Aproximamo-nos da Quadra
Natalícia, este ano, da tarde do sábado de 24 de dezembro até à tarde de
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023, nesta sucessão de datas comemorativas que
acontecem no final do ano e início do ano gregoriano. Engloba quatro cerimónias
importantes na maioria das igrejas cristãs, sendo os eventos que ocorrem nesta
época, o dia de Natal (25 de dezembro), Ano Novo (31 de dezembro), Paz (1º de
janeiro), a Epifania do Senhor/Dias de Reis (6 de janeiro). O Natal, a Paz e a
Epifania do Senhor são duma forma geral cerimónias cristãs, sendo que as
restantes são de comemoração coletiva, quer nos crentes católicos quer noutros
não crentes. É assim que a junção destas quatro cerimónias dão origem À Quadra
Festiva ou Quadra Natalícia.
Poderia vir falar de
variadíssimos temas de que o ano 2022 foi rico, mas direcionei-me para a
vertente natalícia, tão desejoso do encontro de perspetivas de paz, de que este
período é favorável.
Conforme refere Helena Neves num
artigo no Público, de há dúzia e meia de anos, antes do Menino foi o
Sol, esta estrela que é fonte e símbolo de vida que, ciclicamente desaparecia
cada vez mais cedo no horizonte e tardava cada vez mais a nascer. O mistério
das noites tornadas mais longas inquietava os povos como ameaça à vida. Havia
sempre a esperança de que o sol crescendo de novo, sucedesse a esse tempo de
trevas teimosas que os romanos denominariam de solstício – do latim sol e
de stare, parar – de inverno, mas também o temor de que assim não fosse.
Daí os rituais de todos os lugares, desde o período do Neolítico. Apelando a um
outro ciclo de luz, porque luz é, por excelência, o símbolo da vida. Em todas
as manifestações cósmicas, a luz sucede às trevas. Por isso, o parto é
designado como “dar á luz” a vida que vem do interior, sombrio e húmido, do
corpo da mulher. Em contraste, as trevas, associadas à morte, representam um
universo misterioso, temível. É na noite que despertam os nossos medos. É neste
contexto de medos e de esperança, de ultrapassagem da terra nua e sombria para
a terra prometida, que nasce o Natal. Enraizando-se nos cultos mais remotos,
depois da Igreja instituída ter compreendido que somente integrando o
simbolismo inerente aos rituais do solstício de inverno, transformando-o num
sentido cristão, poderia neutralizar toda a energia pagã e utilizá-la na
expansão do cristianismo favorecida por condições políticas e sociais
específicas: a conversão do imperador Constantino, consagrando-o como religião
do Estado, o desenvolvimento do comércio entre os povos e o proselitismo dos
missionários, essencialmente a partir dos séculos XV e XVI, com as descobertas
e o início da colonização europeia.
Tornada impulso estratégico neste
processo, a celebração do Natal como nascimento de Cristo ultrapassaria as
fronteiras originárias pagãs e religiosas, impondo-se como uma festa universal.
A míngua dos dias levava os povos
a temerem as noites do solstício de inverno e a ascenderem fogueiras e
madeiros, chamas vivas de luz, apelando à aurora. E, finalmente, quando passava
a noite mais longa e a manhã nascia, os povos saudavam o sol. Para os judeus,
era a Festa das Luzes, e os fenícios chamavam-lhe o “Despertar de Hércules”. Em
Roma celebravam-se as saturnais, festas em honra de Saturno, deus das
sementeiras. As festas celebravam-se de 19 de dezembro a 1 de janeiro assinalando
12 dias e 14 noites, intervalados entre ciclos opostos da lua. A pressão dos
cultos pagãos e de correntes no seio da Igreja levaria, no entanto, a Igreja a
assumir como celebração o nascimento de Cristo no mundo. Mas como datá-lo? Os
textos evangélicos que o referem, os Evangelhos de S. Lucas e de S. Mateus são
omissos. S. Lucas fala dos pastores e dos seus rebanhos vindo saudar o Menino
(S. Lucas,II.8), o que obviamente se enquadra na primavera. E, efetivamente,
foram fixados o dia 25 de março, equinócio da primavera e até o dia 20 de maio.
O que não resolvia a continuidade dos rituais ancestrais. Daí que a Igreja se
aproprie de datas de interiorizado simbolismo no imaginário popular,
escolhendo-as para assinalar o nascimento de Jesus, que passa a ser festejado a
partir do século IV, depois de o cristianismo ser declarado religião oficial do
Estado pelo convertido imperador Constantino. Todavia não se verificará
unanimidade no universo cristão que se divide em duas datas. A Igreja do
Oriente escolhe para nascimento e simultaneamente para adoração dos Reis Magos
e batismo de Jesus, o 6 de janeiro, Dia da Epifania. A Igreja do Ocidente
escolhe o 25 de dezembro, nascimento de Cristo, dia fixado definitivamente em
354 pelo calendário fitocaliano, e, a partir de 379, imposto por Roma a todo o
Império. O Sol cede assim o lugar ao Menino. Santo Agostinho, admitindo,
implicitamente, a origem pagã da data natalícia, exorta os cristãos a
festejarem a 25 de dezembro não o Sol, mas aquele que criou o Sol.
Aproveito esta oportunidade para
desejar ao Fórum Covilhã as maiores felicidades para a continuidade
do seu sucesso editorial, após os seus onze anos de vida, celebração ocorrida em
29 de novembro.
Votos de um Feliz Natal para
todos os prezados Leitores do Jornal Fórum Covilhã, Diretor e todos os seus
Obreiros e Familiares.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
14-12-2022)
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