21 de julho de 2021

ESTE ESTIO QUE COMEÇOU

 Entrámos no mês quente de verão, que, de quente, por vezes prega-nos umas partidas. Que o digam algumas noites. Alguns estudantes preparam-se para iniciarem suas férias enquanto outros se veem a braços com exames, sejam presenciais ou online. Com esta maldita pandemia, tudo se alterou, até mesmo as normas de conduta.

Se mais uma cadeira fora conseguida, para os universitários, ou a confirmação daquele Erasmus, para não dizer a conclusão dos seus cursos, isto já não é como era há uns tempos atrás, não muito longos, porque o coronavírus ainda anda saltitando por aí. E, quando menos se pensa, tudo se modifica. Como, mais uma vez, o chico-espertismo de alguns responsáveis pelas vacinações. Aqui, a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Oriental, já suspensa, “desobedeceu” ao plano, conforme referiu o coordenador da task force, com a vacinação de jovens de 18 anos, numa fase em que o auto agendamento está disponível apenas para maiores de 35 anos. Não sendo Portugal uma república das bananas, há que punir os infratores não esquecendo os primeiros que foram objeto desse atrevimento e de que a comunicação social deu ênfase na devida altura.

O precedente mês de junho foi o dia dos Santos Populares, que o bicho mau pretendeu lhes retirar toda a popularidade, não conseguindo ser concretizada no seu pleno. No Porto, do silêncio dos martelos às enchentes de foliões, a noite de São João viveu-se com poucas restrições. “De um lado, a tristeza dos comerciantes da zona de diversão das Fontaínhas, obrigados a fechar às 18 horas, do outro, o crescente movimento que tomou conta das esplanadas na Ribeira e na Cordoaria em vários ajuntamentos”. Tal como sucedeu com os tripeiros também um pouco por todo o país houve aqueles desenfiados como se dizia na tropa. E, vai daí, toca a abusar, onde as regras de distanciamento e sanitárias não tinham regra.

Depois, tivemos o governo e o presidente da República a duas vozes. Se por um lado há o dramatismo, como o momento “crítico”, “grave” e “complexo” – os casos vão “continuar a aumentar”, por outro quem ouve Marcelo vai pelo lado da esperança. O que é certo e verdade é que com a variante Delta da peste dos nossos dias, foi dado um passo atrás nalgumas zonas do país, nomeadamente Lisboa e Vale do Tejo, onde se verifica a maior permanência do novo coronavírus. Entretanto a boa notícia é que quem já tem o certificado digital vai ter luz verde para andar pelo país sem restrições.                                   

Em Portugal, com o fulgor possível do Campeonato Europeu de Futebol, não vai haver aquele período da silly season, pois continuarão também as conversas sobre a responsabilidade política de uma delação grave pelas bandas do município alfacinha. É que já estamos habituados ao caricato de atuações duma forma tão de hilariante quão de angústia. Para que serviu tanto empenho nos trabalhos da proteção de dados individuais de todos nós? Foram assinaturas e mais assinaturas de declarações de aceitação e conhecimento por essas variadíssimas instituições fora. Dá para pensar.

A Seleção de Portugal, aquela de todos nós, também nos pregou uma partida, tal como o tempo. Quando esperávamos continuar na efervescência do entusiasmo pela Seleção das Quinas, surgiu-nos aquele balde de água fria em cima do banho de entusiasmo e lá saltámos fora. Paciência, fria tem que ser agora a cabeça e passar novamente a olhar em frente para podermos voltar ao quente entusiasmo das próximas jornadas do Mundial.

Vamos esperar por melhores dias mas, convençam-se, quem tem ouvidos para ouvir e olhos para ver, que se não houver respeito pelo cumprimentos das regras estabelecidas para este tempo pandémico, tantas e tantas vezes badaladas, não sairemos da cepa torta, porque a situação normal da vida não está já por aí, ela regressa à situação do medo, e a normalização está mais que tardia.

