É um número redondo. São 720 meses. Não faço os cálculos às semanas, aos
dias e mesmo às horas. O suficiente. É um tempo que perdura em muitas estórias
da história das Pessoas. Mas também de uma Instituição. Pública ou de cariz privado.
Não existem instituições sem Pessoas.
Estas necessitam de ser informadas. Mas também de encontrar espaços onde
a cultura lhes abra horizontes. Em afastar aqueles défices cognitivos que a
idade não perdoa. Aquelas memórias temporariamente dissipadas.
O meu contacto com este meio da comunicação social, de âmbito regional, e
não só, sob o título de jornal “O Olhanense”, não é recente. Já tem umas
décadas.
E tudo começou na envolvente dos nossos dois Clubes, de amor às Terras
que nos viram nascer. Amor esse, seja de raiz ou mesmo de coração. Numa
dualidade da mesma letra do alfabeto – M – Montanha e Mar. Pelo lado da Montanha,
o Sporting Clube da Covilhã (SCC), do qual já fiz referência no último número
deste quinzenário. Na perigosidade dum naufrágio, na iminência de vir a
acontecer. Pela vertente do Mar, o Sporting Clube Olhanense (SCO). A sua
descida mais profunda, também referido no último número. Ambos são históricos
do futebol português. Ambos singraram pelos caminhos da I Divisão Nacional
(hoje I Liga). Ambos se defrontaram entre si, nos Campeonatos Nacionais, na
Taça Ribeiro dos Reis e na Taça de Portugal.
Mas o que estamos a comemorar nestes sessenta anos, não é exclusivamente
inerente ao SCO, pois esse, em menos de uma década completará, em dobro, o
tempo do que agora queremos enaltecer.
Queremos registar, por que não homenagear, significativamente em letras
douradas, seis décadas da vida deste quinzenário algarvio. Ininterruptamente, mesmo
no longo período da pandemia, não só transmitiu a vivência como tudo o que em
redor do seu clube se passou neste espaço temporal. Assim como trouxe para as
suas páginas, memórias e figuras da vida local. Não só de outrora, como dos
tempos que correm: artigos de opinião, notícias jurídicas, crónicas,
entrevistas, poesia, e sobre a vida da coletividade que está na génese deste
periódico. Uma publicação que tem um mentor que consegue gerir as dificuldades
emergentes do que se passa com o jornalismo regional. Há que louvar a pertinácia do Homem certo no
lugar certo. Não olhando a dificuldades. Incluindo as de saúde. E aqui, e na
tenacidade, há dual entrega do que tenho vindo a salientar – as Pessoas.
Aquelas que dão o corpo ao manifesto, como sói dizer-se. Sem opção de posarem para
a fotografia.
Mário Proença e Isidoro Silva Sousa permutaram as suas posições para
Diretor e Diretor Adjunto, respetivamente, há poucos meses. As pessoas que têm
mantido este Jornal em continuidade. Um exemplo para muitos periódicos
regionais que atingiram também metas interessantes no seu espaço temporal. Mas
não aguentaram a pressão do desenvolvimento. E então dão-se ao luxo de os
colocar gratuitos, após uma “ressurreição”, a ver se pega. Como surgiu na
cidade serrana. E, assim, é vê-los em tristes sobras. Contrastando com outro
que a Cidade já possui há 12 anos, mas com Pessoas da Terra, ou aqui radicadas,
é vê-lo crescer. Quem lê e se interessa pelos eventos mas também pela
diversificada opinião dos seus colaboradores, não está a olhar para os eruditos
da capital, mas ombreia pelos que transmitem intrinsecamente a popularidade que
lhes vai na alma.
Foi com Herculano Valente, que há 15 anos nos deixou, que eu iniciei o
meu contacto com o quinzenário “O Olhanense”. Mais por via de cartas de apreço
e de informação, e das apresentações dos meus livros. Mas também de comentários
entre as nossas duas Coletividades. A primeira referência a uma minha
publicação e carta enviada, foi inserida neste Jornal, então designado “O
Sporting Olhanense”, em 15/08/1993, a caminho dos 30 anos. Mas, sem dúvida, é
após o falecimento do Diretor Herculano Valente, que, após a minha
perplexidade, quase em jeito de despedida da continuidade em colaborar com este
excelente periódico que, pela mão do Amigo Mário Proença, que já era um grande
colaborador do Jornal, me pede para continuar, já que ao Jornal iria ser-lhe incutido
um cunho de melhoramento. E é assim que, por alvitre de Mário Proença, em
01-10-2010, surge a minha rubrica “Retratos da Beira-Serra” (atualmente “Ecos
da Beira-Serra”), onde são publicadas as minhas crónicas sobre a minha região,
na diversidade de artigos de opinião. O artigo foi então sobre “As Minas da
Panasqueira”.
Já ocupei demasiado espaço deste “nosso” Quinzenário, com a minha ligação
há quase três décadas, onde acabei por ter mais amigos daquela “Gente da nossa
Gente”.
Os meus parabéns a todos os Obreiros do Quinzenário “O Olhanense”, muito
em especial ao Homem que tem feito quase tudo por manter as suas páginas ao
serviço dos Leitores, onde a maioria tem o cunho das teclas do seu computador, estimado
Amigo Mário Proença Leonardo; e também ao bom Amigo, Isidoro Silva Sousa,
ambos, tantas vezes, em esforços hercúleos para que não acontecesse o fim.
Longa vida para o Jornal O Olhanense e que volte bem depressa a alegria
para as hostes olhanenses, para assim se poder celebrar mais um aniversário,
com a cereja em cima do bolo.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”,
de 15-05-2023)