Ele já existia. Nesse ano de
1964 contava já 45 anos com a nova designação. Vieram-se-lhes adicionar mais
seis com o título A Democracia.
Eu ainda era jovem. E foi com
orgulho que vi a minha primeira publicação num jornal já a caminho do final
daquele ano.
A vida de estudante foi
passada entre a antiga Biblioteca Municipal, ao Jardim público, para onde ia
também estudar; e a Escola Industrial onde concluí o meu Curso.
Desde muito novo me habituei à
leitura de jornais diários que iam para aquela biblioteca. Sempre ávido pelos
semanários da região, onde se incluía o Notícias
da Covilhã.
A “semanada” não entrava nas
minhas algibeiras. Nem sequer quinze tostões para uma bica em qualquer café
citadino. Diligenciei assim em casa para continuar os últimos anos do meu Curso
na Escola Industrial, à noite. E deste modo arranjar um emprego.
Fui então funcionário
administrativo do Município Covilhanense. Entrei com 17 anos. Participei nos
concursos de acesso na carreira, à altura, enquanto concluía os estudos do
Secundário. Ainda não havia aqui a Universidade. Para além da Escola Industrial
e o Liceu, somente o extinto Colégio Moderno. A ditadura em Portugal persistia.
Os computadores, impressoras,
faxes, scâneres, fotocopiadoras, telemóveis, e todos os equipamentos e meios
tecnológicos eram inexistentes. A Internet ainda era desconhecida.
A redação do Notícias da Covilhã era perto da Câmara
Municipal. Conhecia muitos obreiros deste Semanário. Desde o pessoal da secretaria ao da então
tipografia. Assim como da redação e os diretores do Jornal. O Padre José
Andrade já tinha passado o seu testemunho de diretor do Notícias da Covilhã ao Cónego António Mendes Fernandes.
Um impulso para começar a
redigir o primeiro texto que pudesse vir a ser publicado. Aproveitando uma
qualquer máquina de escrever Hermes, Underwood ou Remington disponível. Fui então ao Notícias da Covilhã apresentar o texto datilografado. Ainda
timidamente. Sou recebido pelo amável
redator Alfredo Nunes Pereira.
A partir daqui foi o continuar.
Com espaços temporais mais espaçados que
outros, face ao então início da vida militar e depois novas atividades
profissionais. Não só seria no Notícias da
Covilhã, como também noutros periódicos.
Hoje é mais fácil enviar um
texto, pelos meios eletrónicos. Não é necessária a deslocação às redações dos
jornais.
Tive uma excelente amizade com
os saudosos antigos diretores, cónegos António Mendes Fernandes e José Almeida
Geraldes. E, como não podia deixar de ser, com o especial amigo e o penúltimo
diretor, cónego Fernando Brito dos Santos. Com o atual, padre Luís Freire, tudo
augura uma promissora liderança à frente do Notícias
da Covilhã.
Manter um jornal vivo! Nos
tempos que correm, com todas as suas vicissitudes, atingindo a longevidade, é
obra!
Por isso mesmo, é assaz justo
o prémio, a título honorífico, com uma menção honrosa, na edição deste ano do
Prémio de Jornalismo D. Manuel Falcão, promovido pelo Secretariado Nacional das
Comunicações, organismo da Igreja Católica, ao Notícias da Covilhã, pelos “bons trabalhos jornalísticos”.
Como justas foram todas as
atribuições de medalhas de mérito municipal que a edilidade covilhanense
concedeu aos antigos diretores. E nas quais estive presente: António Mendes
Fernandes, José Almeida Geraldes e Fernando Brito dos Santos.
Nos 75 anos deste Semanário, a Presidência do Conselho de Ministros
atribuiu um “Louvor” ao “Notícias da Covilhã” “pelos relevantes serviços prestados à comunicação social nos seus
setenta e cinco anos de existência”.
Em maio de 1962 chegou a ser
bissemanário. Por pouco tempo. Voltaria a ser semanário.
25 de Abril de 1998. Apresentado
no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã o primeiro livro de João J. C.
Morgado. Título: “Covilhã e a Imprensa –
Memórias do Primeiro Século – 1864 – 1964”. Um interessante estudo, editado
pela Associação Nacional de Imprensa Diária e Não Diária. Estive presente.
O escritor fora também
jornalista. Atualmente muito versado na poesia e romance histórico. Com várias
obras já editadas. E vários prémios nacionais e internacionais ganhos. Aludiu
na altura ao facto de que o Notícias da
Covilhã tinha, não os 79 anos considerados, mas mais seis. Ou sejam, 85. Tendo
em conta os da sua génese por via do semanário A Democracia que durou até 1918. “Altura em que o seu diretor,
António Catalão, foi preso pelo então célebre Administrador da Covilhã, Ferraz
das Barbas”.
Ainda no dia 25 de Abril de
1998. No mesmo Salão Nobre. João Morgado sugeriu ao Presidente da Câmara,
Carlos Pinto, que a Rua de Santa Maria, onde se encontra sediado o Notícias da Covilhã, deveria, muito
justamente, passar a chamar-se Rua Jornal
Notícias da Covilhã.
O que é certo e verdade é que no
ano seguinte, a 16 de janeiro de 1999, a antiga Rua de Santa Maria passou a designar-se Rua Jornal Notícias da Covilhã.
Assim também fosse atendido o
alvitre, várias vezes apresentado nos semanários desta região, para que
idêntica conduta fosse tomada com a atribuição de uma rua ao industrial covilhanense
Ernesto Cruz. A quem a
Covilhã muito ficou a dever.
Sempre que me foi possível
acompanhei o rumo, iniciativas, comemorações e também os eventos, notícias e
memórias inseridas nos números do Notícias
da Covilhã. Foram fontes importantes de consulta para algumas obras que
publiquei. Só aqui se encontravam face à antiguidade deste semanário.
O Notícias da Covilhã continua vivo. De imagem renovada. Passou a ter
presença regular na Internet. Uma página própria, entrando nas redes sociais.
Depois de algumas vicissitudes
por que passou, o Notícias da Covilhã, “sob
a égide da Diocese da Guarda”, volta a ter uma administração própria. E a trilhar os caminhos por que foi fundado.
Parabéns
ao Notícias da Covilhã! E a todos os que dão o seu melhor em prol do mesmo.
(In "Notícias da Covilhã", de 28-05-2020)