 (In "Notícias da Covilhã", de 22-07-2021)

16 de julho de 2021

JULHO - UMA ODE AOS SANTOS

 Olhei para o calendário do mês de julho e, numa observação rápida: uma caterva de comemorações de santos, muitos sobejamente conhecidos, outros nem tanto. Pois vejamos:

No dia 2 de julho, São Bernardino Realino, italiano (n. 1-12-1530, f. 2-7-1616). 3 de julho, São Tomé, padroeiro dos pedreiros, dos arquitetos e dos cegos. Era pescador quando Cristo o aceitou como um discípulo. O episódio mais popular de São Tomé é a sua incredulidade perante a ressurreição de Jesus Cristo, que depois veio a reconhecer quando Cristo apareceu novamente aos apóstolos. Evangelizou depois pela Índia até se tornar um mártir. 4 de julho, Santa Isabel. Isabel de Aragão nasceu em 1269, em Saragoça, Reino de Aragão, e faleceu a 4 de julho de 1336, vítima de peste, em Extremoz. Isabel foi rainha consorte de Portugal, tendo casado com D. Dinis de Portugal, “o Lavrador”. Muita conhecida pelo famoso milagre das rosas. É padroeira da cidade de Coimbra. 6 de julho, Santa Maria Goretti. Maria Teresa Goretti nasceu em Itália em 1890 e faleceu em 6 de julho de 1902, com apenas 11 anos. Pertencente a uma família pobre e numerosa, Goretti sempre teve uma vida difícil. Com a morte do pai, a família teve de se mudar e de partilhar residência com outra família. Foi então que um jovem de 20 anos, chamado Alexandre Serenelli, conheceu Goretti e tentou seduzi-la às escondidas das famílias. Perante todas as suas recusas em nome de Deus, Alexandre tentou violar Goretti, acabando por esfaqueá-la catorze com uma adaga de 30 centímetros. Goretti resistiu milagrosamente aos ferimentos graves, mas acabou por morrer no hospital perante a imagem de Virgem Maria, vinte horas depois. Ainda teve tempo de perdoar o seu agressor, que foi condenado a 30 anos de prisão. Serenelli esteve presente na cerimónia de canonização de Maria Goretti, em 1947. Dia 9 de julho, Santa Paulina, uma italiana nascida em 1865 que se naturalizou brasileira. Dia 10 de julho, Santo Olavo, rei da Noruega, um viking que conheceu o cristianismo em Inglaterra e se batizou em 1014 em França. É padroeiro da Noruega e das Ilhas Faroé. Dia 11 de julho, São Bento de Núrsia que nasceu na Itália em 480, tendo como irmã gémea Santa Escolástica. Pelo seu contributo à civilização europeia, o Papa Paulo VI declarou São Bento como o padroeiro principal da Europa, em 1964. Dia 13 de julho, Santo Henrique. Henrique II nasceu a 6 de maio de 973 e faleceu na Alemanha a 13 de julho de 1024. A sua esposa, Cunegunda, princesa do Luxemburgo, também foi canonizada. Tendo feito votos de castidade, o casal não teve filhos. Ele é o padroeiro de Basileia e a esposa a padroeira do Luxemburgo. Dia 14 de julho, São Camilo. Camilo de Lellis nasceu em Itália em 1550. Fez-se soldado mas ao voltar para a sua terra natal entrou numa vida decadente, gastando tudo o que tinha no jogo. No momento mais delicado da sua vida, encontrou na graça divina um refúgio e uma inspiração e tornou-se sacerdote. É o protetor dos enfermos e o padroeiro dos hospitais. Dia 15 de julho, São Boaventura, nascido em Itália em 1218, faleceu em 15 de julho de 1274. Dia 16 de julho, Nossa Senhora do Carmo. Celebra-se neste dia porque em 1251 ocorreu a aparição de Nossa Senhora em Cambridge, Inglaterra. Também é apelidada de Nossa Senhora do Monte do Carmelo em referência ao convento construído em sua honra no Monte Carmelo, em Israel. Este lugar sagrado do Antigo e Novo Testamento foi onde o Profeta Elias evidenciou a existência de Deus. O significado de Carmelo é “vinha do Senhor”, visto que em hebraico “carmo” significa vinha e “elo” significa senhor. Dia 17 de julho, Santa Marcelina, que nasceu em Roma no ano de 327 e faleceu no mesmo local, a 397. Dia 18 de julho, São Francisco Solano, nascido em 1549 em Espanha, foi um frade missionário que evangelizou diferentes povos até falecer no Peru, em 1610. Dia 19 de julho, Santo Arsénio. Arsénio, “o Grande” nasceu em Roma no ano 354, no seio de uma família de senadores. Foi tutor dos filhos do imperador Teodósio em Constantinopla e ordenado sacerdote pessoalmente pelo Papa Dâmaso. Dia 20 de julho, Santo Aurélio. Aurélio de Cartago nasceu no século IV e faleceu por volta do ano 430. Os primeiros registos de Santo Aurélio

