29 de setembro de 2021

OS COVILHANENSES ESCOLHERAM QUEM QUEREM QUE OS REPRESENTE

 As eleições autárquicas constituem sempre um importante momento de clarificação das vontades das populações. Nestas eleições, escolher um candidato não estava tão dependente das simpatias partidárias, como na generalidade acontece nas eleições legislativas. Outros fatores surgiram como as propostas, ideias e o trabalho já efetuado, para resolver problemas concretos que afetam os territórios onde se inserem, neste caso, o concelho da Covilhã.

Todos os quatro candidatos (eram cinco, mas o do CHEGA nada adiantou, e foi desaparecendo) se confrontaram entre si com nobreza de caráter ainda que em determinados momentos houvesse situações naturalmente um pouco acirradas. O que é certo e verdade, numa noite eleitoral renhida, mas ordeira, aguardaram-se sempre com enorme expetativa os resultados finais. Havia que contar o número de vereadores que poderiam tombar para um lado ou outro, daí se inferindo na possibilidade de poder resultar numa maioria absoluta para a Câmara da Covilhã, na pessoa do presidente reeleito, Vitor Pereira – o que veio a verificar-se, com 46,18% na votação –, ou então com a entrada dum vereador para a CDU, o qual foi pena não ter sido eleito, dada a forte tenacidade de Jorge Fael.

Também Pedro Farromba que efetuou uma forte campanha e se muniu de hábeis pessoas para a sua equipa, conseguiu ser eleito forçando o Partido Socialista a sofrer até quase ao último minuto, já passava da meia-noite. Pode ser, mais uma vez, uma boa contribuição para os destinos que a cidade laneira e universitária bem necessitam. Daí a sua grande influência que teve nos resultados para a Câmara Municipal e nas Juntas de Freguesia.

Quanto ao candidato do movimento independente “Covilhã tem força”, João Morgado, os seus resultados eleitorais ficaram aquém das suas expetativas.

Resta-nos a reeleição de Vitor Pereira, pela segunda vez com maioria absoluta, sinal de que os Covilhanenses também estão atentos ao trabalho efetuado, e não se deixam ludibriar pelos momentos que fazem agitar as águas.

De notar a quantidade de independentes que ganharam para as Juntas de Freguesia, grande sinal de cidadania.

Concluído o ato eleitoral donde emergiram as pessoas que a maioria quis nos representassem nestes próximos quatro anos, para o concelho da Covilhã, haverá tão só o forte desejo de que, religiosamente, se venham a cumprir as promessas feitas, e não se dissipe aquela qualidade de quem não tem nada a esconder – a transparência.

Aceitar os que democraticamente foram a maioria da escolha dos Covilhanenses é uma atitude nobre se também na sublimidade de esquecer as intrigas do passado, na permuta do dar as mãos em prol das muitas tarefas que há a fazer.

Parabéns aos que os Covilhanenses quiseram que subissem ao pódio e também aos que se mantiveram no palanque da seleção deste campeonato autárquico. Compreensão para com os não eleitos.

(In "Notícias da Covilhã", de 30-09-2021) 

"A REAL ASSOCIAÇÃO PROTECTORA DA INFÂNCIA DESVALIDA"


 Esta extinta instituição que depois adotou o nome de Associação Protectora da Infância da Covilhã, mais conhecida por “Asilo”, encontra ainda o seu edifício aparentemente em bom estado, mas desocupado, há anos, onde funcionou um asilo (de duração efémera), fundado em 25 de julho de 1871, e depois uma escola e a primeira biblioteca covilhanense, já lá vão 150 anos. Situa-se na Rua Combatentes da Grande Guerra.

Este edifício que ainda ostenta uma placa no exterior do edifício com a designação da instituição e até uma haste onde se hasteava a bandeira nacional, bem se pode lamentar, e envergonhar, do ostracismo a que tem sido votado por quem de direito.

