Neste número trazemos as memórias do antigo combatente na
Guiné, covilhanense sobejamente conhecido, que estudou na Escola Industrial e
Comercial Campos Melo (EICCM), onde tirou o Curso Geral do Comércio e depois os
complementares, tendo aí desempenhado funções docentes como professor de
grafias e datilografia. Era então o tempo em que ainda não existiam os
computadores nem a Internet mas tornava-se imperativo para certos domínios,
nomeadamente nas empresas, no âmbito das contabilidades, os conhecimentos da
utilização das letras francesa, inglesa, a cursiva (e alguns chegavam ainda à
letra gótica).
Nasceu em 5 de dezembro do ano da graça de 1948. É casado,
tem três filhos e quatro netos.
Iniciou o serviço militar com a sua incorporação no dia 14 de
julho de 1969, no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), por obrigação, na Escola
Prática de Artilharia (EPA) em Vendas Novas, onde fez a recruta, e a
especialidade de Atirador. Terminada a especialidade, e consequentemente o CSM,
seguiu para o RAL 5, em Penafiel, no dia 5 de janeiro de 1970. Aqui, já como 1º
Cabo Miliciano, foi mobilizado para a Guiné, tendo embarcado em Lisboa, no
Uíge, em 18 de julho de 1970, tendo então já sido promovido a Furriel
Miliciano.
Chegou a Bissau onde desembarcou, tendo ficado mais de um mês
em Comuré (perto de Bissau) conjuntamente com mais companhias que, entretanto,
se juntavam. Seguiu depois para Geba onde fez a sua comissão. Aqui os pelotões
iam rodando pelos vários destacamentos, que distavam entre si, de 15 a 20
quilómetros da sede da Companhia – Geba. O Furriel Miliciano João Pereira logo
foi destacado para Sarebanda onde esteve dois meses, regressando por imposição
do Comando à sede da companhia a fim de substituir o vagomestre que não
desempenhou bem o seu cargo, tendo sido punido e passado a atirador. Daqui
beneficiou João Pereira desta substituição, que veio a desempenhar o cargo,
para o qual não estava inicialmente indicado, com toda a competência e
honestidade.
Sendo certo que a zona onde se encontrava (bastava referir-se
à Guiné) era toda perigosa, várias vezes ia fazer reabastecimentos, mormente a
Bafatá. Teve ainda a sorte de o primeiro ataque que o inimigo (IN) fez à sede
da Companhia, em Geba, se encontrar no gozo férias na Metrópole, ou seja na sua
Terra – a Covilhã.
Face às funções que então lhe haviam sido atribuídas,
passando a não sair da sede da Companhia para o mato, teve, no entanto, o
ataque do IN a um destacamento da mesma, necessitando de se socorrerem os seus
camaradas. Os que iam em socorro, pelo caminho foram emboscados, a meio do
percurso, tendo sofrido seis mortes e vários feridos graves. Nesta altura, o
Furriel João Pereira encontrava-se na sede da Companhia.
Cumpriria o seu tempo de serviço militar obrigatório,
regressando à Metrópole em 23 de junho de 1972, com passagem à disponibilidade
em 16 de julho do mesmo ano.
Na sua situação de vida civil, regressou à E.I.C.C.M, na
Covilhã para continuar a sua atividade docente, mas, após o 25 de Abril de 1974
seria colocado em várias escolas, nomeadamente Amora, Lisboa e Alverca. Em
Lisboa, na Escola Ferreira Borges, encontrou-se com o seu antigo professor de
grafias da EICCM, Joaquim Passas, passando a desempenhar a mesma função, agora
como colegas. Por volta do ano 1980 deixou o ensino, regressou à Covilhã,
ingressando no Instituto dos Têxteis. Com a sua extinção, ingressou na
Universidade da Beira Interior (UBI), onde se aposentou.
(In
“O Combatente da Estrela”, nº. 129, DEZ/2022)
Sem comentários:
Enviar um comentário