir a tomar conta duma zona bastante carenciada.
De salientar que, na Diocese da Guarda, é no Conselho de Zona da Covilhã que se mantêm ainda em atividade, cada vez mais envolvidas nas suas variadas tarefas em prol dos muitos necessitados que chegam com frequência a cada Conferência, as já centenárias Conferências Vicentinas, a saber:
- Conferência de Santa Maria Maior, na Covilhã, fundada em 12 de novembro de 1899;
- Conferência de Nossa Senhora da Conceição, na Covilhã, fundada em 19 de março de 1903;
- Conferência de São Pedro, na Covilhã, fundada em 29 de junho de 1905;
- Conferência de São Martinho, da Covilhã, fundada em 19 de fevereiro de 1911.
O Conselho de Zona da Covilhã, então na altura designado Conselho Particular, foi fundado em 03 de dezembro de 1910. Este Conselho no início ia encontrando dificuldades na coordenação das Conferências a que a ele estavam ligadas porquanto tinham poucos membros ativos para tão grande ação. Foi organizado em 25 de fevereiro de 1921, dependendo do Conselho Central do Porto, pelo que nessa altura o Conselho da Covilhã, por sugestão do Prelado, reuniu as Conferências da Covilhã numa só, com a designação de Conferência da Covilhã. E, na Guarda, a Conferência da Guarda. Mas tal não deu resultado e, assim, a partir de 1923 voltaram a passar a funcionar separadamente.
A Conferência mais antiga da Covilhã – Santa Maria Maior, fundada em 1899 – deu origem à criação do Lar de São José (na altura designado Albergue dos Pobres), fundado em 1900. Dois anos após a sua abertura, em 10 de junho de 1902, conseguiu esta Conferência a vinda das Irmãzinhas dos Pobres para cuidar do Albergue. Há muitos anos que partiram.
João de Jesus Nunes

(In "Boletim Português da Sociedade de São Vicente de Paulo, Ano 113, Nº. 2, Fevereiro 2019)




27 de fevereiro de 2019

UM EMPRESÁRIO DE SUCESSO


Tarde de segunda-feira, 21 de janeiro. No Café do Celso há amenas conversas. Os petiscos, para todos os gostos, vão-se distribuindo pelas mesas. Conforme os apetites. Ao lado do José Augusto está uma mesa com um simpático senhor, também com o seu petisco, que, a pouco e pouco se vai integrando no nosso diálogo.
Diz-nos então que aos onze anos começou a amassar pão à mão. Os filhos não quiseram continuar os estudos e preferiram seguir as pisadas do pai, no intuito de ganharem dinheiro por conta própria. Tinham grande ambição. Também muito dinamismo. Como o pai.
Desconhecíamos aquele senhor, ainda que sejamos covilhanenses de gema. Mas logo o Celso nos lembra que se trata do senhor António Dias Santos, ilustre empresário de panificação.
