Ao longo de quase quatro décadas
da minha última atividade profissional que abracei, reportada entre 1973 e
2012, deixando para trás outras após ter terminado o serviço militar
obrigatório em 1971, grande parte da mesma teve passagens marcantes no distrito
de Castelo Branco. Muitas vezes pernoitei nesta cidade, no regresso da visita
comercial aos concelhos de Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei, já que Oleiros e
Vila Velha de Ródão ficavam para outra volta. Já nas deslocações a Penamacor e
Idanha-a-Nova, nesta última recordo, com o agente de Idanha, António Catana, várias
visitas pelas freguesias do concelho, entre gente boa, humilde, de muitos
anciãos numa altura de forte iliteracia, assim como conheci as grandes
propriedades onde crescia o trigo, o centeio, a aveia e o tabaco, como a do Marquês
da Graciosa. Em Alcains, era forçoso visitar o sempre sorridente e simpático
Amável Barata Castilho, que já nos deixou, e que gostava de me oferecer laranjas
do seu quintal.
Era ainda o tempo em que não
havia telemóveis. Um furo num pneu ou uma avaria no automóvel, tinha de haver o
desenrascanço. Ainda não havia a
assistência em viagem no seguro automóvel. E, mesmo este seguro, ainda não era
obrigatório, assim como a colocação do cinto de segurança. Outros tempos que
dariam muitas estórias para contar da história de vida de cada um de nós. Os
contactos telefónicos só por via de cabines telefónicas instaladas nalguns
estabelecimentos comerciais, geralmente os cafés.
Mas faziam-se muito amigos, quer
por via da vida profissional, quer pelos casos de velhas amizades encontradas.
Em Castelo Branco, durante vários
anos, confraternizava nas noites do meu pernoitamento, com o amigo
covilhanense, João José Dias Tomás, radicado nos Maxiais, onde casou.
Certamente que alguns dos que
lerem esta crónica se recordarão dos tempos em que dei formação nesta cidade a
vários candidatos a agentes de seguros, os levei a exame por exigências
regulamentares da altura, com a consolação de sucesso na aprovação de todos
perante o júri da capital.
Há dias, em contacto telefónico
com o amigo albicastrense Luís Vicente Barroso, que, no futebol, como guardião,
defendeu as cores do Desportivo e do Benfica de Castelo Branco, irmão de outro
amigo já falecido – o Ludgero, que pertenceram aos quadros da empresa J.
Castanheira, Lda, onde fazia o meu “quartel-general”, fiquei contente em saber
que tem visto as suas antigas colegas Maria do Rosário, Maria dos Anjos e
Madalena, com as quais contactava aquando da visita àquela empresa. Pedi lhes
apresentasse os meus cumprimentos. É que, na Reconquista, vou tendo conhecimento de
algumas pessoas amigas, ou de antigos contactos comerciais, que já partiram do
mundo dos vivos. Há poucos anos foi o saudoso amigo José Maria Ventura da Silva
Balonas, que depois passou a representar a Lusa em Castelo Branco. Foi ele que
diligenciou a publicação na Reconquista, em 22 de maio de 1992, da notícia dum dos
meus primeiros livros.
Tive contactos iniciais aquando da instalação da empresa Centauro, em
Castelo Branco, por intermédio do já falecido sócio José Castanheira, onde
conheci também o sócio Henrique. Tudo se passou há algumas décadas. Soube que o
empresário Manuel Ramos Tomás e seus irmãos, também já cá não estão, como destino
normal da vida neste planeta.
Da extinta empresa J. Valente & Irmãos, C.I., SARL, tive
conhecimento através deste semanário, na necrologia, do desaparecimento de
antigos funcionários como Maria do Céu Moreno Pires e Augusto Cravo Dias, para
além de vários sócios desta empresa. Memorizei no meu livro DA MONTANHA AO VALE, alguns extratos da minha vivência
profissional, no seio albicastrense, duma forma romanesca.
Aqui vão alguns deles que se reportam a personagens reais, no âmbito
daquela minha facto-ficção.
“Entrámos na Belar, onde tomámos café e logo aí encontrámos dois amigos
– o António Rosário Augusto e o Eduardo Fernandes – a quem informámos o porquê
deste grande grupo. O António Augusto ia almoçar ao Kalifa e o Eduardo ao
Palitão. O Joaquim Almeida, proprietário do Hotel Covilhã-Jardim disse: Isto
tudo fecha!... Antigamente havia aqui o Arcádia, o Lusitânia, o Cine-Bar, o
Café Avenida... o Avis...
- Bom, o Avis ainda existe, mas agora como restaurante – replicou o
António Augusto. E
acrescentou: mas vocês na Covilhã também viram fechar o Montalto, o
Café Leitão, o Danúbio. Vá lá, ainda lá se mantém o Primor...
- Mas em Castelo Branco podemos encontrar-nos para uns bons petiscos na
Marisqueira do Carlos, ou então nas tasquinhas... – disse o Eduardo. Temos a
Tasca O Avião e a Tasca do Relógio (ou Tasca do Amândio, como é mais conhecida)
– acrescentou o António Augusto.
Os tertulianos da Covilhã despediram-se dos amigos albicastrenses,
ainda entraram no Palmeiras e depois dirigiram-se para o Fórum onde alguns
desejavam fazer compras, principalmente calçado para as caminhadas. Aqui no
Fórum, voltaram a encontrar o António Rosário Augusto, nome sobejamente
conhecido dos albicastrenses e não só, pela sua envolvência em vários
organismos chegando a ser vereador do Município de Castelo Branco. Andava
acompanhado da esposa, a Isabelinha. Perguntámos-lhes por um restaurante perto
e fomos dar ao Bifanas & Cª., no Parque Industrial. No final do almoço
ainda passámos pela Padaria-Pastelaria Montalvão onde alguns voltaram a tomar
café e adquiriram doces regionais. Aí encontraram o Luís Nisa, agente de
seguros, que a todos nos veio cumprimentar. E casualmente surgiu o Eduardo
Fernandes, major do Exército aposentado, e a esposa, a Deolinda, ele que esteve
com o António Augusto no serviço militar em Timor.
E assim terminou o dia de convívio, em Castelo Branco, com as tertúlias
covilhanenses, do Hotel Covilhã-Jardim, e do Celso”.
Muito mais haveria para contar mas ficará para outro ocasião, se a
oportunidade surgir.
João de Jesus Nunes
(In “Reconquista”, de 04-05-2023)
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