27 de maio de 2020

ATRAVÉS DOS TRILHOS DE UM SEMANÁRIO

Ele já existia. Nesse ano de 1964 contava já 45 anos com a nova designação. Vieram-se-lhes adicionar mais seis com o título A Democracia.
Eu ainda era jovem. E foi com orgulho que vi a minha primeira publicação num jornal já a caminho do final daquele ano.
A vida de estudante foi passada entre a antiga Biblioteca Municipal, ao Jardim público, para onde ia também estudar; e a Escola Industrial onde concluí o meu Curso.
Desde muito novo me habituei à leitura de jornais diários que iam para aquela biblioteca. Sempre ávido pelos semanários da região, onde se incluía o Notícias da Covilhã.
A “semanada” não entrava nas minhas algibeiras. Nem sequer quinze tostões para uma bica em qualquer café citadino. Diligenciei assim em casa para continuar os últimos anos do meu Curso na Escola Industrial, à noite. E deste modo arranjar um emprego.
Fui então funcionário administrativo do Município Covilhanense. Entrei com 17 anos. Participei nos concursos de acesso na carreira, à altura, enquanto concluía os estudos do Secundário. Ainda não havia aqui a Universidade. Para além da Escola Industrial e o Liceu, somente o extinto Colégio Moderno. A ditadura em Portugal persistia.
Os computadores, impressoras, faxes, scâneres, fotocopiadoras, telemóveis, e todos os equipamentos e meios tecnológicos eram inexistentes. A Internet ainda era desconhecida.
A redação do Notícias da Covilhã era perto da Câmara Municipal. Conhecia muitos obreiros deste Semanário.  Desde o pessoal da secretaria ao da então tipografia. Assim como da redação e os diretores do Jornal. O Padre José Andrade já tinha passado o seu testemunho de diretor do Notícias da Covilhã ao Cónego António Mendes Fernandes.
Um impulso para começar a redigir o primeiro texto que pudesse vir a ser publicado. Aproveitando uma qualquer máquina de escrever Hermes, Underwood ou Remington disponível. Fui então ao Notícias da Covilhã apresentar o texto datilografado. Ainda timidamente.  Sou recebido pelo amável redator Alfredo Nunes Pereira.
A partir daqui foi o continuar.  Com espaços temporais mais espaçados que outros, face ao então início da vida militar e depois novas atividades profissionais. Não só seria no Notícias da Covilhã, como também noutros periódicos.
Hoje é mais fácil enviar um texto, pelos meios eletrónicos. Não é necessária a deslocação às redações dos jornais.
Tive uma excelente amizade com os saudosos antigos diretores, cónegos António Mendes Fernandes e José Almeida Geraldes. E, como não podia deixar de ser, com o especial amigo e o penúltimo diretor, cónego Fernando Brito dos Santos. Com o atual, padre Luís Freire, tudo augura uma promissora liderança à frente do Notícias da Covilhã.
Manter um jornal vivo! Nos tempos que correm, com todas as suas vicissitudes, atingindo a longevidade, é obra!