Foi a minha escola primária, onde entrei, pela primeira vez, em 7 de outubro de 1955, e o meu último professor foi o inspetor Tendeiro que ainda hoje é um grande amigo e ambos colaboramos culturalmente.

Esta instituição, antes da criação da biblioteca municipal que abriu ao público em 1917, tinha numa das suas dependências uma importante biblioteca com a designação de “Biblioteca Heitor Pinto”, tendo sido inaugurada em 1882. Chegou a ser, na altura, uma das mais importantes bibliotecas do País, a seguir a Lisboa, Porto e Coimbra. Destinava-se a servir o público, e por isso se encontrava aberta às quintas-feiras e aos sábados durante todo o dia. Possuía então, nas suas estantes, cerca de três mil volumes, na sua maioria, encadernados. Encontram-se atualmente na Biblioteca Municipal.

O principal fundador desta Associação foi Francisco Joaquim da Silva Campos Mello, Visconde da Coriscada, mas também teve em José Maria Veiga da Silva Campos Melo outro dinâmico fundador não só da Associação Protetora da Infância Desvalida como da Biblioteca Heitor Pinto.

Por razões que desconheço, o valioso recheio para além dos livros que se encontram na Biblioteca Municipal, e que era constituído por documentação, fotografias, e grandes quadros retratando as figuras dos seus fundadores, além de outro material, como o mobiliário da escola, foi atribuído judicialmente à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Encontrava-se então naquele espaço do conhecido “Asilo” até abril de 2014, após o que, com base num evento cultural ali efetuado, a(s) proprietária(s) do imóvel deu(deram) imediatas ordens à paróquia para que até final do mês fosse retirado todo o material do recheio que não lhes pertencia.

Recordando esse evento, o último na vida daquele imóvel que chora de abandono, foi o facto de no dia 19 de abril de 2014 a paróquia nos ter emprestado a chave para ali podermos tão só fazer uma visita para memorizarmos os tempos da nossa escola primária, com uma minha pequena palestra, onde se encontrava o antigo aluno, fadista, Nuno da Câmara Pereira, a cujo convívio dei destaque nas páginas da comunicação social.

Alguns dos antigos alunos presentes nesse convívio de saudade já não se encontram no mundo dos vivos.

Entretanto, por desejo de quem é proprietário do imóvel, esta atitude nobre ali realizada foi transformada num ato vociferante de despejo do recheio que, felizmente, o acolheu a Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.

Que a nova equipa que resultar das eleições autárquicas possa olhar para este imóvel, preservando o que de memória ainda existe e estabelecendo diálogo, se possível, por forma a dar uso ao mesmo, quando há tando coisa a necessitar de espaços condignos.

(In "Notícias da Covilhã", de 30-09-2021)

8 de setembro de 2021

O GRANDE INCÊNDIO DE LONDRES

 

Estamos na época de incêndios, o que já é habitual todos os anos. Na Covilhã ficou na memória o incêndio urbano, por fogo-posto, ocorrido na madrugada de 14 de junho de 1907, que foi conhecido pelo Incêndio da Mineira.

A data de 2 de setembro de 1666 ficaria na história dos ingleses, e do mundo, pelos piores motivos – o Grande Incêndio de Londres.

Em Portugal, governava nessa época D. Afonso VI, que casaria nesse mesmo ano de 1666 com D. Maria Francisca Isabel de Saboia. Também nesse mesmo ano falecia sua mãe, a rainha D. Luísa de Gusmão.

Um ano após sofrer a Peste Negra, Londres foi tomada pelas chamas e perdeu 80% da sua área central. A reconstrução que se seguiu transformou a cidade na capital do mundo.

