A Beira Baixa, onde se insere o distrito de Castelo Branco e o concelho
da Covilhã, veria, um pouco mais tarde, o nascimento de vários clubes. Era a
ansiedade de desenvolver o desporto que começava a abraçar multidões. Outras
regiões já o praticavam. O seu alvorecer situou-se por aqui dentro das duas
primeiras décadas do século XX. Após a realização de alguns jogos de exibição durante
a década de 10, seria no início dos anos 20 que o futebol ganharia mais
projeção na região. Motivou assim a criação dos primeiros clubes. Na maioria dos
casos tiveram uma vida efémera. Faltavam estruturas e organização que
garantissem a longevidade das coletividades. Com o decorrer dos anos 20, o
“desporto-rei” afirmou-se definitivamente em toda a Beira Interior. Começou a
sentir-se a necessidade de “internacionalizar” as partidas. A proximidade com
Espanha assim o permitia. Passaram assim
a serem usuais as partidas amigáveis entre equipas da Beira e da Extremadura
espanhola, em inícios dos anos 30. Por volta de 1935, o futebol na região
beirã, em especial na Cova da Beira, beneficiou com a criação da Federação dos
Clubes Desportivos da Covilhã e Tortosendo. Este órgão passou a regular as
relações entre os clubes locais. Criou-se
um ambiente propício a visitas de equipas importantes de outras regiões. Nessa
altura, a 22 de março de 1936 surgiria a Associação de Futebol de Castelo
Branco. Organizaria então o primeiro campeonato regional logo na temporada
seguinte. Foi uma prova em que o Sporting da Covilhã foi imbatível. Iria vencer todas as onze edições. E seriam
os serranos a primeira equipa beirã a militar na I Divisão Nacional. Estrearam-se
na prova em 1948/49 graças à conquista da II Divisão em 1947/48. Evidencio
apenas os Clubes que se mantiveram durante mais tempo, até aos dias de hoje, como
o Sporting Clube da Covilhã. Foi fundado em 2 de junho de 1923, sendo a 8ª
filial do Sporting Clube de Portugal. O Sport Benfica e Castelo Branco, fundado
em 24 de março de 1924 é a 7ª filial do Benfica. E o Sport Tortosendo e Benfica, fundado em 1
de janeiro de 1925, é a sua 4ª filial. No entanto reporta-se a 31 de janeiro de
1922 com a designação de Tortosendo Sport Clube, dispensando-me de referenciar
nomes anteriores que lhe deram a sua origem, assim como ao Sport Benfica e
Castelo Branco.
Se verificarmos nas modernas estruturas que gerem o futebol, constatamos que
o envolvimento das pessoas no fenómeno, abarca todas as condições e estratos
sociais. Há até quem afirme, “ser um estádio de futebol, o único sítio onde
se esbatem as diferenças entre as várias classes sociais.” É assim o lugar
onde toda a gente é verdadeiramente igual, precisamente num jogo de futebol. A
enorme amálgama que se cria entre uma multidão que assiste a um jogo,
impossibilita distinguir entre um abastado industrial e um humilde operário. Na
Beira Baixa isso também sempre aconteceu.
Cenas interessantes do fenómeno desportivo ocorridas em Castelo Branco. No
dia 9 de junho de 1929, “O jogo entre a Associação Académica Albicastrense e o
Sport Lisboa e Castelo Branco terminou trinta minutos depois de iniciado por
ter rebentado a bola e não haver outra para a substituir”.
Aquando da inauguração do Campo de
Futebol do Vale do Romeiro, em Castelo Branco, em setembro de 1956, ocorreram dois
jogos de futebol com atribuição de duas taças: uma seria resultante do encontro
entre o Sacavenense e o Benfica de Castelo Branco, ganha pelos albicastrenses.
A segunda taça caberia ao desfecho do encontro entre o Sporting da Covilhã e o
Sport Lisboa e Benfica, ambos da I Divisão.
Nessa altura ainda não havia os meios rápidos de gravar o nome do
vencedor na taça, pelo que os responsáveis do clube albicastrense, na presunção
de que o vencedor seria à partida o Benfica, logo fizeram uma chapinha para
colocar na taça do vencedor, com o nome do Benfica. Só que o vencedor foi o Sporting
da Covilhã. Ganhou o encontro por 1- 0,
com o resultado feito no minuto inicial da primeira parte (in jornal “A
Bola”, de 3-9-1956, golo marcado por Suarez).
Deu-se então uma demora prolongada na respetiva cerimónia, motivada por
ter sido necessário que um técnico de ourivesaria da Cidade fizesse, a toda a
pressa, uma nova “chapinha”, então com o nome do Sporting Clube da Covilhã. O
sucedido foi motivo de imensa graça, não totalmente isenta de piadas. Segundo uma
testemunha que assistiu a este jogo, ainda recentemente recordou a cena, com o
muito tempo de espera para fazer entrega da taça.
Embora houvesse alguns ventos e marés nos jogos entre serramos e
albicastrenses, fruto do entusiasmo de dérbis, os clubes e seus dirigentes
sempre foram amigos, como beirões de gema.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de
01-02-2024)
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