E o entusiasmo do Sr. António em contar a sua história raia-lhe os olhos. Dá gosto ouvi-lo. Setenta e seis anos já conta no seu tempo de vida. Natural de S. Vicente da Beira.
Chegou a ter cinco patrões num mês. Face à sua garra, mudou facilmente de emprego, no âmbito da mesma atividade – a panificação. Mas também trabalhou de sol a sol, in illo tempore.
Em S. Vicente da Beira acaba por ficar quase sozinho a trabalhar, aos 15 anos, somente com o patrão e um aprendiz. Já toma conta da padaria.
Dali vem para a Covilhã, exatamente no dia em que completa 18 anos de idade. Chega ao Manuel dos vinhos que se situavam por detrás das antigas instalações da PSP, a S. Silvestre, mas aqui para trabalhar na construção civil a fim de se preparar a abertura daquela casa. Foram dois meses.
Conhecedor das suas excelentes tarefas na panificação, o Sr. António Tavares chama-o para a firma Tavares & Matias (padaria) durante um ano, então sediada em S. Martinho, perto do Oriental. Surge-lhe, entretanto, uma formação em S. Pedro de Sintra, a cargo do Estado. António Dias Santos diz-nos que “vim de lá um homem”.
Mas a sua vontade em fazer mais e mais, leva-o a empregar-se na padaria de João da Fonseca Mimoso (Marroca), onde está durante 22 anos, como encarregado de fabrico.
É presidente do Sindicato de Panificação durante 12 anos, sendo que, no dia 25 de Abril de 1974 está a negociar um Contrato de Trabalho no então Ministério das Corporações e Indústria.
Pensa então em trabalhar de conta própria, seguindo a vida empresarial. Em 1982 adquire a Padaria Abreu. O Sr. António Dias ao tomar esta decisão é devido ao facto de os filhos terem chumbado nos estudos e quererem ir estudar à noite para irem trabalhar. O pai faz-lhes a vontade. O trabalho e estudo deles acaba porque passam a trabalhar com o pai, na empresa que, entretanto, criam, com muito trabalho e alma, sempre a progredir.
Nesta altura, possui a Padaria Dias & Pereira, Lda, no Parque Industrial do Tortosendo, sendo constituída por cinco sócios, todos familiares (O Sr. Dias, a esposa e os três filhos) e tem já 40 trabalhadores.
Participam em vários programas televisivos (TVI, CMTV, SIC e RTP), por via de terem ganho vários prémios, conforme a comunicação social, incluindo a regional, deu conta.
Ganham os seguintes prémios nacionais do “Melhor Pão Natural de Portugal”:
- 2017 – 1.º lugar: Regueifa Tradicional da Beira Baixa;
- 2018 – 1.º lugar: Centeio Natural Crocante.
Na categoria de “O Melhor Bolo-Rei de Portugal” ganham em 2018, o 1.º lugar, com o “Bolo Rainha”, Medalha de Ouro.
Também ganham prémios com “O Bolo Rei” (normal) e “Bolo-Rei Escangalhado”.
Um empresário de sucesso, como exemplo para os tempos que correm.
António Dias Santos pensa abrir uma nova casa na Covilhã.

