13 de janeiro de 2021

RESTA-NOS A ESPERANÇA

 

O planeta Terra completou mais uma volta ao Sol. No alfa e ómega do pretérito ano, que não deixou saudades, tudo se passou de tão estranho que a atual geração só tem memória de casos semelhantes através da história.

Nem a entrada em 2021 livrou o mundo da pandemia do novo coronavírus. Nesta translação da Terra ficamos na esperança que em 2022 já possamos respirar de alívio naquele normal da rotação deste Planeta. Este período que ainda se continua a escrever, parece demasiado longo, mas talvez seja, segundo alguns analistas, a forma de começar a alternar o sentimento de pessimismo pelo de otimismo. Venham lá os equinócios e solstícios que nos permitam caminhar ainda que num novo normal, mas que os surtos, epidemias, pandemias e endemias nos deixem em paz. Precisamos de respirar de alívio. Urgem os beijos e abraços, as palavras de conforto na proximidade dos entes queridos e amigos. O bicho invisível quis fazer dissipar as palavras afeto, ternura, afeição, carinho.

Se é certo que já estamos fartos de ouvir falar de assintomático, confinamento, estirpe, higienizar, infetado, letalidade, máscaras, pandemia, quarentena, R0 (zero), teletrabalho, zaragatoa, e outras mais designações deste tempo pandémico que estamos atravessando, não podemos deixar de refletir do porquê de, em pleno século XXI, terem acontecido no Planeta tão expressivos números de milhares e milhões de mortos e casos de infeção. Quase que foram esquecidas as preocupações no âmbito dos problemas climáticos.

A lição que agora todos estamos a levar transporta-nos para o que nos abstivemos de fazer em termos de precauções, na dedução de muitos de que se sentiam imunes e que só aos outros o perigo os poderia atingir. O resultado está à vista de todos. Mas, mesmo assim, persistem os imprudentes que por essas ruas da cidade se cruzam entre si, sem máscara, se cumprimentam da mesma forma e não respeitam o distanciamento.

Na altura em que escrevo estas linhas, Dia de Reis, fica-nos a esperança de que os presentes dos Magos, de ouro, incenso e mirra, ao Menino, possam transmitir-nos aquela sensação de poder ser a dádiva divina, como portadores das vacinas por que todos ansiamos. Será uma forma de esquecermos 2020 que foi, como por castigo, se se tivessem abatido sobre a humanidade todos os males daquela caixa de uma lenda, a de Pandora. Acontece que, na versão de Afonso Camões, “Pandora era também curiosa e atreveu-se a abrir a caixa lacrada, julgando-a vazia. Foi então que, pela tampa, se soltaram o ano de 2020, a doença, o sofrimento, o ódio, a fome, a guerra, a mentira e o medo, sobretudo medo dos outros”. E o mesmo jornalista continua que “Lá bem no fundo da caixa, que a assustadora Pandora se apressou a fechar, restava apenas algo que o mito nos reservou para a posteridade. Era a esperança!”

Pois bem, é com ela que viramos costas a esse ano maldito.

A chegada da vacina é o primeiro e mais desejado sinal de uma nova esperança, graças à comunidade científica e também à mobilização do financiamento público, em especial da União Europeia, que no dia anterior em que redijo estas palavras se iniciou em Portugal a presidência desta mesma União Europeia.


(In "Notícias da Covilhã", de 14-01-2021)

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