Por isso mesmo, é assaz justo o prémio, a título honorífico, com uma menção honrosa, na edição deste ano do Prémio de Jornalismo D. Manuel Falcão, promovido pelo Secretariado Nacional das Comunicações, organismo da Igreja Católica, ao Notícias da Covilhã, pelos “bons trabalhos jornalísticos”.
Como justas foram todas as atribuições de medalhas de mérito municipal que a edilidade covilhanense concedeu aos antigos diretores. E nas quais estive presente: António Mendes Fernandes, José Almeida Geraldes e Fernando Brito dos Santos.
Nos 75 anos deste Semanário, a Presidência do Conselho de Ministros atribuiu um “Louvor” ao “Notícias da Covilhã” “pelos relevantes serviços prestados à comunicação social nos seus setenta e cinco anos de existência”.
Em maio de 1962 chegou a ser bissemanário. Por pouco tempo. Voltaria a ser semanário.
25 de Abril de 1998. Apresentado no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã o primeiro livro de João J. C. Morgado. Título: “Covilhã e a Imprensa – Memórias do Primeiro Século – 1864 – 1964”. Um interessante estudo, editado pela Associação Nacional de Imprensa Diária e Não Diária. Estive presente.
O escritor fora também jornalista. Atualmente muito versado na poesia e romance histórico. Com várias obras já editadas. E vários prémios nacionais e internacionais ganhos. Aludiu na altura ao facto de que o Notícias da Covilhã tinha, não os 79 anos considerados, mas mais seis. Ou sejam, 85. Tendo em conta os da sua génese por via do semanário A Democracia que durou até 1918. “Altura em que o seu diretor, António Catalão, foi preso pelo então célebre Administrador da Covilhã, Ferraz das Barbas”.
Ainda no dia 25 de Abril de 1998. No mesmo Salão Nobre. João Morgado sugeriu ao Presidente da Câmara, Carlos Pinto, que a Rua de Santa Maria, onde se encontra sediado o Notícias da Covilhã, deveria, muito justamente, passar a chamar-se Rua Jornal Notícias da Covilhã.
O que é certo e verdade é que no ano seguinte, a 16 de janeiro de 1999, a antiga Rua de Santa Maria passou a designar-se Rua Jornal Notícias da Covilhã.
Assim também fosse atendido o alvitre, várias vezes apresentado nos semanários desta região, para que idêntica conduta fosse tomada com a atribuição de uma rua ao industrial covilhanense Ernesto Cruz. A               quem a Covilhã muito ficou a dever.
Sempre que me foi possível acompanhei o rumo, iniciativas, comemorações e também os eventos, notícias e memórias inseridas nos números do Notícias da Covilhã. Foram fontes importantes de consulta para algumas obras que publiquei. Só aqui se encontravam face à antiguidade deste semanário.
O Notícias da Covilhã continua vivo. De imagem renovada. Passou a ter presença regular na Internet. Uma página própria, entrando nas redes sociais.
Depois de algumas vicissitudes por que passou, o Notícias da Covilhã, “sob a égide da Diocese da Guarda”, volta a ter uma administração própria.  E a trilhar os caminhos por que foi fundado.
Parabéns ao Notícias da Covilhã! E a todos os que dão o seu melhor em prol do mesmo.