(In "Notícias da Covilhã", de 28-02-2019)

13 de fevereiro de 2019

CORRUPTOMANIA

Ainda não existe uma definição para a palavra em título mas o sentido é intuitivo. Pensara em não me referir mais a este assunto depois de sobre ele me ter debruçado por outras ocasiões (2014 e 2018). Mas o facto de surgirem no tempo das nossas vidas tantos casos, um sopro de vontade atira-me para o foco de que somos confrontados no dia a dia.
A diversidade de casos é uma peculiaridade dos portugueses. O dos elementos que constituíram aquela tropa-fandanga de Tancos ainda continua vivo na mente de todos nós. Como tantos outros. A saga das meias verdades e das ocultações não mais teve fim. O logro da descoberta das armas entrará para a antologia das operações mais perigosas do nosso Exército em defesa da soberania nacional deste século. O prestígio desta secular instituição ficou abalado.
Deambulando por aí fora, foi o encontro de oportunidades na esperteza dos iluminados pela ambição do enriquecimento fácil. Na falácia encontrada em favoráveis ocasiões de dar a volta ao texto. Que isto de solidariedade, obras de misericórdia, sentir o sofrimento alheio também é ocasião de, ao invés de meter a mão na massa, se pode fazer com que a massa chegue à mão. E aí tivemos os incêndios, com a utilização fraudulenta dos fundos para a reconstrução de Pedrógão Grande. Imaginar que tantas pessoas que estavam a enfrentar a maior tragédia portuguesa de décadas, tendo motivado um movimento de solidariedade sem precedentes por todo o país, viram rapidamente transformar o terrível sofrimento na mais repugnante ganância. É duma revolta imensa.
É indubitável que a partidocracia destrói a democracia, conforme refere o Presidente da Frente Cívica, Paulo de Morais. “O principal objetivo dos maiores partidos portugueses é manterem-se na esfera do poder, partilhar negócios do Estado com os grupos económicos de que são instrumento e garantir emprego aos muitos milhares de apaniguados, os militantes partidários e seus familiares”. Os dirigentes partidários distribuem benesses pelas empresas que financiam e para as quais vão mais tarde trabalhar. Além de negócios, os partidos garantem a sobrevivência económica dos seus apoiantes através da distribuição de milhares de empregos. É na administração central. É nas autarquias. É nas empresas municipais e institutos públicos. Transformaram-se assim na maior agência de emprego do país. E, depois, é ver nos canais de televisão comentadores facciosos, a censurar todo o discurso contraditório.
E temos a Caixa Geral de Depósitos (CGD), um dos temas da atualidade. Os seus gestores aprovaram, entre 2000 e 2015, financiamentos de centenas de milhões de euros apesar dos riscos identificados pelos diretores das operações. O diagnóstico foi feito pela consultora EY na auditoria independente à gestão da CGD. Identificou perdas de mais de mil milhões de euros para as contas desta instituição, só até 2015. Em causa estão de facto decisões tomadas contra o parecer técnico da Direção Global de Risco (DGR) da CGD, reveladas pela auditoria da EY, cuja versão preliminar foi divulgada pela ex-deputada do Bloco de Esquerda, Joana Amaral Dias, na CMTV, citada por vários órgãos da comunicação social. Os financiamentos de elevados montantes destacam-se nas perdas relacionadas com a Artlant, Quinta do Lago e Birchview, para além de problemas com a concessão de empréstimos à Investifino, Finpro, sociedade de investimento de Américo Amorim e Banif, bem como às sociedades de Joe Berardo, entre a Fundação Berardo e a Metalgest. Neste grupo de grandes devedores, os financiamentos ascenderam a mil milhões de euros, com perdas de 580 milhões de euros.
Vários crimes já estarão prescritos. Cada ano de silenciamento contribuiu para que mais atos de gestão danosa também prescrevessem, ficando de fora da alçada da justiça. De tal forma que este país mais parece uma república das bananas.
A CGD, banco que tem a confiança de um número elevado de portugueses, mormente os funcionários públicos, foi gerida sem qualquer noção de honra. E quem teve nas mãos o seu destino revelou uma total e indigna ausência de responsabilidade.
Neste estado mórbido, quem e quantos irão responder civil e criminalmente pela ruína da Caixa Geral de Depósitos, onde os portugueses tiveram de enterrar cinco mil milhões de euros dos seus sangrentos impostos?
Ficamos por aqui.
E, para que tudo não seja um mar turbulento, temos a entronizada Cristina Ferreira, mais parecendo uma Marilyn Monroe, que, iniciada na TVI se rendeu finalmente ao namoro da SIC, por via dum contrato milionário, cujo nome já se transformou numa marca, mas ainda longe dum Cristiano Ronaldo. Até o Presidente da República lhe telefonou, entrando em direto na estreia do seu programam na SIC, para lhe desejar felicidades, provocando uma onda de indignação, que a apresentadora não compreendeu por ter visto o gesto como um “miminho”.


(In "Notícias da Covilhã", de 14-02-2019)