surgem a partir do ano 388 enquanto diácono, sendo que se tornou Bispo de Cartago em 391. Aurélio era amigo de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, atual Argélia, que muito o admirava e louvava em cartas ainda hoje existentes. Dia 20 de julho, Santo Elias. Foi um importante profeta do século IX a. C, do reino de Israel, que defendia o culto de Deus durante o reinado de Acab, onde se adorava o deus Baal, que era considerado um culto idólatra. Mais tarde, o profeta Elias surgiria no Dia da Transfiguração do Senhor. Dia 21 de julho, São Lourenço de Brindisi. Antes chamava-se Giulio Cesari Russo e nasceu a 22 de julho de 1559, na Itália. Curiosamente, faleceu no mesmo dia 22 de julho do ano 1619, no seu 60º aniversário, em Lisboa, na sua segunda viagem à Península Ibérica. Dia 22 de julho, Santa Maria Madalena, natural de Magdala, uma cidade da costa do Mar da Galileia. A figura de Maria Madalena é envolvida em certa polémica. Tradicionalmente, Maria Madalena é identificada como a mulher convertida que perfumou os pés de Jesus, que os banhou em lágrimas e os enxugou com os seus próprios cabelos. Ela é assim considerada a padroeira dos cabeleireiros, dos boticários, dos convertidos e dos fabricantes de perfumes. Dia 23 de julho, Santa Brígida, que nasceu na Suécia em 1303 e faleceu em Roma a 23 de julho de 1373. É a padroeira da Suécia e co-padroeira da Europa, juntamente com Santa Catarina de Sena e Santa Tereza Benedita da Cruz. Dia 24 de julho, Santa Cristina. Foi uma fervorosa cristã do século III que morreu martirizada. É vista como a padroeira dos moleiros e é invocada contra a depressão. Dia 25 de julho, Santiago. Foi um dos 12 apóstolos de Jesus, o primeiro a ser martirizado. Nasceu na Palestina em data incerta e faleceu em 44 d.C. em Jerusalém, decapitado por ordem de Herodes Agripa I. Santiago foi protetor do exército português, ficando conhecido como Santiago Mata-Mouros. Por influência inglesa, Santiago foi depois substituído por São Jorge, por altura da crise de 1383-1385. Também neste dia 25 de julho se festeja o São Cristóvão segundo o calendário romano. No calendário ortodoxo, o Dia de São Cristóvão é a 9 de maio. Pouco se sabe ao certo sobre São Cristóvão. Foi decapitado pelo rei pagão que governava a região. Em Portugal São Cristóvão é o padroeiro de Mondim de Basto. O nome do santo é uma atribuição popular. São Cristóvão não foi canonizado pela Igreja Católica.  Dia 26 de julho, Santa Ana. O nome Ana significa “graça”, foi a mãe de Maria e a avó de Jesus Cristo. Era esposa de Joaquim. Neste dia 26 de julho celebra-se anualmente o Dia dos Avós em honra de Santa Ana e de São Joaquim, os avós de Jesus. Santa Ana fazia parte da família do sacerdote Aarão e São Joaquim da família real de Davi. Apesar da esterilidade de Ana e da idade avançada de ambos, foram abençoados por Deus com o nascimento de Maria. A Virgem Maria, cujo nome significa “senhora da luz” acabaria