O planeta Terra completou mais
uma volta ao Sol. No alfa e ómega do pretérito ano, que não deixou saudades,
tudo se passou de tão estranho que a atual geração só tem memória de casos
semelhantes através da história.
Nem a entrada em 2021 livrou o
mundo da pandemia do novo coronavírus. Nesta translação da Terra ficamos na
esperança que em 2022 já possamos respirar de alívio naquele normal da rotação
deste Planeta. Este período que ainda se continua a escrever, parece demasiado
longo, mas talvez seja, segundo alguns analistas, a forma de começar a alternar
o sentimento de pessimismo pelo de otimismo. Venham lá os equinócios e
solstícios que nos permitam caminhar ainda que num novo normal, mas que os
surtos, epidemias, pandemias e endemias nos deixem em paz. Precisamos de
respirar de alívio. Urgem os beijos e abraços, as palavras de conforto na
proximidade dos entes queridos e amigos. O bicho invisível quis fazer dissipar
as palavras afeto, ternura, afeição, carinho.
Se é certo que já estamos fartos de ouvir falar de assintomático,
confinamento, estirpe, higienizar, infetado, letalidade, máscaras, pandemia,
quarentena, R0 (zero), teletrabalho, zaragatoa, e outras mais designações deste
tempo pandémico que estamos atravessando, não podemos deixar de refletir do porquê
de, em pleno século XXI, terem acontecido no Planeta tão expressivos números de
milhares e milhões de mortos e casos de infeção. Quase que foram esquecidas as
preocupações no âmbito dos problemas climáticos.
A lição que agora todos estamos a levar transporta-nos para o que nos
abstivemos de fazer em termos de precauções, na dedução de muitos de que se
sentiam imunes e que só aos outros o perigo os poderia atingir. O resultado
está à vista de todos. Mas, mesmo assim, persistem os imprudentes que por essas
ruas da cidade se cruzam entre si, sem máscara, se cumprimentam da mesma forma
e não respeitam o distanciamento.
Na altura em que escrevo estas linhas, Dia de Reis, fica-nos a esperança de
que os presentes dos Magos, de ouro, incenso e mirra, ao Menino, possam
transmitir-nos aquela sensação de poder ser a dádiva divina, como portadores
das vacinas por que todos ansiamos. Será uma forma de esquecermos 2020 que foi,
como por castigo, se se tivessem abatido sobre a humanidade todos os males
daquela caixa de uma lenda, a de Pandora. Acontece que, na versão de Afonso
Camões, “Pandora era também curiosa e atreveu-se a abrir a caixa lacrada,
julgando-a vazia. Foi então que, pela tampa, se soltaram o ano de 2020, a
doença, o sofrimento, o ódio, a fome, a guerra, a mentira e o medo, sobretudo
medo dos outros”. E o mesmo jornalista continua que “Lá bem no fundo da caixa,
que a assustadora Pandora se apressou a fechar, restava apenas algo que o mito
nos reservou para a posteridade. Era a esperança!”
Pois bem, é com ela que viramos costas a esse ano maldito.
A chegada da vacina é o primeiro e mais desejado sinal de uma nova
esperança, graças à comunidade científica e também à mobilização do
financiamento público, em especial da União Europeia, que no dia anterior em
que redijo estas palavras se iniciou em Portugal a presidência desta mesma
União Europeia.
(In "Notícias da Covilhã", de 14-01-2021)
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