Escrevo esta crónica na véspera do grande encontro Portugal-Bélgica,
para o Europeu de Futebol. Quando chegar aos prezados Leitores, já se saberá o
desfecho, esperando ansiosamente pela continuidade de Portugal na senda das vitórias.
E porque foi há 15 anos que faleceu a grande estrela
húngara Ferenc Puskás que deu nome ao Estádio em Budapeste onde a nossa Seleção
agora realizou o seu primeiro encontro vitorioso com os magiares, me fez trazer
à memória um artigo que escrevi para outros periódicos, em novembro de 2006,
sob o título “O Húngaro Puskas”.
Os
menos jovens recordarão, certamente, este talentoso futebolista húngaro, que
deixou o mundo dos vivos em 17 de novembro de 2006, aos 79 anos. No futebol
espanhol evidenciou fortes recursos futebolísticos, tanto ao serviço do Real
Madrid como da selecção espanhola. Também os benfiquistas, e todos os
portugueses, amantes do futebol, certamente não esquecerão o memorável dia 2 de
maio de 1962. Como eu, vibraram com a excelente vitória do emblema encarnado,
conseguida no Estádio Olímpico de Amesterdão, por 5-3; num jogo pouco propício
a cardíacos, muito por influência de Ferenc Puskas, que, aos 17 e 23 minutos da
primeira parte, já havia marcado dois golo para, após o empate, com os golos aos
25 e 34 minutos, de José Águas e Domiciano Cavem, Puskas voltar a desempatar,
com um golo que deu o hat-trick, aos
38 minutos.
Por ironia do destino,
todos os autores dos golos de ambas as equipas já descansam no sono da
eternidade; pois os restantes haviam de ser marcados por Coluna e Eusébio (2
golos).
Já
lá vão 59 anos e eu recordo bem, no início da minha juventude, ter visto este
jogo na antiga Casa da Mocidade Portuguesa, ao fundo do Mercado Municipal da
Covilhã, no último prédio do lado esquerdo da Rua Conselheiro António Pedroso
dos Santos, que faz esquina para a rua de acesso à UBI .
Com
o relato, penso que de Artur Agostinho ou Nuno Brás, via rádio, como opção de
alguns colegas; todos nós (só rapazes porque não era hábito, nessa altura, as
raparigas se juntarem para este efeito), estudantes de Escola Industrial, do
Liceu e do Colégio Moderno; vimos o único canal televisivo, existente nesta
zona, a preto e branco, com a casa repleta (nem todos, nessa altura, possuíam
televisor nos seus lares).
Apesar do orgulho de ser sportinguista de
sempre, fui um dos que gritei, em uníssono, pelos golos do Benfica. Recordo o
fortíssimo pé esquerdo de Puskas, como as grandes corridas do já careca Di
Stefano e do Gento; como, depois, a excelente exibição do capitão José Águas e
restantes elementos; a correria do baixinho Simões; o “baile” à turma madrilena,
onde os defesas Casado, Miera e Santamaria sentiram enormes dificuldades com a
penetração dos avançados benfiquistas, furando as redes de Araquistain.
O
frenesim era enorme e a televisão mostrava os milhares de espectadores, como
num cacho, e a assistência a um português, acometido de uma síncope, assim como
o desfraldar de uma enorme bandeira encarnada.
Puskas
deliciava os espectadores com as suas fintas e dribles; os golos foram temidos.
Representou
a selecção húngara até ao momento em que a revolução de 1956 na Hungria acabou
com uma lendária geração de atletas de alta craveira, onde se integrava Ferenc
Puskas – o “Major Galopante”, como
ficou conhecido. Marcou 83 golos em 84 jogos pela selecção do seu país, sendo
considerado o melhor jogador húngaro de todos os tempos. Foi então para Espanha
e é no Real Madrid que firma o seu nome, ao lado de outra lenda do Real, Di
Stefano, na altura em que os “merengues” mandavam na Europa do futebol. Em
Espanha representou a selecção espanhola. Passou então a ser alcunhado de “Pancho Puskas”, o “Canhão”, pois tinha um remate poderoso e uma aceleração incrível.
Serve também este
apontamento para recordar outro húngaro, naturalizado francês, que, no nosso
país, jogou no Sporting da Covilhã – André Simonyi – que lhe havíamos perdido o
rasto, mas fruto da colaboração da Embaixada de Portugal em Paris, acabamos de
saber que já faleceu em 2002.
André
Simonyi, designado o “jogador modelo”
e o “homem canhão” foi um dos maiores
goleadores do SCC, surgindo no topo da listagem dos futebolistas de eleição,
tendo jogado nos Leões da Serra, de 8/10/1949 até final de 1954.
Para
os interessados, poderão verificar que Simony foi o atleta dos leões serranos
que marcou mais golos na 1.ª Divisão – 74 em 86 jogos; depois, a honra de o SCC
ver inscrito um seu atleta – Vitoriano Suarez, como o primeiro maior goleador
de todos os tempos, na Taça de Portugal, com 15 golos, mantendo-se, até aos
dias de hoje, em terceiro lugar, que viria a ser igualado por Iaúca;
ultrapassado, em segundo lugar, por Mascarenhas, do Sporting; e para o primeiro
lugar, por Eusébio, do Benfica.
E,
nesta passagem efémera pelo mundo, vão desaparecendo aqueles que, para uns,
foram ídolos; e, para a generalidade, deixaram marcas da sua vivência e na arte
de jogar bom futebol.
Pois
bem, se a Hungria tem a sua figura símbolo daquele orgulho magiar, também Portugal
se orgulha de possuir, já várias figuras, não só do futebol como de outras
modalidades, mas é no desporto-rei que mais brilham as estrelas que colocam a
flutuar com mais permanência a bandeira portuguesa, naquele orgulho de ver um
português – Cristiano Ronaldo – sobejamente conhecido do Planeta, a seguir nos
caminhos do estrelato, de sucesso em sucesso, ganhando o que jamais outro
português conseguiu tal efeito, ultrapassando atletas que os irá substituir
naquela grande estrela que é a que brilha mais.
Cristiano
Ronaldo tem sido quem tem mais dado a conhecer este País à beira-mar plantado.
Ficamos
esperando que cintile nova estrela sob a sua ação, vir a ser o maior goleador do
mundo, uma vez que, no momento em que escrevo, encontra-se empatado com o iraniano
Ali Daei, com 109 golos marcados ao serviço das suas seleções. Ali Daei, do
Irão, marcou 109 golos em 149 jogos. Cristiano Ronaldo, com o mesmo número de
golos, em 178 jogos, ao serviço da Seleção de Portugal.
(In "O Olhanense", de 01-07-2021)
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