Era de manhã e a um domingo. Ninguém se deu ao trabalho de dar a notícia ao rei Carlos II, que estava descansando nos seus aposentos do palácio de Whitehall. Não parecia haver motivos para preocupação, uma vez que, como qualquer grande cidade europeia da época, a capital britânica estava acostumada a lidar com pequenos focos, rapidamente apagados com a ajuda da própria população e seus baldes cheios de água. Desta vez, porém, seria diferente. Ao fim de quatro dias, 1800 Km2 da cidade ficaram em cinzas. A destruição de 13200 casas, 87 igrejas, incluindo a primitiva Catedral de São Paulo, e mais de 50 sedes de instituições ou corporações profissionais, portas da cidade e quatro pontes sobre o rio Tamisa, deixou 100 mil desabrigados e 9 mortos. Este episódio ficaria conhecido como acima referido.

Tudo começou na noite anterior, no forno da padaria Pudding Lane, fornecedor de pães à família real. Thomas Farriner fechou o seu estabelecimento que ficava no primeiro andar da sua casa. Eram 22 hora do dia 1 de setembro. Quatro horas depois, foi acordado por um funcionário (que dormia no piso de baixo). Os fornos não haviam sido totalmente apagados, e uma brasa alcançou uma pilha de feno que ficava ao lado. Farriner e a sua família escaparam com vida porque saltaram da janela do andar de cima para a casa ao lado – uma empregada ficou com medo de cair, tentou sair pela porta e acabou por se tornar a primeira vítima deste incêndio. Os vizinhos correram para ajudar a conter o fogo. Tornava-se importante agir com rapidez porque a cidade de Londres ainda tinha ruas estreitas e casas muito próximas umas das outras. Enquanto isso, o oficial da Marinha Samuel Pepys, que morava distanciado um Km dali, foi acordado de madrugada pelo barulho da madeira queimando, mas voltou a dormir tranquilamente. Ao acordar, de manhãzinha, ficou assustado ao verificar que 300 casas estavam destruídas e o fogo já atingia a Ponte de Londres.

Foi Pepys quem se apresentou ao rei com o primeiro relato detalhado dos acontecimentos. Carlos II pediu-lhe que que levasse ao prefeito da cidade, sir Thomas Bloodworth, a ordem para não poupar casa alguma, desde que as chamas fossem contidas. Este demorou a agir. A cidade só teria um Corpo de Bombeiros organizado no século seguinte. Grupos de soldados faziam esse papel em caso de emergência.

As chamas chegaram aos arredores do rio Tamisa, onde havia depósitos de madeira, carvão e azeite. As explosões que se seguiram pioraram um quadro que já era preocupante. O fogo ainda acabaria por barrar o acesso aos dutos de abastecimento de água do rio. Na noite de 4 de setembro chegou a vez da Catedral de São Paulo, construída em madeira e inaugurada no ano 604, tinha ganho três ampliações e uma reforma, iniciada em 1633.

Chocada, a população perdeu a paciência. O relacionamento do povo com o rei de 33 anos não era dos melhores. Foi só quando a situação ficou grave demais que ele mandou seu irmão, o duque de York, com uma tropa para ajudar no combate ao incêndio.

A classe social atingida explica a quantidade de desabrigados, assim como a baixa contagem de vítimas fatais, apenas 9, sem nenhum registo de feridos. É que os ingleses da época não tinham o hábito de fazer atestados de óbito para pessoas mais pobres, o que inviabilizou qualquer levantamento realista do número de vítimas. Por outro lado, o estado em que os restos de muitas casas ficaram indica que famílias inteiras podem ter morrido carbonizadas, sem possibilidade de identificação. O rei fez uma opção conservadora na reconstrução do centro no mesmo formato. Apenas deixou as ruas mais largas, o que reduziu o número de residências reconstruídas. As obras demoraram 50 anos, A reconstrução do centro deu origem à atual City londrina. O fantasma da Peste Negra que assombrava a Inglaterra deste o século XIV, ainda estava presente no momento do incêndio, mas agora as ruas mais largas e as casas mais afastadas entre si proporcionaram uma melhoria nas condições de higiene. Foi o começo de uma era de ouro para a cidade.


(In Jornal fórum Covilhã, de 08-09-2021)