11 de maio de 2023

COMO FOI DIFÍCIL PARA HOJE SE VIVER FACILMENTE




Neste mês de maio poderia falar de muitas coisas. Para trás ficou abril, com a data histórica do 49º aniversário da Revolução de Abril, assinalando-se a liberdade que era inexistente em Portugal. Persistia a teimosia da ditadura em ver partir os jovens para a guerra subversiva. E de todos os milhares que abandonavam o País, fugindo da miséria, a caminho da emigração, de assalto, ou de comboio com malas de cartão.

Ficaram também as polémicas geradas com a vinda e receção do presidente brasileiro, Lula da Silva, na Assembleia da República Portuguesa, fruto da sua infeliz conduta sobre a  invasão da Ucrânia pela  Rússia, aquando da recente visita a este país.

Outra data importante foi assinalada no 1.º dia de maio – O Dia do Trabalhador. Maio vem de Maia, divindade romana que era celebrada nesta época. Deusa da terra e das flores, é responsável pelo crescimento das plantas que nasceram na primavera. É também a deusa romana do crescimento, mãe de Hermes ou Mercúrio. Proverbialmente, “em maio, come a velha a cereja ao borralho”, “maio claro e ventoso, faz o ano rendoso”, “maio frio, junho quente, bom pão, vinho valente”, e “maio que não der trovoada, não dá coisa estimada”.

Para os católicos romanos, mormente os portugueses, este mês é dedicado especialmente à Virgem Maria, Nossa Senhora de Fátima, a 13 de maio, sendo que o 1º dia de maio é também o Dia de São José Operário. E o Dia da Mãe celebra-se, em Portugal, no 1º domingo de maio. Foi em 3 de maio de 1455 que nasceu D. João II; e, muito para trás, D. Afonso III em 5 de maio de 1210. Em 13 de maio de 1699 nasceu o Marquês de Pombal, e, em 13 de maio de 1767, D. João VI. Em 18 de maio de 1920 nasceu o papa João Paulo II. Em 31 de maio de 1469 nasceu D. Manuel I. Assinale-se, no dia 5 de maio de 1821, a morte de Napoleão Bonaparte; e, no dia 25 de maio de 1786, a morte do rei consorte, D. Pedro III.

Mas... deixemos o mês de maio e vamos ao título da crónica.

Rebuscando os meus papéis, fui encontrar num número especial do DNA de há duas décadas, mas com grande atualidade, curiosidades sobre a origem de coisas que demoraram anos, décadas e séculos a nascer. É que nem damos por milhares de gestos de rotinas e de hábitos que diariamente fazemos, repetimos, ou vemos outros fazerem. Coisas que nada nos dizem. Banalidades, trivialidades. E, no entanto... todo aquele tempo foi necessário para que hoje possamos viver facilmente.

Noutro periódico fiz referência ao “baluarte tecnológico e imparável que, em minutos ou segundos, se faz o que levaria dias, meses ou anos para se conseguir”.

Os objetos e máquinas foram sonhos perseguidos por gerações, miragens dos nossos antepassados, futurologia há cem anos.

Pergunte-se a alguém com mais de 40/50 anos, como se vivia sem telemóvel? Sem Multibanco? Sem Internet? Pergunte-se a um avô com mais de 65 anos: e antes da esferográfica, como se escrevia? E como se via televisão sem um comando à distância?

O mais simples dos gestos diários que fazemos tem na sua origem estudo, trabalho, investigação – e séculos de escuridão. O mais banal dos produtos que usamos não existia nem se adivinhava há 100 anos. Não se vendia em massa no tempo dos nossos avós. Raras vezes falamos desses produtos. É tão óbvia a utilização de um telefone sem fios, que nem nos interrogamos sobre a sua origem ou o tempo em que ele não existia. É tão trivial usar uma máquina de fazer a barba pela manhã que não nos ocorre perguntar de onde vem, quem a inventou. Por todo o mundo, estão a ser inventados novos produtos, novas técnicas, que um dia usaremos corriqueiramente sem sobre elas nos interrogarmos. Por isso, uma homenagem aos Homens e Mulheres, e às empresas que, com os seus inventos, às vezes tão simples como um clip, às vezes tão sofisticados como um computador, facilitaram as nossas vidas, trouxeram comodidade, conforto, prazer ou mais tempo livre para pensar noutros assuntos! Reconhecemos a relevância daqueles que acrescentaram algo ao mundo em que vivemos. E também se infere que tudo isto foi feito para se viver facilmente, mas até aqui chegar foi difícil. Por agora, e por falta de espaço, apenas registo os detalhes de uma das invenções – o fecho-éclair. Nem falo das calças de bombazina, nem dos “kispos” que “nasceram” por alturas da revolução de 1974. Poderei vir a falar dos jeans, essa extraordinária invenção que mudou o nosso modo de vestir e que não há moda nem mania que retire do mercado. O que é que isto tem a ver com o fecho éclair? Bom, no meu tempo, as calças só tinham botões... depois passou a usar-se o fecho-eclair e as duas situações, até que prevaleceu a segunda opção. Deve a sua existência a Whitcomb Judson e terá surgido em 1891. Segundo consta, o inventor estava farto de perder tempo a calçar-se com atacadores e ouvir as mulheres queixarem-se da morosidade em fechar os espartilhos com fitas. Judson decidiu-se a criar um sistema alternativo em metal. Nos primeiros anos do século XX o “fecho-éclair” ganhou forma e feitio.

Mas se a curiosidade despertar, podemos vir a saber como foi inventado o simples clip, o fax, o antibiótico, a ganga, as lentes de contacto, a via verde, o computador, o post-it, o ar condicionado, o cartão multibanco, a refrigeração, o CD, as fraldas descartáveis, o telefone sem fios, o micro-ondas, o tetra pak, o telefone celular, a máquina de lavar roupa, a pílula, a esferográfica, a Internet, o telecomando, a lycra, a varinha mágica, a máquina de barbear, o edredão, a aspirina, o transístor, ou outras coisas mais.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 10-05-2023)

 

 

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