Ao longo dos últimos meses
fomos bombardeados pela negatividade, pelo medo, pela notícia improvável que
foi gerando um cansaço e desalento generalizado.
No entanto, no estudo Reuters Institute Digital News Report 2021, lançado em 23 de junho, indica que os níveis de confiança dos portugueses nas notícias é de 61%, o que revela uma subida de cinco pontos percentuais comparativamente com 2020. Apesar do aumento de confiança, no total de 46 países em análise, Portugal desce uma posição no ranking global, perdendo a primeira posição, em ex aequo com a Finlândia, que se destaca, agora, com 65%, enquanto o valor médio de confiança das notícias dos países em estudo subiu seis pontos percentuais, para os 44%.
Certo é que o impacto da pandemia na União Europeia gerou uma crise de confiança nos 27 países membros. Segundo Leonídio Paulo Ferreira, in DN, “há uma quebra no entusiasmo dos alemães com o projeto europeu. E também dos franceses. Estes dois pontos devem alarmar os que se preocupam com o futuro da UE. A situação é especialmente séria para um país como Portugal que, saído duma ditadura de meio século e deixando para trás um império com meio milénio, apostou forte no projeto europeu para se consolidar como uma democracia próspera.”
Note-se que foi em 1977 que Mário Soares submeteu o pedido de adesão à então CEE. Surge agora uma súbita fragilidade da UE quando dava a impressão de que o trauma do Brexit estava ultrapassado.
Pois é, a UE nasceu em 1957. A longevidade de Portugal quase a caminho de nove séculos. Com apenas 64 anos, a UE a 27 nunca conseguiu uma coesão. De facto, foi do idealismo de algumas grandes figuras, mas também do pragmatismo de quem assistiu à destruição causada pela Segunda Guerra Mundial – e querendo evitar novos conflitos –, que a atual UE assenta muito na confiança entre alemães e franceses. Só o Reino Unido entrou para depois sair. O sucesso deste ex-membro, na vacinação contra a covid-19, é evidente em comparação com a UE. Muito pela dinâmica do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. O ganhador do Brexit. Conseguiu fazer melhor do que a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen. Não obstante a sua boa intenção na compra centralizada de vacinas por Bruxelas para evitar concorrência entre os 27 membros, e também obter melhores condições de fornecimento junto das farmacêuticas, acabou injustamente por se virar contra os fortes desejos da União.
Neste tempo pandémico, que não mais tem fim, o Governo português tem vindo a aceitar tudo aos turistas estrangeiros. Nomeadamente os britânicos. Como sobejamente já foi visto, por via do futebol, ou mesmo fora dele. E a nós, portugueses, com tratamento diferente. Parece termos regressado aos anos 80, em terras algarvias, que eu recordo muito bem. Nessa altura, em pleno verão, sentíamo-nos estrangeiros em Portugal. Tudo era caríssimo e os menus estavam todos em inglês. Os preços eram para turistas ingleses. Eles eram reis e senhores do Algarve, a ponto de os pobres portugueses serem um empecilho para os empregados de cafés e restaurantes. Num outro ano, dessa mesma década, também no Algarve, mais propriamente no mercado de Albufeira, chamei à atenção de uma vendedora de fruta, daquelas idosas de lenço na cabeça, por não aceitar a reclamação dum estrangeiro que estava a ser ludibriado no preço. Verificou que pedia pela fruta o que não correspondia àquele que, com o dedo, apontava para a tabuleta em ardósia, que era mais baixo. Não atendendo nem a minha indicação nem a do comprador, o raio da velha limitou-se a dizer em disfarce: “É de ontem!”
Deixo-me de euroceticismos porque “o mundo pula e avança como bola colorida”. Com este poema de António Gedeão magnificamente interpretado por Manuel Freire, transponho-me para a nossa Seleção – com muitos a dizerem que se lixe a covid – em que todos os que calharam no “grupo da morte” não sobreviveram para além dos oitavos de final. Um Hazard (quero dizer, Thorgen Hazard que marcou o golo dos belgas) nunca vem só e a sorte bateu no poste. E assim Portugal caiu nos oitavos de final.
