1 de fevereiro de 2024

QUANDO O FUTEBOL CHEGOU À BEIRA BAIXA

 


O distrito de Portalegre é um dos que faz parcialmente fronteira com o de Castelo Branco. Aquele distrito alentejano surge na vanguarda da implantação do futebol no nosso país. A sua   Associação de Futebol, conjuntamente com as de Lisboa e Porto, vieram dar origem à criação da União Portuguesa de Futebol, em 31-03-1914. Em 28-05-1926 daria lugar à atual designação de Federação Portuguesa de Futebol.

A Beira Baixa, onde se insere o distrito de Castelo Branco e o concelho da Covilhã, veria, um pouco mais tarde, o nascimento de vários clubes. Era a ansiedade de desenvolver o desporto que começava a abraçar multidões. Outras regiões já o praticavam. O seu alvorecer situou-se por aqui dentro das duas primeiras décadas do século XX. Após a realização de alguns jogos de exibição durante a década de 10, seria no início dos anos 20 que o futebol ganharia mais projeção na região. Motivou assim a criação dos primeiros clubes. Na maioria dos casos tiveram uma vida efémera. Faltavam estruturas e organização que garantissem a longevidade das coletividades. Com o decorrer dos anos 20, o “desporto-rei” afirmou-se definitivamente em toda a Beira Interior. Começou a sentir-se a necessidade de “internacionalizar” as partidas. A proximidade com Espanha assim o permitia.  Passaram assim a serem usuais as partidas amigáveis entre equipas da Beira e da Extremadura espanhola, em inícios dos anos 30. Por volta de 1935, o futebol na região beirã, em especial na Cova da Beira, beneficiou com a criação da Federação dos Clubes Desportivos da Covilhã e Tortosendo. Este órgão passou a regular as relações entre os clubes locais.  Criou-se um ambiente propício a visitas de equipas importantes de outras regiões. Nessa altura, a 22 de março de 1936 surgiria a Associação de Futebol de Castelo Branco. Organizaria então o primeiro campeonato regional logo na temporada seguinte. Foi uma prova em que o Sporting da Covilhã foi imbatível.  Iria vencer todas as onze edições. E seriam os serranos a primeira equipa beirã a militar na I Divisão Nacional. Estrearam-se na prova em 1948/49 graças à conquista da II Divisão em 1947/48. Evidencio apenas os Clubes que se mantiveram durante mais tempo, até aos dias de hoje, como o Sporting Clube da Covilhã. Foi fundado em 2 de junho de 1923, sendo a 8ª filial do Sporting Clube de Portugal. O Sport Benfica e Castelo Branco, fundado em 24 de março de 1924 é a 7ª filial do Benfica.  E o Sport Tortosendo e Benfica, fundado em 1 de janeiro de 1925, é a sua 4ª filial. No entanto reporta-se a 31 de janeiro de 1922 com a designação de Tortosendo Sport Clube, dispensando-me de referenciar nomes anteriores que lhe deram a sua origem, assim como ao Sport Benfica e Castelo Branco.

Se verificarmos nas modernas estruturas que gerem o futebol, constatamos que o envolvimento das pessoas no fenómeno, abarca todas as condições e estratos sociais. Há até quem afirme, “ser um estádio de futebol, o único sítio onde se esbatem as diferenças entre as várias classes sociais.” É assim o lugar onde toda a gente é verdadeiramente igual, precisamente num jogo de futebol. A enorme amálgama que se cria entre uma multidão que assiste a um jogo, impossibilita distinguir entre um abastado industrial e um humilde operário. Na Beira Baixa isso também sempre aconteceu.

Cenas interessantes do fenómeno desportivo ocorridas em Castelo Branco. No dia 9 de junho de 1929, “O jogo entre a Associação Académica Albicastrense e o Sport Lisboa e Castelo Branco terminou trinta minutos depois de iniciado por ter rebentado a bola e não haver outra para a substituir”.

 Aquando da inauguração do Campo de Futebol do Vale do Romeiro, em Castelo Branco, em setembro de 1956, ocorreram dois jogos de futebol com atribuição de duas taças: uma seria resultante do encontro entre o Sacavenense e o Benfica de Castelo Branco, ganha pelos albicastrenses. A segunda taça caberia ao desfecho do encontro entre o Sporting da Covilhã e o Sport Lisboa e Benfica, ambos da I Divisão.

Nessa altura ainda não havia os meios rápidos de gravar o nome do vencedor na taça, pelo que os responsáveis do clube albicastrense, na presunção de que o vencedor seria à partida o Benfica, logo fizeram uma chapinha para colocar na taça do vencedor, com o nome do Benfica. Só que o vencedor foi o Sporting da Covilhã.  Ganhou o encontro por 1- 0, com o resultado feito no minuto inicial da primeira parte (in jornal “A Bola”, de 3-9-1956, golo marcado por Suarez).

Deu-se então uma demora prolongada na respetiva cerimónia, motivada por ter sido necessário que um técnico de ourivesaria da Cidade fizesse, a toda a pressa, uma nova “chapinha”, então com o nome do Sporting Clube da Covilhã. O sucedido foi motivo de imensa graça, não totalmente isenta de piadas. Segundo uma testemunha que assistiu a este jogo, ainda recentemente recordou a cena, com o muito tempo de espera para fazer entrega da taça.

Embora houvesse alguns ventos e marés nos jogos entre serramos e albicastrenses, fruto do entusiasmo de dérbis, os clubes e seus dirigentes sempre foram amigos, como beirões de gema.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “O Olhanense”, de 01-02-2024)

 


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