Ainda numa retrospetiva do que a
inspiração me levou a ocupar espaço no meu último livro, que desenvolve a
história da temática seguradora ao longo de diversas tertúlias, em várias
partes do País, mormente na Covilhã, Leiria narra-as na Tasca da Ti Gracinda. (1) Ali o Benedito informa o Rosas ter casado com a maestrina
das bandas dos Pousos e dos Marrazes, com a palestra iniciada no dia 3 de abril
do ano da graça de 2018.
Pois é, das tabernas de outros
tempos, havia cascas de tremoços e amendoins no chão. Copos de três.
Eduardinho. Ginjinha. Capilé. Havia tabernas que o usavam para fazer o famoso
“branco velho” que era uma mistura de vinho branco banal com esse licor ou, em
alternativa, com Eduardinho e que se vendia muito logo pela manhã.
Havia peixe frito. Petingas.
Jaquinzinhos. Raia. Carapaus e chicharro, com ou sem escabeche. Iscas de
fígado, chouriço.
- Sai um traçado, ó puto!
“Tinha onze anos quando, nas
férias comecei a servir copos de dois e copos de três, traçados, jeropigas,
ginjinhas com e sem elas, bagaços, medronhos, gasosas, laranjadas e feijoadas
crispalhadas, mão de vaca com grão, carapaus grelhados, iscas, etc., etc. Eu
sei lá quantas coisas se vendiam na taberna do meu saudoso padrinho Rui de
Turquel no Campo dos Mártires da Pátria em Lisboa”. (2)
São ainda memórias das tabernas
de outros tempos, como conta o Rosas, naquele início da década de 70, bêbados,
loucos e doutores eram todos do contra. E a PIDE, então já DGS, não se metia.
E, neste âmbito, no meu penúltimo
livrinho, reporto-me à malfadada PIDE, por intermédio da FNAT a não deixar o
amigo Rui Pavillon (3) integrar uma lista para
os órgãos dirigentes do Estrela de São Pedro “por fazer parte de um grupo de
indivíduos que, nas últimas eleições para a Presidência da República, fizeram
propaganda a favor do candidato independente General Humberto Delgado”.
E tudo isto se contava nas
tascas.
Já o João Viriato, iniciou a
“Tertúlia de Lisboa”, que coordenou, no dia 30 de abril, há um ano, uma
segunda-feira, na Adega da Tia Matilde, na Rua da Beneficência, em Lisboa, logo
passando para a Casa da Covilhã, na Rua do Benformoso (4) para
acabar, em beleza, com todos os grupos tertulianos, no dia 13 de junho de 2018,
com o encerramento pelo Presidente da Direção, Manuel Vaz Rodrigues.
Pois é, há mais de vinte anos, à
mesa de uma taberna que já não existe, em Coimbra, com o objetivo de proteger
estes símbolos de identidade coimbrã, estudar as histórias das tabernas e
conhecer um pouco mais dos intelectuais que as frequentavam, nasceu a LATA –
Liga dos Amigos das Tabernas Antigas. No livro “In Illo Tempore”, de Trindade
Coelho, o autor fala dos tempos que viveu em Coimbra e da vida na cidade. Fala
também das tabernas. Bom, mas a LATA tem como objetivo de defesa daqueles espaços
como locais de socialização e de encontro ao longo dos séculos.
As tabernas são o lugar das
últimas e mais raras experiências de sociabilidade, exame crítico ou evasão.
Apagados que sejam os sinais de
decadência ou de falta de higiene, quere-se que a taberna mantenha as
caraterísticas portuguesas, a fim de que possa readquirir o espírito e o
prestígio, a poesia, o pensamento, e a graça.
E, depois, até podem vir a
caldeirada, o feijão-frade, a meia-desfeita, as canjas e os caldos verdes, o
rancho, o pé de porco, o salpicão, as iscas, os escabeches, a dobrada, as migas
e as sopas de pedra, as pataniscas de bacalhau e os ovos verdes, tudo regado
com bom vinho.
“A Igreja sempre condenou estes
pontos de encontro, chamando-lhes centros de luxúria e do demónio. E quem não
perdoava às tabernas eram os escritores mais pios que, louvando o vinho,
atacavam esses lugares velados e escuros onde o homem abandonado, oprimido ou
infeliz, tantas e tantas vezes descarregava a sua angústia e as suas misérias e
fraquezas.”
Gil Vicente deixou a maior das
homenagens às tabernas e ao vinho do Porto com o Pranto da Maria Parda. Garcia de Resende, no seu Cancioneiro Geral, recolheu também
curiosos apontamentos. Mas já o romântico Almeida Garrett, nas suas Viagens na Minha Terra, exprime uma
certa repugnância pelas tabernas, onde tomava sempre limonadas, exaltando muito
embora o vinho de Carcavelos ou do Cartaxo. E Junqueiro exclamava, heroico e
musical, que neste país há ótimos bordéis e excelentes vinhos.
Do que fui passando a história
seguradora desde a Antiguidade até aos dias de hoje, foi ainda pelos cafés,
restaurantes, e tascas leirienses, imaginando à porta, o loureiro e o saco de
água para “assustar” as moscas. Lá dentro, os banquinhos de madeira, ou
corridos, as mesas, os mochos, e as pipas ainda de madeira.
E foi nesta senda que,
recordando-me ainda dos tempos de meus tios maternos na Pousadinha, e de meu
sogro na Covilhã, que há dias fui meter conversa com o Carlos Manuel Rente
Calheiros, ainda um jovem de 60 anos, atual proprietário da Taberna do Zé
Ministro, junto à Igreja de São João de Malta, na Covilhã. Está à frente deste
estabelecimento, sobejamente conhecido da cidade laneira e região, numa zona de
grande movimento e central da Covilhã, desde março de 1982.
Porquê, Carlos, chamar-se a Tasca
do Zé Ministro?
E logo a resposta do amável
proprietário: “Esta tasca foi dantes chamada a Tasca do Carrilho, que se lhe
seguiu na aquisição o António Caetano, mais conhecido pelo ‘Bota Cá’. Meu pai,
José Calheiros da Trindade, que anteriormente teve um estabelecimento destes na
Rua do Jardim, a Santa Maria, acabou por adquirir o trespasse desta taberna, no
ano de 1957, por 64 contos. Era uma pipa de massa para a altura. O pessoal que
a frequentava, e trabalhava nas oficinas da Garagem de São João, ao lhes soar
aos ouvidos este preço, afirmaram, “Eh!
Pá! Passaram a tasca do António por 64 contos!... Deve ser algum Ministro!...”
E assim ficou o nome, até aos
dias de hoje – a Tasca do Zé Ministro.
João de Jesus Nunes
(1), (2), (4) In “O Documento Antigo – Uma Outra Forma de Ver os Seguros”.
(3) In “Breve Resenha do Centro de Recreio Popular Estrela
Desportiva de São Pedro”
(In "Notícias da Covilhã", de 04-04-2019)
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