Estamos na época de incêndios,
o que já é habitual todos os anos. Na Covilhã ficou na memória o incêndio
urbano, por fogo-posto, ocorrido na madrugada de 14 de junho de 1907, que foi
conhecido pelo Incêndio da Mineira.
A data de 2 de setembro de
1666 ficaria na história dos ingleses, e do mundo, pelos piores motivos – o
Grande Incêndio de Londres.
Em Portugal, governava nessa
época D. Afonso VI, que casaria nesse mesmo ano de 1666 com D. Maria Francisca
Isabel de Saboia. Também nesse mesmo ano falecia sua mãe, a rainha D. Luísa de
Gusmão.
Um ano após sofrer a Peste
Negra, Londres foi tomada pelas chamas e perdeu 80% da sua área central. A
reconstrução que se seguiu transformou a cidade na capital do mundo.
Era de manhã e a um domingo.
Ninguém se deu ao trabalho de dar a notícia ao rei Carlos II, que estava
descansando nos seus aposentos do palácio de Whitehall. Não parecia haver motivos
para preocupação, uma vez que, como qualquer grande cidade europeia da época, a
capital britânica estava acostumada a lidar com pequenos focos, rapidamente
apagados com a ajuda da própria população e seus baldes cheios de água. Desta
vez, porém, seria diferente. Ao fim de quatro dias, 1800 Km2 da cidade ficaram
em cinzas. A destruição de 13200 casas, 87 igrejas, incluindo a primitiva
Catedral de São Paulo, e mais de 50 sedes de instituições ou corporações
profissionais, portas da cidade e quatro pontes sobre o rio Tamisa, deixou 100
mil desabrigados e 9 mortos. Este episódio ficaria conhecido como acima
referido.
Tudo começou na noite anterior,
no forno da padaria Pudding Lane, fornecedor de pães à família real. Thomas
Farriner fechou o seu estabelecimento que ficava no primeiro andar da sua casa.
Eram 22 hora do dia 1 de setembro. Quatro horas depois, foi acordado por um
funcionário (que dormia no piso de baixo). Os fornos não haviam sido totalmente
apagados, e uma brasa alcançou uma pilha de feno que ficava ao lado. Farriner e
a sua família escaparam com vida porque saltaram da janela do andar de cima
para a casa ao lado – uma empregada ficou com medo de cair, tentou sair pela
porta e acabou por se tornar a primeira vítima deste incêndio. Os vizinhos
correram para ajudar a conter o fogo. Tornava-se importante agir com rapidez
porque a cidade de Londres ainda tinha ruas estreitas e casas muito próximas
umas das outras. Enquanto isso, o oficial da Marinha Samuel Pepys, que morava
distanciado um Km dali, foi acordado de madrugada pelo barulho da madeira
queimando, mas voltou a dormir tranquilamente. Ao acordar, de manhãzinha, ficou
assustado ao verificar que 300 casas estavam destruídas e o fogo já atingia a
Ponte de Londres.
Foi Pepys quem se apresentou
ao rei com o primeiro relato detalhado dos acontecimentos. Carlos II pediu-lhe
que que levasse ao prefeito da cidade, sir Thomas Bloodworth, a ordem para não
poupar casa alguma, desde que as chamas fossem contidas. Este demorou a agir. A
cidade só teria um Corpo de Bombeiros organizado no século seguinte. Grupos de
soldados faziam esse papel em caso de emergência.
As chamas chegaram aos
arredores do rio Tamisa, onde havia depósitos de madeira, carvão e azeite. As
explosões que se seguiram pioraram um quadro que já era preocupante. O fogo
ainda acabaria por barrar o acesso aos dutos de abastecimento de água do rio. Na
noite de 4 de setembro chegou a vez da Catedral de São Paulo, construída em
madeira e inaugurada no ano 604, tinha ganho três ampliações e uma reforma,
iniciada em 1633.
Chocada, a população perdeu a
paciência. O relacionamento do povo com o rei de 33 anos não era dos melhores.
Foi só quando a situação ficou grave demais que ele mandou seu irmão, o duque
de York, com uma tropa para ajudar no combate ao incêndio.
A classe social atingida
explica a quantidade de desabrigados, assim como a baixa contagem de vítimas
fatais, apenas 9, sem nenhum registo de feridos. É que os ingleses da época não
tinham o hábito de fazer atestados de óbito para pessoas mais pobres, o que
inviabilizou qualquer levantamento realista do número de vítimas. Por outro
lado, o estado em que os restos de muitas casas ficaram indica que famílias
inteiras podem ter morrido carbonizadas, sem possibilidade de identificação. O
rei fez uma opção conservadora na reconstrução do centro no mesmo formato.
Apenas deixou as ruas mais largas, o que reduziu o número de residências
reconstruídas. As obras demoraram 50 anos, A reconstrução do centro deu origem
à atual City londrina. O fantasma da Peste Negra que assombrava a Inglaterra
deste o século XIV, ainda estava presente no momento do incêndio, mas agora as
ruas mais largas e as casas mais afastadas entre si proporcionaram uma melhoria
nas condições de higiene. Foi o começo de uma era de ouro para a cidade.
(In Jornal fórum Covilhã, de 08-09-2021)
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