por nascer a 8 de setembro de 20 a.C. O culto a Santa Ana é muito antigo, tendo-se popularizado sobretudo na Idade Média. Em 1378 o Papa Urbano IV oficializou o seu culto e em 1584 estabeleceu-se o dia 26 de julho para a sua celebração. São Joaquim era celebrado noutra data, mas o Papa Paulo VI uniu a celebração de Santa Ana e de São Joaquim no dia 26 de julho. Dia 27 de julho, Santa Natália. Santa Natália de Córdoba nasceu nesta cidade por volta de 825 numa altura de pleno domínio muçulmano e perseguição aos cristãos. Os seus pais eram maometanos, mas após a morte do pai, a sua mãe Liliana casou em segundas núpcias com um cristão chamado Félix que as converteu ao cristianismo. Natália cresceu e anos mais tarde casou também com um cristão chamado Aurélio. Todos eles professavam a fé na clandestinidade, até que Aurélio presenciou o martírio humilhante de um cristão amarrado ao rabo de um jumento a ser arrastado a caminho da execução. Naquele dia, num ato de coragem, os dois casais distribuíram os seus bens pelos pobres e resolveram praticar a sua religião em público, para encorajar os cristãos de Córdoba. Os quatro cristãos recusaram-se a negar a fé cristã mesmo perante todas as torturas a que foram submetidos. Foram por fim condenados à morte e degolados a 27 de julho de 852. A cabeça de Santa Natália, assim como o corpo de Santo Aurélio seriam 6 anos mais tarde transladados para Saint-Germain, de Paris. Dia 28 de julho, São Vítor I. Foi Papa entre 189 e 199. Nasceu na Tunísia, na altura uma província romana. Terá morrido em 202 martirizado na quinta perseguição, movida pelo imperador Lúcio Septímio Severo. Dia 29 de julho, Santa Marta. Marta de Betânia era irmã de Lázaro e de Maria de Betânia. A sua amizade com Jesus levou o Messias a chorar e a ressuscitar Lázaro. Esta é uma das passagens mais importantes da Bíblia sobre Marta. Era em casa de Marta, Maria e Lázaro, na Betânia, que Jesus procurava momentos de descanso. Santa Marta tornou-se assim a santa padroeira dos hospedeiros, cozinheiros e nutricionistas. O nome Marta deriva mesmo do aramaico e significa “mestra”, “senhora” ou “dona de casa”. Dia 30 de julho, São Pedro Crisólogo. Nasceu por volta do ano 380 em Ímola, Bolonha e faleceu provavelmente a 30 ou 31 de julho de 450, em visita à sua cidade natal. Foi considerado um dos maiores pregadores da história da Igreja. Conhecido como “Pedro das palavras de ouro”, e merecedor do título de Doutor da Igreja pelo Papa Bento XIII em 1729. Dia 31 de julho, Santo Inácio de Loyola. Foi um presbítero e o fundador da Companhia de Jesus, a maior ordem religiosa católica do mundo. Nasceu em Loyola (atual município de Azpeitia), no País Basco, a 31 de maio de 1491 e faleceu em Roma, a 31 de julho de 1556. Entre outras obras, fundou a Companhia de Jesus, em 1534, com fins missionários e educacionais. Esta ordem religiosa dos jesuítas viria a desempenhar um papel relevante na Reforma Católica.

