29 de setembro de 2021

"A REAL ASSOCIAÇÃO PROTECTORA DA INFÂNCIA DESVALIDA"


 Esta extinta instituição que depois adotou o nome de Associação Protectora da Infância da Covilhã, mais conhecida por “Asilo”, encontra ainda o seu edifício aparentemente em bom estado, mas desocupado, há anos, onde funcionou um asilo (de duração efémera), fundado em 25 de julho de 1871, e depois uma escola e a primeira biblioteca covilhanense, já lá vão 150 anos. Situa-se na Rua Combatentes da Grande Guerra.

Este edifício que ainda ostenta uma placa no exterior do edifício com a designação da instituição e até uma haste onde se hasteava a bandeira nacional, bem se pode lamentar, e envergonhar, do ostracismo a que tem sido votado por quem de direito.

Foi a minha escola primária, onde entrei, pela primeira vez, em 7 de outubro de 1955, e o meu último professor foi o inspetor Tendeiro que ainda hoje é um grande amigo e ambos colaboramos culturalmente.

Esta instituição, antes da criação da biblioteca municipal que abriu ao público em 1917, tinha numa das suas dependências uma importante biblioteca com a designação de “Biblioteca Heitor Pinto”, tendo sido inaugurada em 1882. Chegou a ser, na altura, uma das mais importantes bibliotecas do País, a seguir a Lisboa, Porto e Coimbra. Destinava-se a servir o público, e por isso se encontrava aberta às quintas-feiras e aos sábados durante todo o dia. Possuía então, nas suas estantes, cerca de três mil volumes, na sua maioria, encadernados. Encontram-se atualmente na Biblioteca Municipal.

O principal fundador desta Associação foi Francisco Joaquim da Silva Campos Mello, Visconde da Coriscada, mas também teve em José Maria Veiga da Silva Campos Melo outro dinâmico fundador não só da Associação Protetora da Infância Desvalida como da Biblioteca Heitor Pinto.

Por razões que desconheço, o valioso recheio para além dos livros que se encontram na Biblioteca Municipal, e que era constituído por documentação, fotografias, e grandes quadros retratando as figuras dos seus fundadores, além de outro material, como o mobiliário da escola, foi atribuído judicialmente à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Encontrava-se então naquele espaço do conhecido “Asilo” até abril de 2014, após o que, com base num evento cultural ali efetuado, a(s) proprietária(s) do imóvel deu(deram) imediatas ordens à paróquia para que até final do mês fosse retirado todo o material do recheio que não lhes pertencia.

Recordando esse evento, o último na vida daquele imóvel que chora de abandono, foi o facto de no dia 19 de abril de 2014 a paróquia nos ter emprestado a chave para ali podermos tão só fazer uma visita para memorizarmos os tempos da nossa escola primária, com uma minha pequena palestra, onde se encontrava o antigo aluno, fadista, Nuno da Câmara Pereira, a cujo convívio dei destaque nas páginas da comunicação social.

Alguns dos antigos alunos presentes nesse convívio de saudade já não se encontram no mundo dos vivos.

Entretanto, por desejo de quem é proprietário do imóvel, esta atitude nobre ali realizada foi transformada num ato vociferante de despejo do recheio que, felizmente, o acolheu a Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.

Que a nova equipa que resultar das eleições autárquicas possa olhar para este imóvel, preservando o que de memória ainda existe e estabelecendo diálogo, se possível, por forma a dar uso ao mesmo, quando há tando coisa a necessitar de espaços condignos.

(In "Notícias da Covilhã", de 30-09-2021)

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