(In "Notícias da Covilhã", de 28-05-2020)

15 de maio de 2020

PELA PRIMEIRA VEZ, UMA EFEMÉRIDE EM TEMPO INSÓLITO

Nunca tinha acontecido no tempo das nossas vidas, um contexto de pandemia que nos obrigasse a condicionarmo-nos entre todos nós, remetidos numa primeira fase nas nossas casas, e depois um pouco mais aliviados mas sempre atentos à perigosidade latente e permanente entre todos os humanos.
Tudo se viu constrangido a uma revolução que muitos tiveram que inventar, mas na generalidade facilitada face aos meios tecnológicos que a modernidade nos trouxe e foi a forma de todo o mundo se poder adaptar à continuidade do desenvolvimento das suas atividades. Do natural passaria então ao virtual e ao digital.
Também o jornalismo teve de se fazer inventar, não deixando para trás quem já se habituara à leitura diária, semanal, quinzenal ou de outra periodicidade, em papel, a forma mais aceite para uma certa classe de longevidade.
Mas a tal modernidade que nos facultou os meios tecnológicos ao nosso alcance, quase para todos os gostos, veio também dizer-nos que a nossa adaptabilidade a uma nova vida terá de ser um facto a assinalar, terá se ser uma realidade.
No ano de 1963 nascia este jornal algarvio – O Olhanense – pela pena, coragem e persistência de Homens de rija têmpera, possivelmente aguentando algumas situações mórbidas na crítica próprias de um trabalho em movimento, mas de certeza muitos mais na contemplação positiva das páginas deste periódico, ao longo dos seus já 57 anos de existência.
Muitos jornais já nasceram e morreram durante este período. O Jornal O Olhanense tem perdurado na envolvência do amor votado ao Clube da sua Terra, e que é a base da sua génese, mas também para além do desporto, pois singra por uma veia cultural que irradia pela zona algarvia e outras abrangências.
Quem gosta de cultura e não é da zona onde o jornal tem os seus mais fervorosos leitores nota melhor as linhas direcionais que lhe incutem um cunho de satisfação para o periódico de uma região.
Por isso mesmo é de louvar a tenacidade de quem é resiliente e nalguma disrupção consegue manter o mar em águas tranquilas. Assim os que estão nas margens podem com O Olhanense desfrutar da sua leitura, ou ainda que seja do folhear das suas páginas quinzenais.
Um periódico tem muito trabalho, e muitos talvez não imaginem, mas quando o jornal tem no seu seio um Homem que se multiplica por várias vertentes do jornalismo, desde os artigos de opinião, memórias interessantes dos tempos d’outrora, entrevistas, o assim dizer “faz tudo”, é demasiado árduo para quem faz de três em um, ou até de mais. Já aqui referi em tempos que gostaria de ver também a colaboração feminina, como já tinha visto e gostado.
Da Beira Baixa e Serra da Estrela para o Algarve, em redor de Olhão, tive o privilégio de poder trazer algumas linhas do que vou escrevendo há mais de meio século,  e no Olhanense já lá vão mais de 25 anos, fruto de Personalidades que me souberam acolher na sua generosidade, numa ocasião em que escrevia a história do clube da minha Terra – a Covilhã, no contacto com a pesquisa de atletas que jogaram nos dois clubes (o mais popular Cabrita). Muito fiquei a dever na sua estima a uma figura que comigo colaborou telefonicamente, que nunca conheci, que já não está no mundo dos vivos, mas por ele tenho o maior respeito – Augusto Ramos Teixeira.
Depois viria Herculano Valente e, quando do seu falecimento pensei ver terminada a minha colaboração neste periódico, outra mão de imediato se estendeu, a do atual Diretor Adjunto, Mário Proença, por quem a minha consideração é enorme face ao que verifico nas suas tarefas em prol do Jornal. É obra!
A afabilidade do seu Diretor, José Isidoro Sousa, é para mim de incentivo a poder dar o meu modesto contributo para uma das páginas deste periódico, a quem desejo o maior sucesso, não só n’O Olhanense, jornal, mas mormente no Olhanense, clube do coração dos olhanenses, por quem tenho grande simpatia desde miúdo, quando o via deslocar-se à Covilhã para jogar nos idos tempos da I Divisão Nacional. Lembro-me de Filhó, Reina, Parra e outros. Saudades!
Os meus parabéns para o Jornal O Olhanense, e seus Obreiros, e que todos os anos possa acender a velinha do seu aniversário, mesmo que virtual, na continuidade de bem servir as gentes algarvias através dos conteúdos das suas páginas.

João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com

(In Jornal "O Olhanense", de 15-05-2020)