12 de fevereiro de 2019

O MUNDO D´HOJE PARECE UM PAGODE


Por vezes falta-nos a inspiração. Mas o bichinho da escrita perdura. Escrever não é fácil. Como disse o escritor francês Olivier Rolin, “escrever é fazer com que o tempo que conhecemos não morra”. Aí está. Então eu continuo a escrever.
Entre o sonho e a realidade vai uma distância. Só cada um a pode quantificar. Em 17 de outubro do ano transato foram divulgados os dados a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Na altura de comparar os países em matéria de pobreza e exclusão social, Portugal surge em 11º. Lugar. Consta de uma lista de 26 Estados para os quais estão disponíveis dados relativos a 2017. Ou seja, cerca de um quarto da população portuguesa (23,3%) está “em risco de pobreza ou exclusão”. Na União Europeia (UE) a percentagem média de pessoas nessa situação é de 22,5%. Ainda que a UE, como um todo, e Portugal, em particular, tenham menos pessoas em risco do que em 2008. Mas, no entanto, há em Portugal 3000 sem-abrigo. Estamos no século XXI.
Na lamentável prática da pedofilia, por todo o mundo, não basta pedir desculpa. A divulgação de mais casos de abuso sexual de menores na Igreja Católica, com a informação de que a hierarquia encobriu os abusos, surgem os obrigatórios pedidos de desculpa. Assim aconteceu nas dioceses da Pensilvânia, nos EUA, na qual mais de 300 padres foram acusados de crimes praticados contra mais de um milhar de vítimas, ou em Washington, que levou à demissão de um arcebispo. E também em Boston, no Chile, na Irlanda, etc. O Papa Francisco reforçou ainda mais esse pedido de desculpas. Escreveu uma carta na qual admitiu “vergonha e arrependimento”. E o mesmo acrescenta que “nunca será suficiente o que se fizer para pedir perdão e procurar reparar o dano causado”. E o escândalo nunca se aproximara tanto da hierarquia católica, ao surgir a condenação do cardeal George Pell, condenado por abusos sexuais na Austrália em 2018, o homem que era o terceiro na hierarquia da Igreja Católica, responsável pelas finanças da Santa Sé. Foi afastado do Conselho de Cardeais pelo Papa e neste ano enfrenta outro julgamento por crimes idênticos.
Estes homens parece não sentirem qualquer bafejo de revolta dos seus semelhantes e quase que vivem num autêntico pagode.
Que dizer então, noutra vertente, onde cabe melhor o pagode, a manifestação na Dinamarca, ocorrida no verão passado, contra a lei que proíbe o véu islâmico? Centenas de dinamarquesas, algumas de niqab (lenço muçulmano), outras de burqa, que as cobria por completo, juntaram-se em Copenhaga para protestar contra a entrada em vigor da nova lei que proíbe o uso do véu que cubra o rosto. Acusaram o Governo de violar o direito de as mulheres vestirem o que quiserem.
Continuando na UE temos a crise dos três M: May, Macron e Merkel, líderes das três grandes potências da União Europeia. Estão em apuros. A poucos meses das eleições para o Parlamento Europeu, florescem populismos e nacionalismos pela Europa, com a primeira-ministra do Reino Unido, o presidente de França e a chanceler da Alemanha a enfrentarem crises internas que enfraquecem a sua liderança e, por arrastamento, o processo de integração da U.E. A primeira tem para resolver o dossiê do Brexit. O segundo chegou ao poder com intenções de reformas centristas e a sociedade civil obrigou-o a recuar. A terceira, que durante a crise da Constituição Europeia e da zona euro foi a líder de ferro que manteve unidos os europeus, perdeu os alemães ao deixar entrar, de forma desordenada, mais de um milhão de refugiados no país. Theresa May, de 62 anos, sucedeu a David Cameron após a vitória do Brexit. Emmanuel Macron tem 41 anos e é o presidente francês mais jovem de sempre.
O Ocidente está em decadência mas o declínio da UE não é inevitável. Há 30 anos, a entrada na “Europa” representava para os portugueses a liberdade, a abertura cultural, a democracia, a prosperidade. A Europa atual está esquecida das suas antigas promessas de paz e solidariedade. É uma Europa que parece não saber o que quer nem para onde vai. Ao ponto a que chegou o pagode. A Europa enfrenta uma crise migratória alimentada por discursos de ódio. A Europa está rodeada de crises e passou a ser ela própria a crise.
E, assim, com a crise dos três pilares que sustentam a UE vamos assistindo ao pagode. O “Brexit” e Trump são duas faces da mesma moeda. Segundo Vasco Pulido Valente, in Público, “O ‘Brexit’ é o resultado de uma conspiração de Putin, que envolve, pelo menos, o Facebook e a Cambridge Analytica, e também uma inexplicável loucura da aristocracia inglesa”.
Num manifesto de 30 patriotas europeus é referido o seguinte: “Hoje, com urgência, temos de fazer soar o alarme contra os incendiários de almas e espíritos que, de Paris a Roma, passando por Barcelona, Budapeste, Dresden, Viena ou Varsóvia, brincam com o fogo das nossas liberdades”.
Já não vamos falar muito no triste caso da situação da Venezuela, que corre suas desgraças face ao ditador Nicolás Maduro. No momento em que concluo este texto, passa no meu computador a informação do JN online, direto, de que Portugal reconhece e apoia legitimidade de Guiadó: “Augusto Santos Silva confirmou, esta segunda-feira (04-12-2019), que Portugal reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela, apelando a eleições presidenciais.” A Venezuela vive um impasse político que só pode ser resolvido com uma transição pacífica. Não pode ser confrontação interna nem intervenção externa. Deve ser com eleições presidenciais. Mas aproveitamos para uma boa notícia: construção de pontes entre Portugal e o Japão. O Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia e o Japão vai proporcionar um impulso económico vital tanto à UE como a Portugal.


(In "Jornal fórum Covilhã", de 12-02-2019)