(Elementos consultados na Internet, in Calendarr)

(In Jornal "O Olhanense", de 15-07-2021)

NÃO AO EUROCETICISMO

 Ao longo dos últimos meses fomos bombardeados pela negatividade, pelo medo, pela notícia improvável que foi gerando um cansaço e desalento generalizado.
No entanto, no estudo Reuters Institute Digital News Report 2021, lançado em 23 de junho, indica que os níveis de confiança dos portugueses nas notícias é de 61%, o que revela uma subida de cinco pontos percentuais comparativamente com 2020. Apesar do aumento de confiança, no total de 46 países em análise, Portugal desce uma posição no ranking global, perdendo a primeira posição, em ex aequo com a Finlândia, que se destaca, agora, com 65%, enquanto o valor médio de confiança das notícias dos países em estudo subiu seis pontos percentuais, para os 44%.
Certo é que o impacto da pandemia na União Europeia gerou uma crise de confiança nos 27 países membros. Segundo Leonídio Paulo Ferreira, in DN, “há uma quebra no entusiasmo dos alemães com o projeto europeu. E também dos franceses. Estes dois pontos devem alarmar os que se preocupam com o futuro da UE. A situação é especialmente séria para um país como Portugal que, saído duma ditadura de meio século e deixando para trás um império com meio milénio, apostou forte no projeto europeu para se consolidar como uma democracia próspera.”
Note-se que foi em 1977 que Mário Soares submeteu o pedido de adesão à então CEE. Surge agora uma súbita fragilidade da UE quando dava a impressão de que o trauma do Brexit estava ultrapassado.
Pois é, a UE nasceu em 1957. A longevidade de Portugal quase a caminho de nove séculos. Com apenas 64 anos, a UE a 27 nunca conseguiu uma coesão. De facto, foi do idealismo de algumas grandes figuras, mas também do pragmatismo de quem assistiu à destruição causada pela Segunda Guerra Mundial – e querendo evitar novos conflitos –, que a atual UE assenta muito na confiança entre alemães e franceses. Só o Reino Unido entrou para depois sair. O sucesso deste ex-membro, na vacinação contra a covid-19, é evidente em comparação com a UE. Muito pela dinâmica do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. O ganhador do Brexit. Conseguiu fazer melhor do que a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen. Não obstante a sua boa intenção na compra centralizada de vacinas por Bruxelas para evitar concorrência entre os 27 membros, e também obter melhores condições de fornecimento junto das farmacêuticas, acabou injustamente por se virar contra os fortes desejos da União.
Neste tempo pandémico, que não mais tem fim, o Governo português tem vindo a aceitar tudo aos turistas estrangeiros. Nomeadamente os britânicos. Como sobejamente já foi visto, por via do futebol, ou mesmo fora dele. E a nós, portugueses, com tratamento diferente. Parece termos regressado aos anos 80, em terras algarvias, que eu recordo muito bem. Nessa altura, em pleno verão, sentíamo-nos estrangeiros em Portugal. Tudo era caríssimo e os menus estavam todos em inglês. Os preços eram para turistas ingleses. Eles eram reis e senhores do Algarve, a ponto de os pobres portugueses serem um empecilho para os empregados de cafés e restaurantes. Num outro ano, dessa mesma década, também no Algarve, mais propriamente no mercado de Albufeira, chamei à atenção de uma vendedora de fruta, daquelas idosas de lenço na cabeça, por não aceitar a reclamação dum estrangeiro que estava a ser ludibriado no preço. Verificou que pedia pela fruta o que não correspondia àquele que, com o dedo, apontava para a tabuleta em ardósia, que era mais baixo. Não atendendo nem a minha indicação nem a do comprador, o raio da velha limitou-se a dizer em disfarce: “É de ontem!”
Deixo-me de euroceticismos porque “o mundo pula e avança como bola colorida”. Com este poema de António Gedeão magnificamente interpretado por Manuel Freire, transponho-me para a nossa Seleção – com muitos a dizerem que se lixe a covid – em que todos os que calharam no “grupo da morte” não sobreviveram para além dos oitavos de final. Um Hazard (quero dizer, Thorgen Hazard que marcou o golo dos belgas) nunca vem só e a sorte bateu no poste. E assim Portugal caiu nos oitavos de final.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 14-07-2021)

6 de julho de 2021

A HONRA DOS HISTÓRICOS

 

Escrevo esta crónica na véspera do grande encontro Portugal-Bélgica, para o Europeu de Futebol. Quando chegar aos prezados Leitores, já se saberá o desfecho, esperando ansiosamente pela continuidade de Portugal na senda das vitórias.

E porque foi há 15 anos que faleceu a grande estrela húngara Ferenc Puskás que deu nome ao Estádio em Budapeste onde a nossa Seleção agora realizou o seu primeiro encontro vitorioso com os magiares, me fez trazer à memória um artigo que escrevi para outros periódicos, em novembro de 2006, sob o título “O Húngaro Puskas”.

Os menos jovens recordarão, certamente, este talentoso futebolista húngaro, que deixou o mundo dos vivos em 17 de novembro de 2006, aos 79 anos. No futebol espanhol evidenciou fortes recursos futebolísticos, tanto ao serviço do Real Madrid como da selecção espanhola. Também os benfiquistas, e todos os portugueses, amantes do futebol, certamente não esquecerão o memorável dia 2 de maio de 1962. Como eu, vibraram com a excelente vitória do emblema encarnado, conseguida no Estádio Olímpico de Amesterdão, por 5-3; num jogo pouco propício a cardíacos, muito por influência de Ferenc Puskas, que, aos 17 e 23 minutos da primeira parte, já havia marcado dois golo para, após o empate, com os golos aos 25 e 34 minutos, de José Águas e Domiciano Cavem, Puskas voltar a desempatar, com um golo que deu o hat-trick, aos 38 minutos.

Por ironia do destino, todos os autores dos golos de ambas as equipas já descansam no sono da eternidade; pois os restantes haviam de ser marcados por Coluna e Eusébio (2 golos).

Já lá vão 59 anos e eu recordo bem, no início da minha juventude, ter visto este jogo na antiga Casa da Mocidade Portuguesa, ao fundo do Mercado Municipal da Covilhã, no último prédio do lado esquerdo da Rua Conselheiro António Pedroso dos Santos, que faz esquina para a rua de acesso à UBI .