12 de maio de 2020

ENTRE OS MEDOS E A ÂNSIA LIBERTADORA


Esta insólita vivência por que estamos passando nossos dias só é semelhante, em parte, aos famigerados tempos da ditadura no nosso País. Similar ao Estado Novo (paradoxalmente pleno de velhos no pensamento e no espírito) no que concerne ao medo e ao isolamento. Os receios constantes de poder ser dado um passo em falso, caindo-nos denúncias por não sabermos dizer amém às “bênçãos” salazaristas; da cadeia como quem visita um doente no hospital, ou vai ao dentista, do castigo à laia do Santo Ofício da Inquisição, das infundadas acusações de quem, a troco de benesses, apontava com um olhar virulento para o seu semelhante, que muitas vezes nem conhecia. Mas, em lugar cimeiro, da tenaz tentativa de isolar o pensamento do cidadão. Só poderia haver o pensamento único, sob a batuta do senhor todo poderoso desses tempos tenebrosos. Mas o povo português tinha bem presente que “não há machado que corte a raiz ao pensamento”.
Neste respirar de Abril, que já passou mas se mantém sempre presente, pela primeira vez nublado por uma força estranha aos humanos, a ânsia libertadora de “Vamos todos ficar bem” é ainda pesarosa quando compreendemos as afirmações dos responsáveis pela saúde em Portugal, e dos nossos governantes, de que “a pandemia continuará a fazer parte das nossas vidas”.
Felizmente que Portugal conseguiu antecipadamente ultrapassar a barreira da vil tristeza de governantes de feiras e mercados, de gritarias sarcásticas, para líderes conhecedores das suas obrigações para com os homens e as mulheres deste País – o Povo. Apraz perguntar, com veemência, se ao leme dos destinos de Portugal, nesta estranha fase pandémica estivessem os anteriores homens que mandaram a juventude às urtigas para lá das fronteiras inexistentes (mas que temporariamente agora de novo surgiram), como estaria a situação, no âmbito da prevenção e atuação na saúde deste Portugal à beira-mar plantado?
Se nestes tempos anómalos estivessem ainda à frente de Portugal, a “Gaspar de saias” assim intitulada pelo homem que “revogou o irrevogável” em vez da incontestável competência de Mário Centeno, como teriam sido decididas as normas de atuação para não se cair num desastre financeiro antecipado?
Se agora nem tudo pode correr bem, como se desejava, o que seria com Cavaco na presidência de Portugal em vez dum homem que sabe tralha para acalmar, e decidir como se impõe, Marcelo de sua graça, em vez daquele homem que uma vez disse que podíamos plenamente confiar no BES, e, logo a seguir, ficou minado de vírus?
Confinamento compreendido, não só por nós portugueses, como por quase todo o planeta. É que disto só se ouvira falar nesta grande escalada de sofrimento e mortes, em páginas da história de há mais de 100 anos, e similarmente há mais de 700 anos.
Na comparação com Caxias, Peniche, Tarrafal, esse isolamento de quem nem sequer era assintomático à rebeldia, bastava uma acusação à laia inquisitória, para ser confinado a um espaço de sofrimento. Temos alguns casos na nossa Terra, sobejamente conhecidos.
É por isso que, os 46 anos de democracia que foram celebrados duma forma imperiosamente inédita, não tendo ainda ultrapassado os 48 anos de ditadura, se revestiram dum significado forte, ainda que muitos já tenham nascido em ambiente democrático e não tenham sentido na carne ou no espírito os satânicos vírus salazaristas e de seus verdugos.
A seguir ao ditador, nem Caetano na “Primavera Marcelista” se conseguiu impor, nem as “Conversas em Família” iniciadas em 8 de janeiro de 1969, em 16 episódios, na televisão de um único canal, a preto e branco, tiveram eficácia. Tão só, na altura, o programa poderá ter revolucionado a televisão portuguesa, uma vez que foi com o mesmo que se usou um teleponto pela primeira vez. O aparelho, que nem no Telejornal era usado, foi a forma encontrada pela equipa de produção para que as falas e os gestos do primeiro-ministro (então designado presidente do conselho de ministros) parecessem mais naturais.
E não obstante uma abertura cultural antes do 25 de Abril, pela mão do ministro Prof. Veiga Simão, com a extensão do ensino superior no País, os principais homens do pensamento mantinham-se lá longe, fora da Terra-Mãe.
Ainda os receios desta pandemia não se dissiparam, e já outros estão no seu enfiamento:  a crise económica, com o seu cortejo de desempregados, falências e reduções de trabalho, não obstante o hercúleo esforço governamental, é outra pandemia, pois leva ainda a doenças mentais, associadas a reações depressivas, assim como o desemprego de longa duração, em que, ao fim de algum tempo, a pessoa desmoraliza, sente-se inútil. A ociosidade forçada acaba por se refletir negativamente na saúde mental. E, conforme um dia referiu Clara Ferreira Alves, no Expresso: “Através do progresso tresloucado, a sociedade acaba por criar o seu próprio ‘vírus social’ que vai sofrendo mutações em ciclos progressivamente mais rápidos, impedindo que o nosso organismo reaja, aumentando o número de inadaptados; ou seja, os que sofrem de depressão e ansiedade”.
Vamos ter esperança para que tudo possa vir a correr pelo melhor, e que desapareça bem depressa, sem retornar, esta maldita pandemia, naquela ânsia libertadora – voltar ao novo natural, quer dizer, podermos ser mais compreensivos uns com os outros, já que muito aprendemos com este estado mórbido, e continuamos a aprender.


