Neste mês de maio poderia falar
de muitas coisas. Para trás ficou abril, com a data histórica do 49º
aniversário da Revolução de Abril, assinalando-se a liberdade que era
inexistente em Portugal. Persistia a teimosia da ditadura em ver partir os
jovens para a guerra subversiva. E de todos os milhares que abandonavam o País,
fugindo da miséria, a caminho da emigração, de assalto, ou de comboio com malas
de cartão.
Ficaram também as polémicas geradas
com a vinda e receção do presidente brasileiro, Lula da Silva, na Assembleia da
República Portuguesa, fruto da sua infeliz conduta sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, aquando da recente visita a este país.
Outra data importante foi
assinalada no 1.º dia de maio – O Dia do Trabalhador. Maio vem de Maia,
divindade romana que era celebrada nesta época. Deusa da terra e das flores, é
responsável pelo crescimento das plantas que nasceram na primavera. É também a
deusa romana do crescimento, mãe de Hermes ou Mercúrio. Proverbialmente, “em
maio, come a velha a cereja ao borralho”, “maio claro e ventoso, faz o ano
rendoso”, “maio frio, junho quente, bom pão, vinho valente”, e “maio que não
der trovoada, não dá coisa estimada”.
Para os católicos romanos, mormente
os portugueses, este mês é dedicado especialmente à Virgem Maria, Nossa Senhora
de Fátima, a 13 de maio, sendo que o 1º dia de maio é também o Dia de São José
Operário. E o Dia da Mãe celebra-se, em Portugal, no 1º domingo de maio. Foi em
3 de maio de 1455 que nasceu D. João II; e, muito para trás, D. Afonso III em 5
de maio de 1210. Em 13 de maio de 1699 nasceu o Marquês de Pombal, e, em 13 de
maio de 1767, D. João VI. Em 18 de maio de 1920 nasceu o papa João Paulo II. Em
31 de maio de 1469 nasceu D. Manuel I. Assinale-se, no dia 5 de maio de 1821, a
morte de Napoleão Bonaparte; e, no dia 25 de maio de 1786, a morte do rei
consorte, D. Pedro III.
Mas... deixemos o mês de maio e
vamos ao título da crónica.
Rebuscando os meus papéis, fui
encontrar num número especial do DNA de há duas décadas, mas com grande
atualidade, curiosidades sobre a origem de coisas que demoraram anos, décadas e
séculos a nascer. É que nem damos por milhares de gestos de rotinas e de
hábitos que diariamente fazemos, repetimos, ou vemos outros fazerem. Coisas que
nada nos dizem. Banalidades, trivialidades. E, no entanto... todo aquele tempo
foi necessário para que hoje possamos viver facilmente.
Noutro periódico fiz referência
ao “baluarte tecnológico e imparável que, em minutos ou segundos, se faz o que
levaria dias, meses ou anos para se conseguir”.
Os objetos e máquinas foram
sonhos perseguidos por gerações, miragens dos nossos antepassados, futurologia
há cem anos.
Pergunte-se a alguém com mais de
40/50 anos, como se vivia sem telemóvel? Sem Multibanco? Sem Internet?
Pergunte-se a um avô com mais de 65 anos: e antes da esferográfica, como se
escrevia? E como se via televisão sem um comando à distância?
O mais simples dos gestos diários
que fazemos tem na sua origem estudo, trabalho, investigação – e séculos de
escuridão. O mais banal dos produtos que usamos não existia nem se adivinhava
há 100 anos. Não se vendia em massa no tempo dos nossos avós. Raras vezes
falamos desses produtos. É tão óbvia a utilização de um telefone sem fios, que
nem nos interrogamos sobre a sua origem ou o tempo em que ele não existia. É
tão trivial usar uma máquina de fazer a barba pela manhã que não nos ocorre
perguntar de onde vem, quem a inventou. Por todo o mundo, estão a ser
inventados novos produtos, novas técnicas, que um dia usaremos corriqueiramente
sem sobre elas nos interrogarmos. Por isso, uma homenagem aos Homens e
Mulheres, e às empresas que, com os seus inventos, às vezes tão simples como um
clip, às vezes tão sofisticados como um computador, facilitaram as nossas
vidas, trouxeram comodidade, conforto, prazer ou mais tempo livre para pensar
noutros assuntos! Reconhecemos a relevância daqueles que acrescentaram algo ao
mundo em que vivemos. E também se infere que tudo isto foi feito para se viver
facilmente, mas até aqui chegar foi difícil. Por agora, e por falta de espaço,
apenas registo os detalhes de uma das invenções – o fecho-éclair. Nem
falo das calças de bombazina, nem dos “kispos” que “nasceram” por alturas da
revolução de 1974. Poderei vir a falar dos jeans, essa extraordinária invenção
que mudou o nosso modo de vestir e que não há moda nem mania que retire do
mercado. O que é que isto tem a ver com o fecho éclair? Bom, no meu tempo, as
calças só tinham botões... depois passou a usar-se o fecho-eclair e as duas
situações, até que prevaleceu a segunda opção. Deve a sua existência a
Whitcomb Judson e terá surgido em 1891. Segundo consta, o inventor estava farto
de perder tempo a calçar-se com atacadores e ouvir as mulheres queixarem-se da
morosidade em fechar os espartilhos com fitas. Judson decidiu-se a criar um
sistema alternativo em metal. Nos primeiros anos do século XX o “fecho-éclair”
ganhou forma e feitio.
Mas se a curiosidade despertar,
podemos vir a saber como foi inventado o simples clip, o fax, o antibiótico, a
ganga, as lentes de contacto, a via verde, o computador, o post-it, o ar
condicionado, o cartão multibanco, a refrigeração, o CD, as fraldas
descartáveis, o telefone sem fios, o micro-ondas, o tetra pak, o telefone
celular, a máquina de lavar roupa, a pílula, a esferográfica, a Internet, o
telecomando, a lycra, a varinha mágica, a máquina de barbear, o edredão, a
aspirina, o transístor, ou outras coisas mais.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
10-05-2023)
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