Um vendaval de “surpresa” ocorreu nestas últimas eleições. A maioria
absoluta do PS colocou o país qual Milagre
das Rosas.
Fartos já de ouvirmos a palavra “polarização”, e outras mais do mesmo,
como no início da democracia aquelas “amplas liberdades democráticas”, a
resposta dos Portugueses não poderia ter sido melhor a penalizar aqueles que contribuíram
para o desfecho destas eleições.
Nas desculpas esfarrapadas dos (ir)responsáveis pela situação que os
próprios geraram, levaram grande parte do espaço da campanha eleitoral a bater
no ex-primeiro ministro, ao não querer apresentar alterações ao orçamento
chumbado, em vez de eleições, de que a ideia de António Costa era ter a maioria
absoluta.
Acredito que CDU e BE jamais pensariam levar a direção deste caminho, e,
logo após o chumbo do Orçamento de Estado, a fisionomia de Jerónimo de Sousa
era bem evidente. “A dirigente bloquista passou a primeira metade da campanha a
justificar a decisão da rejeição do Orçamento e a segunda metade a parecer
querer pedir desculpa por tê-lo feito”, pelo que, nas palavras de Boaventura de
Sousa Santos, coloca em dúvida a credibilidade daquela dirigente.
Agora, “O PS pode fazer o que quiser. Preparar as suas políticas e
designar os seus protagonistas. A nada está obrigado, a não ser à lei e à
democracia. À justiça e à honestidade”, segundo as palavras de António Barreto.
Estas não foram as primeiras eleições que decorreram em pandemia. No
entanto, desta vez as circunstâncias foram diferentes, com um elevado número de
infetados, bem como em isolamento profilático, que, previamente inscritos,
puderam votar os que o desejaram fazer.
Com o trambolhão enorme da CDU e o BE (pena terem deixado de ter presença
no Parlamento os históricos António Filipe e João Oliveira, que vão fazer falta
no hemiciclo), o PS deixa de ter desculpas para protelar as reformas que se
impõe realizar.
O mal de que vinha padecendo o CDS tornou-se de morte para a sua
continuidade no novo Parlamento (ele, um dos fundadores da democracia), e já
nem de partido de táxi passara a ser. Partidos de bicicleta, esses são agora o
PAN e o LIVRE, com a eleição de um único deputado.
Pois é, o povo português gosta de estabilidade e já não vai à bola com o
populismo que certas lideranças aproveitam para apregoar na estrada. No
entanto, “convém entender que a nossa democracia já está amadurecida e há
chicanas políticas que quem vota não perdoa. Logo a devido tempo lança a farpa
para agir em legítima defesa”, na interpretação de José Albano, in A Guarda.
Não podemos esquecer a extrema-direita, com o CHEGA a alcandorar-se como
terceira força política, a IL também em posição destacada, mas temos fé que o
Povo Português saberá defender a democracia, o que leva António Barreto a dizer
no seu artigo in Público, sob o título “Sem desculpas”: “O PCP e o
Bloco, que liquidaram o atual Governo, foram derrotados, o que confirma a ideia
de que Deus não dorme”.
Numa análise do Expresso, “Os mais ricos
votam mais IL, mais Bloco e mais CDU mas menos Chega. Os mais pobres preferem o
centro e penalizam os outros partidos. Onde há mais RSI, o Chega tem melhor
resultado. Mas nos concelhos mais jovens o PSD é dos que mais perde”.
O chefe do novo governo terá que ter o
entendimento do PSD para poder fazer grandes reformas uma vez que são
necessários dois terços de deputados no Parlamento. Já sem as amarras do Bloco
de Esquerda e do Partido Comunista, António Costa, nas suas inevitáveis dificuldades
deste novo governo (que sempre irão existir) decerto tudo fará para utilizar
bem a maioria absoluta a favor do crescimento e do desenvolvimento do País,
esperando-se sem cedências a clientelas e amiguismos.
É que, conforme referiu Agustina
Bessa-Luís, “O país não precisa de quem diga o que está errado: precisa de quem
saiba o que está certo”.
E, assim, António Costa, dentro de quatro
anos, poderá sonhar com Belém.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 16-02-2022)
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