No entanto, no estudo Reuters Institute Digital News Report 2021, lançado em 23 de junho, indica que os níveis de confiança dos portugueses nas notícias é de 61%, o que revela uma subida de cinco pontos percentuais comparativamente com 2020. Apesar do aumento de confiança, no total de 46 países em análise, Portugal desce uma posição no ranking global, perdendo a primeira posição, em ex aequo com a Finlândia, que se destaca, agora, com 65%, enquanto o valor médio de confiança das notícias dos países em estudo subiu seis pontos percentuais, para os 44%.
Certo é que o impacto da pandemia na União Europeia gerou uma crise de confiança nos 27 países membros. Segundo Leonídio Paulo Ferreira, in DN, “há uma quebra no entusiasmo dos alemães com o projeto europeu. E também dos franceses. Estes dois pontos devem alarmar os que se preocupam com o futuro da UE. A situação é especialmente séria para um país como Portugal que, saído duma ditadura de meio século e deixando para trás um império com meio milénio, apostou forte no projeto europeu para se consolidar como uma democracia próspera.”
Note-se que foi em 1977 que Mário Soares submeteu o pedido de adesão à então CEE. Surge agora uma súbita fragilidade da UE quando dava a impressão de que o trauma do Brexit estava ultrapassado.
Pois é, a UE nasceu em 1957. A longevidade de Portugal quase a caminho de nove séculos. Com apenas 64 anos, a UE a 27 nunca conseguiu uma coesão. De facto, foi do idealismo de algumas grandes figuras, mas também do pragmatismo de quem assistiu à destruição causada pela Segunda Guerra Mundial – e querendo evitar novos conflitos –, que a atual UE assenta muito na confiança entre alemães e franceses. Só o Reino Unido entrou para depois sair. O sucesso deste ex-membro, na vacinação contra a covid-19, é evidente em comparação com a UE. Muito pela dinâmica do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. O ganhador do Brexit. Conseguiu fazer melhor do que a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen. Não obstante a sua boa intenção na compra centralizada de vacinas por Bruxelas para evitar concorrência entre os 27 membros, e também obter melhores condições de fornecimento junto das farmacêuticas, acabou injustamente por se virar contra os fortes desejos da União.
Neste tempo pandémico, que não mais tem fim, o Governo português tem vindo a aceitar tudo aos turistas estrangeiros. Nomeadamente os britânicos. Como sobejamente já foi visto, por via do futebol, ou mesmo fora dele. E a nós, portugueses, com tratamento diferente. Parece termos regressado aos anos 80, em terras algarvias, que eu recordo muito bem. Nessa altura, em pleno verão, sentíamo-nos estrangeiros em Portugal. Tudo era caríssimo e os menus estavam todos em inglês. Os preços eram para turistas ingleses. Eles eram reis e senhores do Algarve, a ponto de os pobres portugueses serem um empecilho para os empregados de cafés e restaurantes. Num outro ano, dessa mesma década, também no Algarve, mais propriamente no mercado de Albufeira, chamei à atenção de uma vendedora de fruta, daquelas idosas de lenço na cabeça, por não aceitar a reclamação dum estrangeiro que estava a ser ludibriado no preço. Verificou que pedia pela fruta o que não correspondia àquele que, com o dedo, apontava para a tabuleta em ardósia, que era mais baixo. Não atendendo nem a minha indicação nem a do comprador, o raio da velha limitou-se a dizer em disfarce: “É de ontem!”
Deixo-me de euroceticismos porque “o mundo pula e avança como bola colorida”. Com este poema de António Gedeão magnificamente interpretado por Manuel Freire, transponho-me para a nossa Seleção – com muitos a dizerem que se lixe a covid – em que todos os que calharam no “grupo da morte” não sobreviveram para além dos oitavos de final. Um Hazard (quero dizer, Thorgen Hazard que marcou o golo dos belgas) nunca vem só e a sorte bateu no poste. E assim Portugal caiu nos oitavos de final.
(In "Jornal fórum Covilhã", de 14-07-2021)
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