6 de julho de 2022

O MANÁ

 

Não é aquele alimento caído do céu que alimentou o povo de Deus (Israelitas) no deserto. Não. Mas é o cereal que um dos maiores produtores do mundo, se não o maior, alimenta a maior parte do Planeta. Não estamos nos tempos bíblicos, mas muitas vezes como que pretendemos invocar esses momentos.

O trigo da Ucrânia, este país martirizado por uma potência diabolizada, como largas vezes referimos, está a dificultar-nos a chegada desse maná.

Se nos reportarmos à Bíblia, numa das suas narrativas, perante a fome verificada em todo o lado exceto no país do Faraó, Jacob envia os filhos ao Egipto para aí comprarem trigo e poderem viver (Gn. 42). Assim aconteceu e ali foram recebidos pelo seu irmão José que, por ter interpretado os sonhos do Faraó e propiciado uma gestão adequada do cereal recolhido nos anos de grande produção, fora elevado á categoria de chefe e governador do Egipto. A ele pertencia, por isso, conforme refere António Salvado Morgada, in A Guarda, a gestão do comércio do trigo procurado pelos povos vizinhos.

Agora, como também o mesmo refere, “o problema do comércio do trigo não se encontra na seca, mas na guerra. O trigo já terá entrado noutras guerras. Noutros lugares e templos. Sempre que há guerra, o trigo, como outros cereais, entra na guerra. Até pela sua ausência.”

Pois bem, o trigo entrando agora na guerra, tornou-se uma arma beligerante. Faz subir os preços nas padarias, chegando obviamente às nossas casas.

Esta maldita e evitável guerra da Rússia contra a Ucrânia, destrói as searas, arrasa a economia dos povos que neste cereal encontram uma das principais fontes de matar a fome.

Pena é que os senhores geradores desta guerra não sintam a falta do trigo às suas mesas e que lhes façam metralhar nos seus estômagos esta carência.

De facto, o trigo – este maná dos tempos de hoje, e de sempre – entrando na guerra, tornou-se arma de guerra. Inadmissível!

A guerra do trigo e dos cereais, acompanhando a guerra das armas, é uma guerra da fome e de outros nomes para a morte.

E é assim que já estamos numa escassez de produtos, prestes a bater às nossas portas com os industriais de panificação a sentirem os elevadíssimos preços deste cereal.

O espetro da fome paira sobre os mais pobres. Como irão ficar os países africanos?

Nesta presumível crise mundial dos cereais prenuncia uma “guerra mundial do pão”.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Notícias da Covilhã”, digital, de 07-07-2022)

 

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