Com o relato, penso que de Artur Agostinho ou Nuno Brás, via rádio, como opção de alguns colegas; todos nós (só rapazes porque não era hábito, nessa altura, as raparigas se juntarem para este efeito), estudantes de Escola Industrial, do Liceu e do Colégio Moderno; vimos o único canal televisivo, existente nesta zona, a preto e branco, com a casa repleta (nem todos, nessa altura, possuíam televisor nos seus lares).

 Apesar do orgulho de ser sportinguista de sempre, fui um dos que gritei, em uníssono, pelos golos do Benfica. Recordo o fortíssimo pé esquerdo de Puskas, como as grandes corridas do já careca Di Stefano e do Gento; como, depois, a excelente exibição do capitão José Águas e restantes elementos; a correria do baixinho Simões; o “baile” à turma madrilena, onde os defesas Casado, Miera e Santamaria sentiram enormes dificuldades com a penetração dos avançados benfiquistas, furando as redes de Araquistain.

O frenesim era enorme e a televisão mostrava os milhares de espectadores, como num cacho, e a assistência a um português, acometido de uma síncope, assim como o desfraldar de uma enorme bandeira encarnada.

Puskas deliciava os espectadores com as suas fintas e dribles; os golos foram temidos.

Representou a selecção húngara até ao momento em que a revolução de 1956 na Hungria acabou com uma lendária geração de atletas de alta craveira, onde se integrava Ferenc Puskas – o “Major Galopante”, como ficou conhecido. Marcou 83 golos em 84 jogos pela selecção do seu país, sendo considerado o melhor jogador húngaro de todos os tempos. Foi então para Espanha e é no Real Madrid que firma o seu nome, ao lado de outra lenda do Real, Di Stefano, na altura em que os “merengues” mandavam na Europa do futebol. Em Espanha representou a selecção espanhola. Passou então a ser alcunhado de “Pancho Puskas”, o “Canhão”, pois tinha um remate poderoso e uma aceleração incrível.

Serve também este apontamento para recordar outro húngaro, naturalizado francês, que, no nosso país, jogou no Sporting da Covilhã – André Simonyi – que lhe havíamos perdido o rasto, mas fruto da colaboração da Embaixada de Portugal em Paris, acabamos de saber que já faleceu em 2002.

André Simonyi, designado o “jogador modelo” e o “homem canhão” foi um dos maiores goleadores do SCC, surgindo no topo da listagem dos futebolistas de eleição, tendo jogado nos Leões da Serra, de 8/10/1949 até final de 1954.

Para os interessados, poderão verificar que Simony foi o atleta dos leões serranos que marcou mais golos na 1.ª Divisão – 74 em 86 jogos; depois, a honra de o SCC ver inscrito um seu atleta – Vitoriano Suarez, como o primeiro maior goleador de todos os tempos, na Taça de Portugal, com 15 golos, mantendo-se, até aos dias de hoje, em terceiro lugar, que viria a ser igualado por Iaúca; ultrapassado, em segundo lugar, por Mascarenhas, do Sporting; e para o primeiro lugar, por Eusébio, do Benfica.

E, nesta passagem efémera pelo mundo, vão desaparecendo aqueles que, para uns, foram ídolos; e, para a generalidade, deixaram marcas da sua vivência e na arte de jogar bom futebol.

Pois bem, se a Hungria tem a sua figura símbolo daquele orgulho magiar, também Portugal se orgulha de possuir, já várias figuras, não só do futebol como de outras modalidades, mas é no desporto-rei que mais brilham as estrelas que colocam a flutuar com mais permanência a bandeira portuguesa, naquele orgulho de ver um português – Cristiano Ronaldo – sobejamente conhecido do Planeta, a seguir nos caminhos do estrelato, de sucesso em sucesso, ganhando o que jamais outro português conseguiu tal efeito, ultrapassando atletas que os irá substituir naquela grande estrela que é a que brilha mais.

Cristiano Ronaldo tem sido quem tem mais dado a conhecer este País à beira-mar plantado.

Ficamos esperando que cintile nova estrela sob a sua ação, vir a ser o maior goleador do mundo, uma vez que, no momento em que escrevo, encontra-se empatado com o iraniano Ali Daei, com 109 golos marcados ao serviço das suas seleções. Ali Daei, do Irão, marcou 109 golos em 149 jogos. Cristiano Ronaldo, com o mesmo número de golos, em 178 jogos, ao serviço da Seleção de Portugal.


(In "O Olhanense", de 01-07-2021)