Casado e com ter três filhas. Completou
a Instrução Primária no Asilo, instalações ainda hoje devolutas, na Rua
Combatentes da Grande Guerra, na Covilhã. Por aqui passaram vários alunos,
entre indigentes, pobres, remediados, e de excelentes posses.
Manuel Espinho frequentaria
depois a Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, e desempenharia
as funções de empregado de escritório na empresa Hilário Dias Freire & Cª
Lda até ao seu encerramento, sendo que, já depois do serviço militar
obrigatório, ainda exerceu funções administrativas na Universidade da Beira
Interior (UBI).
E é precisamente sobre a sua
passagem pelo serviço militar, que vemos o Manuel Espinho a caminho de Castelo
Branco, para iniciar a recruta no Batalhão de Caçadores 6, naquele mês de
janeiro de 1966. Como quase sempre acontece, eram muitos os conhecidos, com uns
a ficarem na mesma companhia e até outros no mesmo pelotão. Após a Páscoa,
surgiu o período da especialidade. Manuel Espinho é então enviado para o
Regimento de Artilharia Ligeira 4 (RAL 4), em Leiria, onde aqui tira a
especialidade de escriturário e SPM. Oportunidade para poder alugar um quarto
na cidade do Lis, onde à socapa se vestia à civil nos fins de semana com os
seus camaradas… Eles eram o Arlindo, o Gato, o Luís Filipe Rodrigues e outros mais
que já não recorda. Pois é, o Manuel Espinho e o Arlindo ainda arranjaram umas
namoradas em Marrazes e Marinheiros. Terminada a especialidade, em meados de
junho de 1966, a maioria foi colocada nas diversas unidades militares como
escriturários. No entanto, o Manuel Espinho, o Gato, o Carlos Paulo Rato, o
Luís Filipe, o Tomás e o Torrão, entre outros cuja memória já não lhe ajuda,
foram parar à Trafaria para obterem a especialidade de operadores cripto. Aqui
ficaram até 30 de setembro. Na Trafaria assinaram termos de responsabilidade
face à especialidade sensível que estavam a tirar, vindo a saber-se serem
destinadas aos serviços da PIDE. Sendo certo que a maior parte do dia era
passado nas aulas, também é verdade que o cais onde apanhavam o barco para
Belém era perto. Daqui, de elétrico, era um saltinho para a baixa alfacinha.
Mas, para além de Manuel Espinho poder ir alguns fins de semana à Covilhã, de
comboio, também tinha família em Lisboa, entre o Martim Moniz e a Graça, onde
era recebido com muito agrado.
Em 30 de setembro de 1966,
terminada a especialidade, já como 1º. Cabo, seguiram rumo a outros destinos,
sendo que Manuel Espinho, e mais uma dúzia de seus camaradas, foram colocados no
Quartel-General da 2ª Região Militar, em Tomar, sendo posteriormente
distribuídos por unidades militares onde havia falta de criptos, só que, por
azar, não necessitavam deles quer em Castelo Branco quer na Guarda. Ficou assim
em Tomar.
Uns dias antes do Natal de
1966, como era costume, a malta que não estava de serviço e saía, ao regressar
passava pelo Centro Cripto para ajudar caso houvesse muito serviço. Numa dessas
noites, agarrando numa mensagem, decifrou-a, para ajudar como era costume. Por
ironia do destino, verificou que, dessa mensagem, na parte final da mesma,
reportada à sua Unidade Militar na Trafaria, referia que estava mobilizado para Angola.
Resultado: no dia seguinte já tinha guia de marcha para seguir para a Trafaria,
ficando a saber que o seu batalhão pertencia ao Regimento de Infantaria de
Évora, sendo o IAO em Santa Margarida, com apresentação no Batalhão de
Caçadores 1903, Companhia de Caçadores 1643. Na guia de marcha para os
derradeiros 10 dias da despedida dos familiares, antes do embarque para Angola,
a acontecer nos princípios de janeiro de 1967, quando chegou à Companhia
encontrou-se com o José Madeira (emigrado no Canadá) e com o Ludovino Pereira (que
está em França), aquele como cabo condutor e este como atirador, pois
pertenciam à mesma companhia do Manuel Espinho.
No dia 18 de fevereiro de 1967
embarcaram no Vera Cruz para Angola, onde o Espinho encontrou, já no barco, o
seu amigo José Baltazar que vive em Cebolais de Cima.
A chegada a Luanda aconteceu
em 22 de fevereiro de 1967. Aqui, Manuel Espinho teve a alegria de ser recebido
pelos seus tios que viviam em Angola, no Bairro da Cuca, onde passou sempre as
suas férias. Em Luanda, ao fim da tarde, encontrava-se sempre malta da Covilhã,
na cervejaria Portugália.
Foi então a partida do
Grafanil para o Norte. Dormiam em viaturas e, de manhã cedo, partiam para o
destino: CCS Tomboco, 1643 Lufico, 1644 Zaueva, 1645 Tomboco.
Em janeiro de 1968, a
Companhia foi colocada em Ambrizete (na missão). Manuel Espinho foi logo
colocado no comando do setor, pois só havia um centro cripto.
Ambrizete tinha a praia junto
ao quartel, bares, cinema, avião diário, uma grande sanzala, e muita garota
para ajudar a passar o tempo…
Era de facto uma terra
inesquecível, já com muitos civis brancos, comércio, bares, restaurantes, um
clube com bilhares e snookers, ringue para futebol de salão, cinema e outros
espetáculos, polícia e até posto da PIDE, hotel e lojas de roupas e utensílios
diversos, avião 6 dias por semana, hospital com um médico, e igreja. Era uma
zona de passagem para Noqui, S. Salvador, Santo António do Zaire. Para além
disto tudo, um pôr-do-sol inolvidável. Foram, de facto, 27 meses que Manuel
Espinho não esquece, por terras do Norte de Angola. Felizmente, de coisas menos
boas, não tem para contar, já que por elas não passou, sendo no entanto certo
que, do que sabia de negativo, face à especificidade da sua especialidade, nada
podia contar a ninguém.
Terminada o seu tempo de serviço,
no regresso a Portugal, embarcou no Vera Cruz, em Luanda, nos princípios de
junho de 1969, chegando nove dias depois.
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