Face ao insólito por que o
planeta foi acometido, levando ao exasperar da quase totalidade do tempo por
que se vai passando, confinados ou desenfiados, em labor presencial ou
teletrabalho de todos os dias, somos constrangidos a ver, a falar, ler, ouvir,
desenganar, acreditar ou desconfiar, do muito que se nos depara sobre este tema
da pandemia que nos continua a chegar.
Uma boa parte de todos nós, entre
os quais me incluo, já teve a experiência de tristes e ledas madrugadas, de
navegar entre ventos e marés, de voar além das nuvens, na longevidade dos dias
de hoje, que, imperiosamente, por força da ciência e da técnica conseguiu
dilatar o tal aumento de vida.
Da história do mundo, da vivência
cristã para os crentes, da criatividade e das descobertas, muito nos tem
chegado pela imensidão de oportunidades que nos foram e são oferecidas.
Mas!... Sempre o traiçoeiro
mas!...
Se já na Antiguidade houve várias
civilizações, com conquistas e derrotas, dominação de outros povos e no imperar
de outras culturas, na nossa Civilização estávamos, apesar de tudo e de outros
medos – os climáticos, por exemplo – em uma grande parte da humanidade, numa
situação de alguma serenidade, ainda que, desde há muito, outra parte do globo
se visse mergulhada no flagelo das guerras e da fome. Disso é o exemplo das
migrações.
O Homem é um ser dotado de dons
que tão bem soube aproveitar para a ciência em prol do desenvolvimento humano,
mas que não deixa de ser uma insignificância perante um invisível animal que se
infiltra diabolicamente no mesmo ser humano para o destruir.
Crentes ou não crentes, é
indubitável que esta força destruidora é como comparar o impulso vencedor entre
David e Golias.
Mas a Civilização atual sempre
contou com homens responsáveis, e incansáveis, nas organizações internacionais
criadas exatamente para o bem do próprio Homem que vive neste planeta, como a
Organização das Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, entre outras. Infelizmente,
sobre o mundo de hoje ainda existem líderes sem maturidade emocional, de bradar
aos céus, que destroem a Terra que é de todos, quais Nero ou Hitler.
Já houve outras pandemias no
Mundo, por que nós, viventes, felizmente não passámos, mas ouvimos aos nossos
antepassados contar, como a gripe espanhola e a peste negra, para além das
guerras mundiais. Foi nestas crises que se fizeram grandes líderes, como
Churchill e Roosevelt. Portanto, só os grandes líderes atuais, responsáveis,
poderão ajudar a debelar esta crise mundial.
Depois de um annus horribilis em
boa parte do Mundo, e da Europa, cujos contornos foram esquecidos, ou colocados
em segundo plano face ao surgimento do medonho bicho, os apitos a rebate são
agora voltados para um novo normal. Ninguém parece capaz de dizer como será
este novo normal “porque a mensagem é que será ditado pelas restrições impostas
pela pandemia e não pelas nossas escolhas e preferências”.
É bem certo que a história é
pródiga de fatalidades, desde as naturais às causadas pelo homem. No entanto,
perante o homem, nada mudou quando teve várias oportunidades ao longo da sua
vida.
Muitos argumentam que sempre nos
soubemos adaptar às circunstâncias, ultrapassando todas as vicissitudes por que
o homem passou: guerras, catástrofes naturais, mudanças de clima, doenças,
perseguições.
Se é certo que é verdade também o
é que houve civilizações que acabaram e exatamente quando parecia estarem no
ponto mais alto do seu desenvolvimento e da sua expansão. Vejamos, por exemplo,
Roma que tinha atingido um desenvolvimento técnico impensável, levando a sua
cultura a pontos remotos do Globo. Mas se a ascensão tinha sido lenta e
difícil, a queda do império foi rápida.
A Civilização Ocidental também
conheceu na segunda metade do século XX e neste início de século um
desenvolvimento tecnológico notável e a sua cultura universalizou-se. Mas, no
entanto, a natalidade caiu e as sociedades começaram a envelhecer. A família
começou a desfazer-se com a violência doméstica a alastrar.
Será que a nossa civilização, tal
como a conhecemos, pode estar a acabar? Isto, evidentemente, não no ser humano
mas na sua cultura que atingiu o seu ponto mais alto no Renascimento e que
desde aí entrou em declínio, conforme questiona José António Saraiva, no “Sol”.
É certo que a tecnologia
continuou a desenvolver-se, ultrapassando todos os limites que era possível
imaginar; mas isso também acontecia com as civilizações que morreram: estavam
no ponto mais alto do seu desenvolvimento técnico.
Bom, o modo de vida que levávamos, para já, acabou, e
não se vislumbra que volte ao que era, pelo que se espera por um novo normal, a
que teremos que nos habituar.
(In "Notícias da Covilhã", de 06-05-2020)
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