(In "Jornal fórum Covilhã", de  12-05-2020)

6 de maio de 2020

UMA NOVA CIVILIZAÇÃO

Face ao insólito por que o planeta foi acometido, levando ao exasperar da quase totalidade do tempo por que se vai passando, confinados ou desenfiados, em labor presencial ou teletrabalho de todos os dias, somos constrangidos a ver, a falar, ler, ouvir, desenganar, acreditar ou desconfiar, do muito que se nos depara sobre este tema da pandemia que nos continua a chegar.
Uma boa parte de todos nós, entre os quais me incluo, já teve a experiência de tristes e ledas madrugadas, de navegar entre ventos e marés, de voar além das nuvens, na longevidade dos dias de hoje, que, imperiosamente, por força da ciência e da técnica conseguiu dilatar o tal aumento de vida.
Da história do mundo, da vivência cristã para os crentes, da criatividade e das descobertas, muito nos tem chegado pela imensidão de oportunidades que nos foram e são oferecidas.
Mas!... Sempre o traiçoeiro mas!...
Se já na Antiguidade houve várias civilizações, com conquistas e derrotas, dominação de outros povos e no imperar de outras culturas, na nossa Civilização estávamos, apesar de tudo e de outros medos – os climáticos, por exemplo – em uma grande parte da humanidade, numa situação de alguma serenidade, ainda que, desde há muito, outra parte do globo se visse mergulhada no flagelo das guerras e da fome. Disso é o exemplo das migrações.
O Homem é um ser dotado de dons que tão bem soube aproveitar para a ciência em prol do desenvolvimento humano, mas que não deixa de ser uma insignificância perante um invisível animal que se infiltra diabolicamente no mesmo ser humano para o destruir.
Crentes ou não crentes, é indubitável que esta força destruidora é como comparar o impulso vencedor entre David e Golias.
Mas a Civilização atual sempre contou com homens responsáveis, e incansáveis, nas organizações internacionais criadas exatamente para o bem do próprio Homem que vive neste planeta, como a Organização das Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, entre outras. Infelizmente, sobre o mundo de hoje ainda existem líderes sem maturidade emocional, de bradar aos céus, que destroem a Terra que é de todos, quais Nero ou Hitler.
Já houve outras pandemias no Mundo, por que nós, viventes, felizmente não passámos, mas ouvimos aos nossos antepassados contar, como a gripe espanhola e a peste negra, para além das guerras mundiais. Foi nestas crises que se fizeram grandes líderes, como Churchill e Roosevelt. Portanto, só os grandes líderes atuais, responsáveis, poderão ajudar a debelar esta crise mundial.
Depois de um annus horribilis em boa parte do Mundo, e da Europa, cujos contornos foram esquecidos, ou colocados em segundo plano face ao surgimento do medonho bicho, os apitos a rebate são agora voltados para um novo normal. Ninguém parece capaz de dizer como será este novo normal “porque a mensagem é que será ditado pelas restrições impostas pela pandemia e não pelas nossas escolhas e preferências”.
É bem certo que a história é pródiga de fatalidades, desde as naturais às causadas pelo homem. No entanto, perante o homem, nada mudou quando teve várias oportunidades ao longo da sua vida.
Muitos argumentam que sempre nos soubemos adaptar às circunstâncias, ultrapassando todas as vicissitudes por que o homem passou: guerras, catástrofes naturais, mudanças de clima, doenças, perseguições.
Se é certo que é verdade também o é que houve civilizações que acabaram e exatamente quando parecia estarem no ponto mais alto do seu desenvolvimento e da sua expansão. Vejamos, por exemplo, Roma que tinha atingido um desenvolvimento técnico impensável, levando a sua cultura a pontos remotos do Globo. Mas se a ascensão tinha sido lenta e difícil, a queda do império foi rápida.
A Civilização Ocidental também conheceu na segunda metade do século XX e neste início de século um desenvolvimento tecnológico notável e a sua cultura universalizou-se. Mas, no entanto, a natalidade caiu e as sociedades começaram a envelhecer. A família começou a desfazer-se com a violência doméstica a alastrar.
Será que a nossa civilização, tal como a conhecemos, pode estar a acabar? Isto, evidentemente, não no ser humano mas na sua cultura que atingiu o seu ponto mais alto no Renascimento e que desde aí entrou em declínio, conforme questiona José António Saraiva, no “Sol”.
É certo que a tecnologia continuou a desenvolver-se, ultrapassando todos os limites que era possível imaginar; mas isso também acontecia com as civilizações que morreram: estavam no ponto mais alto do seu desenvolvimento técnico.
Bom, o modo de vida que levávamos, para já, acabou, e não se vislumbra que volte ao que era, pelo que se espera por um novo normal, a que teremos que nos habituar.

(In "Notícias da Covilhã", de  06-05-2020)