Entre estes dois momentos do
ano, dou início a este editorial para os estimados Camaradas Antigos
Combatentes e Leitores em geral. Depois do que tantos de nós temos passado, será
reconfortante que a encantadora primavera nos entregue ao tentador verão, que quase
todos esperamos.
Outros momentos foram surgindo
desde o último número deste periódico. Por exemplo, muitos já fomos vacinados
contra a Covid 19. Outros continuam ainda a aguardar pela segunda dose da
vacina. O desejo é de que todos nos sintamos mais protegidos e possamos voltar aos
pontos de reuniões diversificadas, incluindo os convívios no espírito dos eventos
tão desejados.
Na sequência do Estatuto do
Antigo Combatente aprovado pela Lei n.º 46/2020, de 20 de agosto, a que fizemos
referência na edição d’O Combatente da Estrela, nº. 120 de setembro de
2020, surgiu em abril a aprovação do protocolo que isenta os antigos
combatentes de taxas moderadoras nas consultas, exames complementares de
diagnóstico e nos serviços de urgência do SNS, estendendo-se também às viúvas e
viúvos dos mesmos.
Segundo um estudo do americano
John P Cann, financiado pelo Kings College de Londres, especialistas ingleses e
norte-americanos estudaram comparativamente o esforço das nações envolvidas em
vários conflitos em simultâneo, principalmente no que respeita à gestão desses
mesmos conflitos, no campo da logística geral, do pessoal, das economias que os
suportam e dos resultados obtidos. Assim, John Cann chegou a várias conclusões, entre as quais,
que em todo o mundo só havia dois países que mantiveram três teatros de
operações de guerra em simultâneo: a Grã-Bretanha, com frentes na Malásia (a
9.300 Km, de 1948 a 1960 – 12 anos); no Quénia (a 5.700 Km, de 1952 a 1956 – 4
anos); e em Chipre (a 3.000 Km, de 1954 a 1959 – 5 anos); e Portugal, com a
frente na Guiné (a 3.400 Km), Angola (a 7.300 Km), e Moçambique (a 10.300 Km),
de 1961 a 1974 (13 anos).
Os especialistas chegaram à
conclusão de que Portugal, dadas as premissas económicas, os seus recursos, a
sua pequena dimensão, as dificuldades logísticas para abastecer as três
frentes, bem como a sua distância, a vastidão dos territórios em causa, e a enormidade
das suas fronteiras, foi aquele que melhores resultados obteve.
Consideraram por último, que
as performances obtidas por Portugal, se devem sobretudo à capacidade de
adaptação e sofrimento dos seus recursos humanos, à sobrecarga que foi possível
exigir a um grupo reduzido de quadros dos três Ramos das Forças Armadas, com
comissões atrás de comissões, com intervalos exíguos de recuperação física e
psicológica e às centenas de milhares de jovens que durante 13 anos combateram
naqueles territórios. Baseiam-se estas afirmações com base em observadores
internacionais.
Por várias vezes foi referido,
que estes homens que serviram durante estes anos na Guerra do Ultramar, só pelo
facto de aguentarem este esforço sobre humano que se reflete necessariamente em
debilidades precoces de saúde, mazelas para toda a vida, invalidez total ou
parcial, e morte, tudo ao serviço da Pátria, merecem o reconhecimento da Nação,
mas jamais lhes foi dada essa justa oportunidade. Algumas referências em
momentos como nos dias 10 de Junho, não são suficientes.
Por todo o Mundo se veneram,
recordam, imortalizam e se homenageiam os soldados que combateram em teatros de
guerras, sejam eles vencedores ou vencidos. Mas muitos dos nossos mortos foram
abandonados nos territórios africanos. Valeu o trabalho de excelência da Liga
dos Combatentes, diligenciando, tanto quanto possível, que todas as ossadas dos
nossos Antigos Combatentes, com as inerentes dificuldades, fossem armazenadas
nos respetivos cemitérios, sob devido registo, colocando-as assim à disposição
das suas famílias.
Na opinião muito racional do
antigo Combatente que nos facultou estes elementos muito pertinentes, refere, e
muito acertadamente, “que somos os únicos que não seguem os exemplos
generalizados do tratamento diferenciado aos que serviram a Pátria em combate.
E pior ainda. O cúmulo dos cúmulos. Quem combateu é censurado, vilipendiado e
ostracizado. Pelo contrário, os traidores/desertores, muitos dos quais fugiram
e foram viver com mordomias de príncipes e outros que ainda pululam no sistema
político vigente, apelavam à morte dos soldados portugueses.”
Muitas memórias foram escritas
em livros, alguns dos quais foram objeto de apresentação na Biblioteca
Municipal da Covilhã (BMC), por via deste Núcleo da Covilhã da Liga dos
Combatentes.
Refiro alguns que constam da
minha biblioteca pessoal e que já tive o ensejo de os ler:
- A Tropa vai fazer de ti um Homem (Guiné 1971 – 1974), de
Juvenal Sacadura Amado. Apresentado na BMC em 21-04-2016.
- Cartas do Mato, por Daniel Gouveia.
- Danos Colaterais – Angola
62/64, de J. Eduardo Tendeiro.
Apresentado na BMC em 2017.
- Memórias Combatentes na guerra do Ultramar, de João Peres,
Edição da Liga dos Combatentes Núcleo de Olhão, de 02-04-2016.
- Cambança Final (Guiné – Guerra
Colonial) – Contos, de
Alberto Branquinho. Maio de 2013.
- Filhos d’outrem ou d’algures, de Alberto Branquinho. Maio
de 2015.
(In "O Combatente da Estrela", nº. 123-JUL/2021)
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