Chegámos ao fim de mais um ano. Foram trezentos e sessenta e cinco dias.
Muitas vezes nos pareciam ter o dobro do tempo. Noutras situações,
paradoxalmente, as horas não eram suficientes para chegar a bom porto no
cumprimento dos desafios que tínhamos pela frente. Quantas vezes tivemos que agarrar
o touro pelos cornos.
A entrada no novo ano, se bem que deve ser encarada com expetativa, está,
no entanto, rodeada de incertezas. Vejamos como já estávamos a caminho dum
certo lenitivo da fase pandémica, e, dum momento para o outro, surge a variante
Ómicron. Os internamentos nos cuidados intensivos são em grande parte de não
vacinados. De quando em vez lá vejo na necrologia alguns dos teimosos
negacionistas. Outros, chegaram ao arrependimento só quando se viram com as
algemas da doença que não perdoa.
A principal incerteza coloca-se quanto ao fim da crise pandémica.
Esperávamos um efeito da imunidade de grupo tudo se direcionando para o fim da
pandemia quando surgem as novas variantes como a já referida. E não fica por
aqui, pois nos últimos dias, conforme noticia o Público, têm surgido notícias e burburinho sobre uma variante do SARS-CoV-2
identificada em França, a B.1.640.2, com mais de 40 mutações genéticas.
“Especialistas têm-se desdobrado a explicar que, por agora, não há motivos para
alarmismos. É para se ir vigiando, tal como acontece com outras variantes do
vírus.” Inverteu-se assim a tendência e
atrasou-se o regresso a uma melhoria da situação por que todos ansiamos, no
caminho duma normalidade que jamais será como antes de finais de 2019.
Desejamos um novo tempo. Estamos cansados de “dar tempo ao tempo”, ou até
mesmo, para os cotas como eu, de “matar o tempo”, que, aliás, não se me adapta,
porquanto sou um fervoroso adepto do “a tempo e horas” e tudo fazer “em dois
tempos”, não deixando de “ocupar o tempo”.
Muitas das minhas crónicas se têm assumido no espaço temporâneo de contextos
da espuma dos dias. Mas, quantas vezes, “de tempos a tempos” caio na tentação,
qual mania, de ir aos tempos de outrora.
Antes desta maldição da pandemia, que quase só da história conhecíamos,
retirou-nos da fase em que tudo era “a seu tempo” e que nos tempos que correm
se tornou impensável. Como refere Sandra Marques, in Vida Económica,
“Quase tudo é frenético, instantâneo, apressado, irrefletido e volátil, porque
não temos tempo a perder”.
Foi repentina a transformação verificada, e inesperada, nas nossas vidas,
com a amálgama de notícias em que nos vão surgindo aquelas que parecem boas e
são más, e outras más que podem ser excelentes.
As expetativas para 2022 colocam-se de imediato no plano político, com as
eleições de 30 de janeiro. Espera-se que as legislativas clarifiquem a situação
política e permitam criar um governo estável.
De facto, ao estarmos a atravessar uma quinta vaga da pandemia, com os
impactos e a incerteza que disso resulta, quiseram os senhores parlamentares
mergulhar-nos numa crise política e em eleições antecipadas, “por simples
recreio e regozijo da esquerda mais radical, daquela que quer fazer a revolução
na rua, com sangue e dor, mas que o Governo de António Costa escolheu como
predileta para acordos, e que alguns dos mais jacobinos no seu partido querem
manter como prioridade para futuro”, nas palavras do Jurista e Gestor, Paulo
Vaz.
É por isso que, reportando-nos ao tempo, na miscelânea de opiniões, têm
cabimento os advérbios “sempre” e “nunca”, cedências ao tempo.
Com a expetativa de arranque simultâneo do PRR e do próximo quadro
comunitário que em conjunto representam o volume mais elevado de recursos
financeiros para apoio ao investimento público e privado, desejamos que este
seja um novo tempo.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum
Covilhã”, de 19-01-2022)
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