4 de maio de 2023

AMIGOS EM CASTELO BRANCO


 

Ao longo de quase quatro décadas da minha última atividade profissional que abracei, reportada entre 1973 e 2012, deixando para trás outras após ter terminado o serviço militar obrigatório em 1971, grande parte da mesma teve passagens marcantes no distrito de Castelo Branco. Muitas vezes pernoitei nesta cidade, no regresso da visita comercial aos concelhos de Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei, já que Oleiros e Vila Velha de Ródão ficavam para outra volta. Já nas deslocações a Penamacor e Idanha-a-Nova, nesta última recordo, com o agente de Idanha, António Catana, várias visitas pelas freguesias do concelho, entre gente boa, humilde, de muitos anciãos numa altura de forte iliteracia, assim como conheci as grandes propriedades onde crescia o trigo, o centeio, a aveia e o tabaco, como a do Marquês da Graciosa. Em Alcains, era forçoso visitar o sempre sorridente e simpático Amável Barata Castilho, que já nos deixou, e que gostava de me oferecer laranjas do seu quintal.

Era ainda o tempo em que não havia telemóveis. Um furo num pneu ou uma avaria no automóvel, tinha de haver o desenrascanço.  Ainda não havia a assistência em viagem no seguro automóvel.  E, mesmo este seguro, ainda não era obrigatório, assim como a colocação do cinto de segurança. Outros tempos que dariam muitas estórias para contar da história de vida de cada um de nós. Os contactos telefónicos só por via de cabines telefónicas instaladas nalguns estabelecimentos comerciais, geralmente os cafés.

Mas faziam-se muito amigos, quer por via da vida profissional, quer pelos casos de velhas amizades encontradas.

Em Castelo Branco, durante vários anos, confraternizava nas noites do meu pernoitamento, com o amigo covilhanense, João José Dias Tomás, radicado nos Maxiais, onde casou.

Certamente que alguns dos que lerem esta crónica se recordarão dos tempos em que dei formação nesta cidade a vários candidatos a agentes de seguros, os levei a exame por exigências regulamentares da altura, com a consolação de sucesso na aprovação de todos perante o júri da capital.

Há dias, em contacto telefónico com o amigo albicastrense Luís Vicente Barroso, que, no futebol, como guardião, defendeu as cores do Desportivo e do Benfica de Castelo Branco, irmão de outro amigo já falecido – o Ludgero, que pertenceram aos quadros da empresa J. Castanheira, Lda, onde fazia o meu “quartel-general”, fiquei contente em saber que tem visto as suas antigas colegas Maria do Rosário, Maria dos Anjos e Madalena, com as quais contactava aquando da visita àquela empresa. Pedi lhes apresentasse os meus cumprimentos. É que, na Reconquista, vou tendo conhecimento de algumas pessoas amigas, ou de antigos contactos comerciais, que já partiram do mundo dos vivos. Há poucos anos foi o saudoso amigo José Maria Ventura da Silva Balonas, que depois passou a representar a Lusa em Castelo Branco. Foi ele que diligenciou a publicação na Reconquista, em 22 de maio de 1992, da notícia dum dos meus primeiros livros.

Tive contactos iniciais aquando da instalação da empresa Centauro, em Castelo Branco, por intermédio do já falecido sócio José Castanheira, onde conheci também o sócio Henrique. Tudo se passou há algumas décadas. Soube que o empresário Manuel Ramos Tomás e seus irmãos, também já cá não estão, como destino normal da vida neste planeta.

Da extinta empresa J. Valente & Irmãos, C.I., SARL, tive conhecimento através deste semanário, na necrologia, do desaparecimento de antigos funcionários como Maria do Céu Moreno Pires e Augusto Cravo Dias, para além de vários sócios desta empresa. Memorizei no meu livro DA MONTANHA AO VALE, alguns extratos da minha vivência profissional, no seio albicastrense, duma forma romanesca.

Aqui vão alguns deles que se reportam a personagens reais, no âmbito daquela minha facto-ficção.

“Entrámos na Belar, onde tomámos café e logo aí encontrámos dois amigos – o António Rosário Augusto e o Eduardo Fernandes – a quem informámos o porquê deste grande grupo. O António Augusto ia almoçar ao Kalifa e o Eduardo ao Palitão. O Joaquim Almeida, proprietário do Hotel Covilhã-Jardim disse: Isto tudo fecha!... Antigamente havia aqui o Arcádia, o Lusitânia, o Cine-Bar, o Café Avenida... o Avis...

- Bom, o Avis ainda existe, mas agora como restaurante – replicou o António Augusto.  E

acrescentou: mas vocês na Covilhã também viram fechar o Montalto, o Café Leitão, o Danúbio. Vá lá, ainda lá se mantém o Primor...

- Mas em Castelo Branco podemos encontrar-nos para uns bons petiscos na Marisqueira do Carlos, ou então nas tasquinhas... – disse o Eduardo. Temos a Tasca O Avião e a Tasca do Relógio (ou Tasca do Amândio, como é mais conhecida) – acrescentou o António Augusto.

Os tertulianos da Covilhã despediram-se dos amigos albicastrenses, ainda entraram no Palmeiras e depois dirigiram-se para o Fórum onde alguns desejavam fazer compras, principalmente calçado para as caminhadas. Aqui no Fórum, voltaram a encontrar o António Rosário Augusto, nome sobejamente conhecido dos albicastrenses e não só, pela sua envolvência em vários organismos chegando a ser vereador do Município de Castelo Branco. Andava acompanhado da esposa, a Isabelinha. Perguntámos-lhes por um restaurante perto e fomos dar ao Bifanas & Cª., no Parque Industrial. No final do almoço ainda passámos pela Padaria-Pastelaria Montalvão onde alguns voltaram a tomar café e adquiriram doces regionais. Aí encontraram o Luís Nisa, agente de seguros, que a todos nos veio cumprimentar. E casualmente surgiu o Eduardo Fernandes, major do Exército aposentado, e a esposa, a Deolinda, ele que esteve com o António Augusto no serviço militar em Timor.

E assim terminou o dia de convívio, em Castelo Branco, com as tertúlias covilhanenses, do Hotel Covilhã-Jardim, e do Celso”.

Muito mais haveria para contar mas ficará para outro ocasião, se a oportunidade surgir.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Reconquista”, de 04-05-2023)

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